segunda-feira, 20 de julho de 2009
DESAFIO JURIDICO
Uma entidade estatal tem um contrato de prestação de serviços com uma empresa privada que tem a sua sede a cerca de 50 Kms de distância do local da prestação de serviços, sendo estes executados por empregados residentes na área da primeira entidade. Impondo-se a abertura de concurso público para renovação daquele contrato, a prestadora de serviços apresenta proposta de valor 60% superior à base apresentada e que vigorou até então. A primeira entidade decide rescindir o contrato e optar por um protocolo com o IEFP conseguindo assim a mesma prestação de trabalho pelo valor do ano anterior. A empresa de subcontratação que detém todas as responsabilidades jurídicas impostas pelo CCT relativamente aos empregados não aceita a rescisão e remete para a entidade contratante as responsabilidades decorrentes da rescisão, sendo que as funcionárias não estão na disposição de mudar a área de trabalho para cerca de 50 Kms de distância. A questão é: tem a entidade contratante algum motivo para temer a sua responsabilização neste caso?
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Não interfiro. Quero ver como fico todo partidinho. Estilhaçado lá em baixo. Tiro a tiro, não me desvio.
Talvez a única forma de evitar o eterno retorno seja mudar de vontade. E como é possivel mudar de vontade sem que a razão da mudança não vise apenas conseguir o que a anterior não conseguiu? Como evitar que a mudança não se traduza apenas na procura daquilo que se quer e ainda não se encontrou? E se tal não for possível, é então garantido que mesmo mudando cometeremos os mesmos erros, porque a mudança foi motivada pela mesma vontade e mantém-se por isso o pressuposto, e logicamente a falha, uma vez que a vontade está errada e ainda que se concretize não pode trazer nada, que não seja o retorno ao inicio de algo próximo à ultima procura. Devemos então querer outras coisas nas coisas que já temos? Mas porque queremos? E que merda queres tu afinal? Eu, oh pá apenas um dia de praia Nietzsche, um fdp de um dia de praia pá, mas que seja um eterno retorno, estás a ver, sento-me lá e estou sempre lá, é difícil?! Fogo.
domingo, 19 de julho de 2009
Enquanto Saphou, a forma efêmera, se rebola nas melancias,
o Ser de Saphou, deixado para trás, indica o caminho da libertação:
-não resistência
-não julgamento
-não apego
Isto é o que a forma efêmera de Saphou todos os dias esquece, fazendo merda atrás de merda até estar atolada.
-não resistência
-não julgamento
-não apego
Isto é o que a forma efêmera de Saphou todos os dias esquece, fazendo merda atrás de merda até estar atolada.
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Ser de Saphou
Saphou, ausente
no Ladoeiro, no festival da melancia, para compensar o melão de ontem. Paticipo em todas as actividades, não me quero atrasar para a alvorada com os bombos. Partilho com os visitantes o meu dia, porque sou boazinha. Estou especialmente interessada nos jogos radicais com melancias e no campeonato de escultura de melancia. Desconfio das cavalhadas com burros.
Alvorada com Bombos
8h30 – Inicio do 1º “Passeio dos Amigos por Terras da Melancia” a cavalo e em charretes (Concentração no Recinto da Feira Raiana em Idanha-a-Nova)
10h00 – Abertura do recinto da Feira tradicional de produtos regionais e venda de melancias pelos produtores, abertura das tasquinhas com musica tradicional.
12h00– Chegada do 1º “Passeio dos Amigos por Terras da Melancia”
13h00 – Almoço com produtores, armazenistas e restantes convidados
14h30 – Jogos tradicionais e radicais (com melancias), insufláveis e jogos p/ crianças.
16h00 – Cavalhadas com burros
17h00- Início do IV campeonato de Escultura em melancia
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melões e melancias
sábado, 18 de julho de 2009
Eles e Eu
Ela, em Nova Iorque, acorda-me:- Mamã, tens que falar rápido porque este telemóvel não é meu, o meu ficou sem bateria e não consigo ver o pin do cartão de crédito que me emprestaste e não me lembro qual é, e estava no telemóvel, diz rápido que estou na fila para pagar e não posso gastar muito dinheiro na chamada. Viemos fazer umas comprinhas em Nova Iorque antes de ir para o avião. Rápido, por favor. Espero que não compre o vírus, resmunguei entre dentes.
Ele, no Festival Super Bock Super Rock em Lisboa, porque as bandas que actuaram no Porto não prestam e no único dia em que interessava ver o Marés Vivas em V.N.Gaia ninguém do grupo esteve para isso. Terá piada se adormecer no comboio à vinda e se esquecer de tirar as lentes...Recusou-se a levar o desinfectante que o Ministério da Saúde aconselha, por não ter sítio onde o colocar, muito menos máscaras, ninguém vai de máscara para um concerto. Recusou-se a dormir no Estoril na casa do primo Leonardo, com direito a tratamento VIP, porque o grupo não estava interessado em acampar lá. Preferem dormir no comboio, à vinda, directamente do concerto.
Eu parti o dedo mindinho do pé, ou coisa que o valha, logo após acordar com o telefonema dela, tipo barata tonta à procura do meu telemóvel, que estava desligado e sem bateria e onde tinha o pin do cartão de crédito que também não sei de cor (respirar), com uma monumental topada no desumidificador que ando há meses a dizer que tem que ir para o lixo. Retida em casa com uma telha desgraçada, com TPM e impossibilidade de me calçar, dado o tamanho atingido pelo dedo, ouço dois sons que muito me aprazem: o cão do vizinho a uivar e o farol a indicar o nevoeiro. Estão em despique.
O progenitor deles, em estado de semi-coma, com o sorriso alegre do pateta satisfeito, porque deu uma conferência toda a manhã sobre o estatuto dos desportistas ou do raio-que-os-parta, depois de uma directa a preparar a dita, quando já não tem idade para essas merdas.
Não suporto os três fs, MESMO. O meu ego está no auge, hoje não há Eckart Tolle que o controle, até tenho na cabeça um texto sobre o Zézinho Pinto de Sousa, a quem tudo acontece também, até a sua ASAE do coração pode ser inconstitucional. Vamos os dois à bruxa. Mas hoje não, que não posso andar.
O Privada pirou-se com os Scorpions e nem me trouxe uma T-shirt. Foi contratado pela banda para tocar ferrinhos electrónicos.
Adeus que tenho pressa, vão sendo horas de cozinhar o jantar romântico para uma pessoa só, que coincide com a cozinheira.
....
P.S. Lá foi o romantismo, não há jantar romântico que resista a arroz queimado, que acabei de esturricar graças à inspiração do post. Como uma sopa de tomate, ou duas, com croutons, faxavor. E emborco três gelados, dos grandes. Até a porcaria da manga, que ia laminar, está incomestível. Agradeço dois Benurons com a infusão de ervas que remata a jantarada.
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Eu
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Assim, de repente, os três momentos melhores da sua vida, é o desafio
Saphou
Gold: ele entrou no meu quarto, já não namorávamos (por culpa minha que carrego até hoje, ou da educação restrita com que me lavaram os miolos, recriminando-me e recriminando a minha mãe, em vez de sentir compaixão pela ignorância, minha e dela, esquecendo o ensinamento budista de que o passado não existe a não ser nos nossos pensamentos e emoções que o tornam presente vezes sem conta). Conversámos apenas. Tinha ido a Fátima e falou-me do que viu e sentiu. Disse que ali havia qualquer coisa de inexplicável, mas havia. A conversa durou ainda algum tempo. Quando saiu, uma energia única, sobrenatural, acho, ficou no meu quarto, sentia-me leve e com uma alegria indescritível, sem motivo aparente. Nunca voltei a sentir essa plenitude, assim, sem motivo. Deixei de ter dúvidas quanto à imortalidade do Ser.
Gold: ele entrou no meu quarto, já não namorávamos (por culpa minha que carrego até hoje, ou da educação restrita com que me lavaram os miolos, recriminando-me e recriminando a minha mãe, em vez de sentir compaixão pela ignorância, minha e dela, esquecendo o ensinamento budista de que o passado não existe a não ser nos nossos pensamentos e emoções que o tornam presente vezes sem conta). Conversámos apenas. Tinha ido a Fátima e falou-me do que viu e sentiu. Disse que ali havia qualquer coisa de inexplicável, mas havia. A conversa durou ainda algum tempo. Quando saiu, uma energia única, sobrenatural, acho, ficou no meu quarto, sentia-me leve e com uma alegria indescritível, sem motivo aparente. Nunca voltei a sentir essa plenitude, assim, sem motivo. Deixei de ter dúvidas quanto à imortalidade do Ser.
