terça-feira, 7 de julho de 2009

William Blake: Sick Rose

Sick Rose
(by William Blake)
O Rose, thou art sick!
The invisible worm
That flies in the night,
In the howling storm,
Has found out thy bed
Of crimson joy:
And his dark secret love
Does thy life destroy.

O Perfeito

Diz a Blimunda " que o mais-que-perfeito não existe", deixando antever que o perfeito também não.
Ora discordo e de forma radical. Tudo é perfeito quando se enquadra no conjunto.
Dirás tu minha querida, e a escassa plateia que tem paciência para nos ler, que há pessoas muito más. Pois há e só não serão perfeitas se não forem capazes de ser verdadeiramente más, porque se o forem, já são perfeitas.
Não há uma única pessoa que não seja perfeita no papel que representa. O Tarugo por exemplo é um perfeito animal. É um perigo para a sociedade? Sim, um perigo perfeito, nada falha, desde a grossura do pescoço, ao tom de voz, ao olhar, ao movimento. A sociedade é perfeita. Se algo existe imperfeito é o tempo , porque não chega para apreciar este espetaculo em que todas as perfeições interagem.
Em crise o cenario tende ainda a ser mais perfeito, a obdecer melhor ao conjunto, acho que nos vamos divertir muito nos proximos tempos. Há muitos que ainda não demonstraram a sua verdadeira perfeição, a sua simples natureza. Vai ser um delirio.

Sou livre , o Estado não

Dormir é inútil, são 7 e estico a perna e salto para o molho de roupa que hei-de meter na maquina, contorço o tronco e remember you always think twice, you think twice, yeah yeah. Mal lavo os dentes para poder continuar a cantar, abro os braços, escorrego em frente ao espelho, numa perna e noutra. Fumo um cigarro, dois, três. Somos lustres pendurados em cenários.
A paginas tantas já não sei metade da lista de coisas que tinha para fazer e eram urgentes. Antes de adormecer sabia de cor e salteado, tinha tudo programado, como de resto faço todas as noites, enquanto a tola gira, gira, gira, ate adormecer.
Os bancos, a burocracia, as instituições retiram-me a liberdade. Não consigo acabar com eles, sonho ser empregado da Zara sem preocupações, livre. Empregado do IKEA. Estar atrás de um balcão qualquer com um tiquete pendurado.
Subo a pirâmide de papeis onde supostamente deveria estar aquele processo que trouxe e hoje tenho que resolver. Queria ter amigos simples, daqueles que plantam couves e me convidam para o cozido, uma mixórdia com carne de porco, mas esses não se preocupam com a nação e tenho de preocupar-me, tenho que preocupar-me, analiso, pergunto pela agricultura, tento convence-los das trapaçadas do Governo. Fica novamente tudo espalhado. Hoje vou a pé, mas não, que de carro vou mais rápido e posso ter que sair. Não me enerve, hoje não me enerve, você é um prejuízo para a sociedade. Há muito tempo que você meu caro amigo perdeu a mão, sim, há muito tempo que você caminha para o final, como um bebado meu caro, a suportar-se nas esquinas que lhe permitem os unicos minutos de equilibrio. Tenha vergonha. Tenha vergonha senhor deputado.

Gostava de me sentir livre,

de mim mesma. Aproveitar a tranquilidade da noite, com esta aragem consoladora que entra pela janela aberta. Vestir-me de branco e sair para a rua, seguindo o som dos tambores que ouço rufar algures junto à praia. São os grupos de capoeira que se reúnem e dançam, afastam os maus espíritos, divertem-se. É um chamamento para sair, ser livre, misturar-me na noite, na beira mar, na praia, quase às 3 horas da manhã.
Mas tenho medo, não é prudente, já passei a idade das loucuras. Contento-me com o vento leste que sopra ameno e me abraça com um odor a folhas de árvores centenárias e maresia. Sinto-o sentada na varanda. Estou com mais uma insónia. Mas não importa. O som dos tambores ao longe, o vento leste e este cheiro da noite acalmam-me.
A verdade é que estou farta do lamaçal em que estou metida: é a idade, o medo, a doença, as mortes, a sensação de ter falhado e de já não haver retorno...mas agora nada importa. Só sinto o vento com os seus odores e ouço o som tranquilo dos tambores. