Passei das melhores horas da minha infância a ler os livros de Astérix. Lia e relia, ria à gargalhada, outras vezes ficava com um sorriso demorado. Partilhava o divertimento com o meu pai. Fã incondicional que me ofereceu o primeiro livro. Repetiamos aquelas tiradas de humor, e era uma coisa muito nossa.
Goscinny e Uderzo faziam uma dupla imparável, com o génio dos enredos de Goscinny aliados à mestria do desenho de Uderzo.
Quando Goscinny morreu, a série devia ter parado. Nunca mais qualquer dos livros seguintes teve a mínima graça, por comparação. Ainda assim, em homenagem ao passado, à procura desses momentos, fui comprando e alimentando o mercado, como biliões de outros leitores. Mas o encanto estava irremediavelmente perdido.
O dia em que comprei um livro e, para surpresa minha, verifiquei que a tradução dos nomes dos meus queridos de sempre tinha sido objecto de uma revolução, foi o BASTA. Porque raio é que o chefe da aldeia, desde sempre Abraracourcix, passou a Matasétix? E o bardo, Assurancetourix, passou a Cacofonix? Já para não mencionar o peixeiro, o ferreiro, o velhote, a mulher do chefe e a mulher do velhote...Com que direito é que um fdp de um tradutor com o amén da editora ASA me vinha vinha mudar o nome aos meus amigos de sempre?
Nunca mais comprei qualquer livro da série. Guardo os da infância e da adolescência, onde estão as obras primas. Felizmente, consegui repor a colecção da dupla Goscinny/Uderzo, na versão antiga, porque emprestei vários livros a pessoas que nunca me fizeram o favor de os devolver. Mas com os livros é mesmo assim. Por mais amigo que o tipo seja, nunca se deve emprestar um livro. Nunca terá volta. Mais vale oferecer.
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P.S.:Gostei ler Astérix em Mirandês.