Silver: Sentada com Lawrence, o filósofo, namorado das férias, nas escadas da Catedral de Schwäbisch Hall a ouvir o som de Bach ensaiado para o concerto do dia seguinte, em plena madrugada, numa noite quente de verão com o céu cheio de estrelas.
Bronze: Aquele beijo no meio de um riacho, que no Verão se atravessava por uma fila de pedras no caminho para casa, em noite de Agosto e lua cheia, depois de termos visto o filme Kaos, dos irmãos Taviani
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desafios
Ferias Grandes III
O Tio Jorge apesar de ocupar continuamente um quarto na casa, dormia a maioria das vezes em frente à televisão, nem sempre estava ligada, é certo, e muitas vezes estava avariada, mas ele gostava de adormecer a olhar para o ecrã. Foi com ele que conheci os fins de emissão da RTP. Tinha uma XF, um capacete caveira e uma capa preta tipo Batman, mas de lona pesada. Às vezes viajava, parecia o cavaleiro do asfalto e da terra batida. Demorava 2 dias a chegar à Régua. Saía Sexta e só estava com a namorada na tarde de Domingo, era uma moça séria e de boas famílias, na verdade eram cunhados. Nas férias namorava com uma espanhola, era o amor da sua vida, mas vivia no estrangeiro, perto de Barcelona, de XF não podia lá ir . A XF era linda, caprichosa, uma mota Pit Bull, tinha que a tratar muito bem, para ela não o matar. Um dia resvalou numa ribanceira, andavam a pavimentar a nacional, caiu e todo esfolado, seguiu agarrado à roda de trás da moto, para que ela caísse suavemente nas silvas.
Naquele tempo o Tio Jorge era para mim um homem inteligentíssimo. Domesticou durante anos uma pega, que um dia morreu. Fizemos-lhe um funeral, tipo a rainha das pegas e de todas as aves voadoras, incluindo as araras. Não rezamos porque os funerais na aldeia eram todos em latim. Mas demos as mãos. E recordamos o momento em que inspirado o Tio Jorge tinha cortado metade da língua à pega e ela tinha começado a falar. Era uma estrela a pega, foi com ela que tive as minhas primeiras discussões de base política. “Privadaaaaaaaaa, Privadaaaaaaa” gritava ela a imitar a minha avó quando me chamava para comer. O meu avô dizia que o Jorge era um homem coerente, 50 anos a fazer a mesma coisa, nada! Tinha uma enorme colecção de livros de cowboys que um dia me ofereceu e ainda hoje estão intactos. É uma herança que em poucos anos há-de valer muito dinheiro.
Na realidade o Tio Jorge só nos interessava para fazer pistolas de pau branco e espingardas, não percebia nada de baterias e esse era o grande projecto de Verão. Feita com panelas de alumínio, pregadas em paus que espetávamos no chão à altura do banco do baterista. Foram longos dias a afinar o equipamento.
Ate que um dia, inspirados no António Variações, fizemos umas toucas à terrorista, calçamos as galochas pretas que por lá haviam e demos o concerto da nossa vida. As galinhas e os patos adoraram. Deviam vê-los a cacarejar, de asas abertas, perante o nosso remix do “Joana” do Marco Paulo. Cantávamos bem e afinados.
Naquele tempo o Tio Jorge era para mim um homem inteligentíssimo. Domesticou durante anos uma pega, que um dia morreu. Fizemos-lhe um funeral, tipo a rainha das pegas e de todas as aves voadoras, incluindo as araras. Não rezamos porque os funerais na aldeia eram todos em latim. Mas demos as mãos. E recordamos o momento em que inspirado o Tio Jorge tinha cortado metade da língua à pega e ela tinha começado a falar. Era uma estrela a pega, foi com ela que tive as minhas primeiras discussões de base política. “Privadaaaaaaaaa, Privadaaaaaaa” gritava ela a imitar a minha avó quando me chamava para comer. O meu avô dizia que o Jorge era um homem coerente, 50 anos a fazer a mesma coisa, nada! Tinha uma enorme colecção de livros de cowboys que um dia me ofereceu e ainda hoje estão intactos. É uma herança que em poucos anos há-de valer muito dinheiro.
Na realidade o Tio Jorge só nos interessava para fazer pistolas de pau branco e espingardas, não percebia nada de baterias e esse era o grande projecto de Verão. Feita com panelas de alumínio, pregadas em paus que espetávamos no chão à altura do banco do baterista. Foram longos dias a afinar o equipamento.
Ate que um dia, inspirados no António Variações, fizemos umas toucas à terrorista, calçamos as galochas pretas que por lá haviam e demos o concerto da nossa vida. As galinhas e os patos adoraram. Deviam vê-los a cacarejar, de asas abertas, perante o nosso remix do “Joana” do Marco Paulo. Cantávamos bem e afinados.
Infelizmente, ser cantor ou baterista não era profissão, diziam os velhos que era coisa do Diabo. A verdade é que se por acaso temos chamado à aldeia uma editora, tínhamos batido por completo os putos do “Biquíni pequenino às bolinhas amarelas”. Tivemos outros sucessos, como “ Os meus óculos de sol uh uh”. O tema "Estou bem porque não estou" era o nosso terceiro single, apesar de não sabermos bem a letra, o que interessava era a batida, o pormenor da roupa e as expressões faciais. O Patcholi por exemplo cantávamos só porque falava em sovacos, esse era impossível de tocar na bateria. A pouco e pouco fomos introduzindo novos instrumentos, como colheres, garfos, e tubos de ferro.
No auge da fama, a minha avó desmontou-nos o palco para alargar o galinheiro. Era assim a vida de artista naquela altura, nada valia perante a agricultura. Não nos chocou, estávamos preparados para essa reacção. Alem de que começava a ser tempo de ir para a Barragem, para a ilha, e tínhamos que construir uma jangada, sem pregos, para não furar as câmaras-de-ar que o avô tinha oferecido. Precisávamos do Nelson e do Gustavo e de autorização dos velhotes para iniciar a nossa travessia. Os remos não eram um problema, podíamos remar com as mãos. Faríamos como o Will Fog.
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Ferias Grandes segundo Privada
quinta-feira, 16 de julho de 2009
18 de Julho Porto às escuras
No Porto, um dos palcos das estrelas é a Praça Parada Leitão, junto ao mítico café “Piolho” e à Reitoria da Universidade. Com o início das actividades previsto para as 22 horas, a iluminação pública da praça vai desligar-se durante cerca de uma hora para que portuenses e visitantes possam ver o céu sem a interferência do excesso de luz da cidade. No local, estarão telescópios e uma equipa de especialistas para guiarem o público durante a visita às estrelas. A iniciativa é organizada pelo Porto Cidade de Ciência, Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) e Astronomia no Verão.
Eh pá que maldoso que sou. Andava convencido que o único motivo porque não se via o céu era o fumo natural e ecológico que se faz pela zona ao fim de semana, afinal, é a luz que produz aquela nuvem, que um gajo até flutua. Por isso é que a partir de determinada hora apagam as luzes dentro dos bares e andam todos de nariz arrebitado, devem ter claraboias. Cool! E dizer que gastei 40 eurinhos, pá, a tentar desintoxicar o casaco. Era poluição da luz Privada, da luz seu estúpido!
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Apagão astronómico
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Reiner Kunze: Apfel für m.r.-r.
REINER KUNZE
Appel for m.r.-r.
I find, it’s high time, that there is again
something new to read from you.(M.R.-R. letter dated 12th December 1978)
Please, let us hear from you and send me
manuscripts, because it’s now really hightime, that there is something of you
to read in our newspaper.(M.R.-R. letter dated 29th May 1980)
High time comes from inside
High time is, when the pit
sare nicely black
And that knows first and foremost
the tree.
**************
Apfel für m.r.-r.
Ich finde, es ist höchste Zeit, daß es wieder
etwas Neues von Ihnen zu lesen gibt.(M.R.-R. brief vom 12. dezember 1978)
Bitte, lassen Sie von sich hören und schicken Sie
mir Manuskripte, denn es ist ja nun höchste
Zeit, daß es in unserer Zeitung etwas von Ihnen
zu lesen gibt.(M.R.-R.. brief vom 29. mai 1980)
Höchste Zeit kommt von Innen
Höchste zeit ist, wenn die Kerne
schön schwarz sind
Und das weiß zuerst
der Baum.
Appel for m.r.-r.
I find, it’s high time, that there is again
something new to read from you.(M.R.-R. letter dated 12th December 1978)
Please, let us hear from you and send me
manuscripts, because it’s now really hightime, that there is something of you
to read in our newspaper.(M.R.-R. letter dated 29th May 1980)
High time comes from inside
High time is, when the pit
sare nicely black
And that knows first and foremost
the tree.
**************
Apfel für m.r.-r.
Ich finde, es ist höchste Zeit, daß es wieder
etwas Neues von Ihnen zu lesen gibt.(M.R.-R. brief vom 12. dezember 1978)
Bitte, lassen Sie von sich hören und schicken Sie
mir Manuskripte, denn es ist ja nun höchste
Zeit, daß es in unserer Zeitung etwas von Ihnen
zu lesen gibt.(M.R.-R.. brief vom 29. mai 1980)
Höchste Zeit kommt von Innen
Höchste zeit ist, wenn die Kerne
schön schwarz sind
Und das weiß zuerst
der Baum.
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Reiner Kunze
Férias grandes II
Naquele dia estavam incrivelmente simpáticos. Chamaram-me para participar na brincadeira. A minha avó estava na casa da Aurora, tínhamos vindo ali, porque segundo ela, a Aurora estava com olhos amarelos, ia morrer de icterícia e não sabia. A sua missão era convence-la a ir a Braga, ao médico com urgência.
A Aurora era um anjo, branca de olhos azuis, tinha um bebé pequenino e estava grávida. Era jovem, quase sempre com tecidos transparentes a fluir. O povo não gostava da Aurora, tinha casado com um homem divorciado, mais velho, alem disso, nunca trabalhou no campo por preguiça, inventava doenças para ficar em casa e não apanhar sol.
Interrompi-as para pedir autorização para acompanhar a rapaziada a uma brincadeira nos campos do Toutelo. Olhei para a Aurora que estava igual, de pé, com o menino no colo, sorria, e a minha avó deixou-me ir.
Estava em desvantagem, não sabia subir muros, muito menos árvores. Eles incentivaram-me, pareciam empenhados em fazer-me superar a tarefa de subir à cerejeira. Empurraram-me, içaram-me e lá consegui. Disseram-me para avançar num determinado ramo e colher as cerejas do ramo superior. Estava tolhido de medo, mas ainda não tinha vertigens. Avancei. Pediram mais. Caí e desmaiei.
Soube depois que aqueles lindos meninos e meninas inocentes dos campos cheios de flores pensaram que me tinham acabado com a raça. Com medo de represálias, porque matar um tripeiro naquele tempo era algo grave, fugiram.
Acordei nos braços da São. Loura de olhos claros e unhas vermelhas. Era empregada interna da Tia Laura, órfã de pai, servia desde os 11 anos patroas velhas e autoritárias. Vinha do bairro das minas e, por isso, nem a chave lhe confiavam. Desde que a extracção de volfrâmio tinha sido suspensa que os mineiros eram ladrões e ela não escapava à nomeada. A São tinha o quarto no sobrado, a casa de banho era na horta, os panos com que me limpou a cabeça estavam ensanguentados no penico.
Desde esse dia passei a visita-la, ensinou-me tudo sobre o amor. Como deixar as miúdas de rastos só com uma carta. Ela escrevia folhas e folhas para um trolha que estava a construir uma obra importante em Lisboa, só vinha ao fim de semana, a São raramente o podia ver, a patroa chamava-lhe puta, sempre que a via a namorar e já tinha sido despedida por causa disso. Pedia-me segredo de tudo aquilo que lia, gostava dela, parecia uma boneca a que eu tinha arrancado a cabeça para jogar futebol. O cabelo curto com caracóis e as pestanas pretas. Chamou a minha avó que quando me viu abriu os braços e gritou:
- Meu querido filho podias ter morrido. Que desgraça, meu Deus, então como é que te aconteceu isso, já não te disse para não andares a correr?! Vamos já para casa, o avô leva-te ao hospital.
E assim foi. Horas e horas, curvas e curvas, o cheiro a gasóleo e aos Gauloise, fizeram-me vomitar, o meu avô acelerou e quando chegamos disse ao médico que o menino estava com uma congestão cerebral. Os médicos trataram-me bem. Repararam na minha camisola dos Porfirios, disseram que eu parecia um canário, fiquei muito orgulhoso, disse-lhes logo que sabia cantar o “ Eu vi um sapo” e os “Passarinhos a bailar”.
Lá vim com grande penso no cerebelo a ouvir o meu avô dizer que devia ter pensado bem, que era um menino muito frágil, que não deveria ser tão inocente, deu-me caramelos e um gelado de gelo que vinha num saquinho estreito.
A Aurora era um anjo, branca de olhos azuis, tinha um bebé pequenino e estava grávida. Era jovem, quase sempre com tecidos transparentes a fluir. O povo não gostava da Aurora, tinha casado com um homem divorciado, mais velho, alem disso, nunca trabalhou no campo por preguiça, inventava doenças para ficar em casa e não apanhar sol.
Interrompi-as para pedir autorização para acompanhar a rapaziada a uma brincadeira nos campos do Toutelo. Olhei para a Aurora que estava igual, de pé, com o menino no colo, sorria, e a minha avó deixou-me ir.
Estava em desvantagem, não sabia subir muros, muito menos árvores. Eles incentivaram-me, pareciam empenhados em fazer-me superar a tarefa de subir à cerejeira. Empurraram-me, içaram-me e lá consegui. Disseram-me para avançar num determinado ramo e colher as cerejas do ramo superior. Estava tolhido de medo, mas ainda não tinha vertigens. Avancei. Pediram mais. Caí e desmaiei.
Soube depois que aqueles lindos meninos e meninas inocentes dos campos cheios de flores pensaram que me tinham acabado com a raça. Com medo de represálias, porque matar um tripeiro naquele tempo era algo grave, fugiram.
Acordei nos braços da São. Loura de olhos claros e unhas vermelhas. Era empregada interna da Tia Laura, órfã de pai, servia desde os 11 anos patroas velhas e autoritárias. Vinha do bairro das minas e, por isso, nem a chave lhe confiavam. Desde que a extracção de volfrâmio tinha sido suspensa que os mineiros eram ladrões e ela não escapava à nomeada. A São tinha o quarto no sobrado, a casa de banho era na horta, os panos com que me limpou a cabeça estavam ensanguentados no penico.
Desde esse dia passei a visita-la, ensinou-me tudo sobre o amor. Como deixar as miúdas de rastos só com uma carta. Ela escrevia folhas e folhas para um trolha que estava a construir uma obra importante em Lisboa, só vinha ao fim de semana, a São raramente o podia ver, a patroa chamava-lhe puta, sempre que a via a namorar e já tinha sido despedida por causa disso. Pedia-me segredo de tudo aquilo que lia, gostava dela, parecia uma boneca a que eu tinha arrancado a cabeça para jogar futebol. O cabelo curto com caracóis e as pestanas pretas. Chamou a minha avó que quando me viu abriu os braços e gritou:
- Meu querido filho podias ter morrido. Que desgraça, meu Deus, então como é que te aconteceu isso, já não te disse para não andares a correr?! Vamos já para casa, o avô leva-te ao hospital.
E assim foi. Horas e horas, curvas e curvas, o cheiro a gasóleo e aos Gauloise, fizeram-me vomitar, o meu avô acelerou e quando chegamos disse ao médico que o menino estava com uma congestão cerebral. Os médicos trataram-me bem. Repararam na minha camisola dos Porfirios, disseram que eu parecia um canário, fiquei muito orgulhoso, disse-lhes logo que sabia cantar o “ Eu vi um sapo” e os “Passarinhos a bailar”.
Lá vim com grande penso no cerebelo a ouvir o meu avô dizer que devia ter pensado bem, que era um menino muito frágil, que não deveria ser tão inocente, deu-me caramelos e um gelado de gelo que vinha num saquinho estreito.
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Férias grandes II do Privada
Para que todos conheçam: apresento a belíssima empresa de Arlindo do Rego
É só clicar. Este ser superior tem gosto! É um Meste no design de sanitários. Talvez até Doutor. Ou Professor Doutor, se estiver no quadro de alguma Universidade dedicada a esta arte.
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Arlindo do Rego e as sanitas
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