sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Gostava mais de falir,
porque não é possível insolver. É mais uma merdice do CIRE, já afogado na merda de cabeça para baixo. A minha empresa quer falir e não pode.Que despautério! Entrar em insolvência... pffff.
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falência,
insolvência
Mofinnnaaaa? Não achas que isto está com ar de trovoada?
Esqueceram-se que eu é que dei com a cabeça? Ora, toca a arejar. Blimunda, já para a praia, em bikini, trikini, ou tankini, nada de fato de banho. Em pelota também fica bem.
Privada, para a mesma praia, mas em calções até ao joelho, ou nú. Nada de truces ou daqueles calções ridículos até meio da coxa.
Mergulhem nas águas frias, ou não tanto, e muito salgadas do atlântico. Amem-se, com ou sem pecado pelo meio. Amem-se muito, que estão a precisar.
Votem no Domingo em consciência, de preferência pela mexicanização, venezuelização, cubanização, ou hondurização do país (os Honda até são bons carros!), para a siesta passar a ser obrigatória. Eu fico a assistir, não posso votar, porque estou recenseada em Marrocos, a menos que o templo do consumo, El Corte Inglês, esteja abierto. Isso seria um forte incentivo.
Segunda-feira, depois de o país ter ido para o caneco, podem continuar o concurso.
Depois veremos quem os poderá editar. Naturalmente, não está em causa o valor dos textos, que é A+, mas a crise das editoras. Todavia, podem sempre optar pelos e-books, on line, num site de acesso condicionado, mediante contrato, password e pagamento da massa a priori. Claro que os vou piratear. Podem sempre receber alguns trocos pela publicidade da página.
Xô, que se faz tarde e depois vem a nortada.
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O que é que deu a estes dois
Insolvência
Reúne o homem os homens, que riem e desprezam a crise, queixam-se de ganhar mal apenas, e isso nada terá que ver com a crise ou com o país, mas sim com o homem. Com o homem que sonhava novo equipamento, novas pessoas, aumentar ordenados, fazer acontecer, sonhava apenas.
O homem que aplicou tudo o que aprendeu na academia e na vida, que viu todos os seus recursos de aprendizagem esgotados.
Passavam os dias e os meses, os ordenados saíam das contas de um orçamento provisional esgotado. A contabilidade de custos dependia dos mapas de produtividade preenchidos minutos antes da chegada.
O homem olhava-os. Riam e troçavam: - se não está satisfeito mande-me embora e pague-me os direitos - e afinal era isto a matriz da parca macroeconomia?!
A cada reunião faziam menos. Pressentia-lhes no olhar cada vez mais bebida. Não havia garrafas a comprová-lo. Sobejavam espalhadas na escrivaninha do gestor, aterrorizado, numa gaveta, noutra, e até no armário da cozinha.
Quis fazer deles gente da arte, 5 anos de formação, nunca quis ganhar que não fosse para manter a estrutura activa, era uma empresa a médio-longo prazo.
Pagou sempre impostos, nunca apresentou prejuízo, nem sempre a tempo, houve que coordenar. Mas contratou e tratou com dignidade os homens. Foi a tribunal, perdeu e aceitou casos de pura inércia, porque tinha uma empresa.
O homem já não dorme, o homem vacila, o homem tem pena. Ninguém entende o homem, o homem é um comerciante, com capacidade, e, portanto, todos os seus actos são comerciais, mesmo quando o homem esmorece e chora.
Os anos da vida que agora se esgotam, a impotência que o cerca, a família que reclama, que assim, sem dar efectivamente dinheiro, não vale a pena ao homem tanta consumição.
Pega o homem nos livros, nos balanços, compara, risca, pensa. Tudo na cabeça ecoa.
Já não fala, assiste com o ar de quem vê passar a morte ao lado, num confronto directo com a vida.
Chamam novamente o homem a tribunal, todos o querem em tribunal no próximo mês, antes que não lhe restem senão cêntimos.
(Está bacoco? Não se integra no fantástico? Dá curiosidade de saber o que aconteceu ao homem? Deve ter falta de vírgulas, não? Não é um tema motivante? Acham que posso transmitir, sei lá, uma nova forma de ver as coisas, se conseguir que isto seja editado, tipo, dêem a humanidade aos empresários? Hum? Sejam honesto, se está tá merda , tá merda, faço outro).
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conto à sexta-feira,
o concurso
Insolvência
Podia recomeçar, podia acreditar de novo em si, mas isso era o Drummond e não ele que dizia. Afunilava-se em poemas, em frases célebres que lhe garantiam que se resistisse sobreviveria. Não queria resistir para além daquilo que construíra. A obra ultrapassa o homem, o homem morre antes da obra. Se a obra morre antes do homem, não fez o homem obra digna de si.
Olhava-os na mesa de jantar, satisfeitos e entretidos com a vida, alheios ao que havia de vir, às dificuldades, aos anseios, que direito tinha de sujeitar as crianças a isso? Quando tivessem que abandonar o colégio, quando tivessem que o abandonar a ele e partir com a mãe, que vida teriam?
As bandeiras brancas em frente aos olhos, turvadas pela ventania, tinham-no feito embater naquele maldito carro parado, como se o movimento não fosse sequer necessário para o acidente.
E tinha ficado ali, a ver tudo passar à frente, como se fosse um visor, um cinema, aquele vidro partido, manchado. Tinha que se levantar, tinha que abrir a porta e fugir. Sentia o vibrar da explosão iminente, o calor intenso nos pés, um fumo escuro, o peito esmagado no volante, o aperto no coração.
Seria o amor daqueles tempos em que viajaram, beijaram, sentiram e depois arrumaram em noites perdidas na contabilidade, ela esperando, ele ganhando, e a vida dos dois com tormentos, arrelias, tudo porque teria querido ter uma empresa? O dia em que ela saiu de casa, chorosa e triste pelas palavras que o whisky proferiu.
Hoje era ele que saia, sem aviso, para aquele tribunal, onde todos o acusariam de não ter lutado, de não ter sustentado, de ter falido. Hoje era o dia em que ele pagava pela última vez portagem. O dia em que entregava os cartões e as máquinas, o dia em que seria insultado por aqueles a quem pagou penosamente, todos os dias que consigo passaram.
Os senhores das finanças de cara lavada e austera, os sindicalistas ferrados, orgulhosos de tão desdito propósito. Um teatro, onde e apesar de ser a personagem principal, não dispunha de uma única frase no diálogo da peça. Reunidos na mesa oval, davam eloquência à cena, miravam-no com desdém, a ele, o comerciante com capacidade, cujos actos eram tidos como comerciais, subjectivos, objectivos, não interessava, os seus desgostos eram realmente comerciais.
No banco de trás, na pasta dos documentos o aparelho tocava, uma e outra vez. Ouvia-o com paciência, não podia atender. Com custo talvez pudesse esticar o braço, voltar a fronte, mas certamente não valeria a pena. Um credor, o banco. Os amigos que tivera naquele banco, todos o tratavam bem, a quem não devia nada, porque já não lhe confiavam nada, porque nada já havia para sorver.
E se agora a mãe lhe ligasse, que lhe diria. O céu estava azul, as nuvens, mas faltava-lhe o ar para esboçar um sorriso à natureza. A natureza forte que faz dos homens das aldeias humildes e sérios, temerosos à revolta das árvores, da chuva e do inverno. Esses homens com quem não viveu por serem simples, por recearem apenas a força do rebentos e desprezarem a tecnologia. Esses homens esbatidos em roupas escuras, de poucas falas e de grandes filosofias inúteis.
Ele temia a cidade, a força do tempo e do dinheiro. E nem ali, com o sangue aquecer a fronte, podia pensar de outra maneira. O que tinha sido a vida afinal? O que fez? O que construiu? Não lhe doía nada, não sentia mais nada, senão todos esses pensamentos. Acaba aqui – pensava - É este o meu fim, onde poderei começar de novo?
Que poderei fazer? Quem me dará emprego, se já não sei nada, se tudo esqueci.
Tinha sede, muita sede. Naquela posição não via água, só o céu, azul, cada vez mais azul.
Olhava-os na mesa de jantar, satisfeitos e entretidos com a vida, alheios ao que havia de vir, às dificuldades, aos anseios, que direito tinha de sujeitar as crianças a isso? Quando tivessem que abandonar o colégio, quando tivessem que o abandonar a ele e partir com a mãe, que vida teriam?
As bandeiras brancas em frente aos olhos, turvadas pela ventania, tinham-no feito embater naquele maldito carro parado, como se o movimento não fosse sequer necessário para o acidente.
E tinha ficado ali, a ver tudo passar à frente, como se fosse um visor, um cinema, aquele vidro partido, manchado. Tinha que se levantar, tinha que abrir a porta e fugir. Sentia o vibrar da explosão iminente, o calor intenso nos pés, um fumo escuro, o peito esmagado no volante, o aperto no coração.
Seria o amor daqueles tempos em que viajaram, beijaram, sentiram e depois arrumaram em noites perdidas na contabilidade, ela esperando, ele ganhando, e a vida dos dois com tormentos, arrelias, tudo porque teria querido ter uma empresa? O dia em que ela saiu de casa, chorosa e triste pelas palavras que o whisky proferiu.
Hoje era ele que saia, sem aviso, para aquele tribunal, onde todos o acusariam de não ter lutado, de não ter sustentado, de ter falido. Hoje era o dia em que ele pagava pela última vez portagem. O dia em que entregava os cartões e as máquinas, o dia em que seria insultado por aqueles a quem pagou penosamente, todos os dias que consigo passaram.
Os senhores das finanças de cara lavada e austera, os sindicalistas ferrados, orgulhosos de tão desdito propósito. Um teatro, onde e apesar de ser a personagem principal, não dispunha de uma única frase no diálogo da peça. Reunidos na mesa oval, davam eloquência à cena, miravam-no com desdém, a ele, o comerciante com capacidade, cujos actos eram tidos como comerciais, subjectivos, objectivos, não interessava, os seus desgostos eram realmente comerciais.
No banco de trás, na pasta dos documentos o aparelho tocava, uma e outra vez. Ouvia-o com paciência, não podia atender. Com custo talvez pudesse esticar o braço, voltar a fronte, mas certamente não valeria a pena. Um credor, o banco. Os amigos que tivera naquele banco, todos o tratavam bem, a quem não devia nada, porque já não lhe confiavam nada, porque nada já havia para sorver.
E se agora a mãe lhe ligasse, que lhe diria. O céu estava azul, as nuvens, mas faltava-lhe o ar para esboçar um sorriso à natureza. A natureza forte que faz dos homens das aldeias humildes e sérios, temerosos à revolta das árvores, da chuva e do inverno. Esses homens com quem não viveu por serem simples, por recearem apenas a força do rebentos e desprezarem a tecnologia. Esses homens esbatidos em roupas escuras, de poucas falas e de grandes filosofias inúteis.
Ele temia a cidade, a força do tempo e do dinheiro. E nem ali, com o sangue aquecer a fronte, podia pensar de outra maneira. O que tinha sido a vida afinal? O que fez? O que construiu? Não lhe doía nada, não sentia mais nada, senão todos esses pensamentos. Acaba aqui – pensava - É este o meu fim, onde poderei começar de novo?
Que poderei fazer? Quem me dará emprego, se já não sei nada, se tudo esqueci.
Tinha sede, muita sede. Naquela posição não via água, só o céu, azul, cada vez mais azul.
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conto à sexta-feira,
o concurso
Insolvência
Valeria a pena rezar? Pedir a Deus? Não tinha coragem de pedir nada, de falar sequer, queria apenas ver, ver com a clareza que não tinha visto a vida ate chegar àquela estrada. Diriam todos na mesa: – Está atrasado o Doutor! É lógico que não vem, resolva-se já isto, mandem prender o indivíduo.
E ela? Tão harmoniosa, branca, que faria a seguir, sem ele, sem o mau humor dele. Sem a cinza espalhada no escritório, sem os copos pegajosos, sem ele absorto ao volante. Tantas vezes lhe encomendou uma viagem tranquila, uma velocidade moderada, que a vida não foge, fugimos nós à vida.
- A concorrência Doutor está aí saudável, não tem crise. E nós temos encomendas, ganhamos mal, o Doutor sabe muito.
- A concorrência Doutor está aí saudável, não tem crise. E nós temos encomendas, ganhamos mal, o Doutor sabe muito.
Tinham-lhe dito, como cães de fila a cerca-lo. Não, já não sabia muito. De facto, ainda havia encomendas, não porque dessem dinheiro, mas sim porque não queria vê-los desempregados. As obras demoravam cada vez mais e a perfeição não era a mesma, reunia, com todo aquele verbete moderno de incentivo, a situação só piorava. Já não conseguia ser implacável como noutros tempos, falava como se fossem eles também doutores.
– E tu? Qual foi a tua culpa?
– E tu? Qual foi a tua culpa?
Tantas culpas, tantas culpas. Talvez tivesse protegido uns despedindo outros, talvez devesse … - Os ouvidos estalaram, tentou mexer-se, o fato, o fato que ela lhe tinha disposto para a última reunião, estava com goma, as pernas pareciam não ter movimento, pôde ver que o pé estava junto à caixa de velocidades, voltado para trás em desalinho com o corpo.
Encaixou a mão esquerda entre o pescoço e o cinto, inclinou a cabeça, uma fonte de calor cobriu-lhe o peito, a gravata de seda. Naquela posição avistava campos verdes ao fundo, lameiros, como o avô lhe chamava, mas o céu já não o via, os olhos estavam cansados, as mãos não chegavam ao pé.
Junto ao ouvido alguém o chamava:
Encaixou a mão esquerda entre o pescoço e o cinto, inclinou a cabeça, uma fonte de calor cobriu-lhe o peito, a gravata de seda. Naquela posição avistava campos verdes ao fundo, lameiros, como o avô lhe chamava, mas o céu já não o via, os olhos estavam cansados, as mãos não chegavam ao pé.
Junto ao ouvido alguém o chamava:
- Doutor Castro? Doutor Castro? Consegue ouvir-nos. Não se preocupe, vamos tira-lo daí, o senhor consegue ouvir-nos?
Bem sabia que o iam tirar dali, para sempre, da fábrica que foi dele, do meio dos seus empregados, da sua casa nova, dos seus filhos e dela. Via-os pelo canto do olho, como quem espia movimentos, um a um, batida por batida, sem dor, sem céu, sem amor, sem perceber como sabiam eles quem era o Doutor Castro.
- O Doutor Castro, não estará presente na reunião.
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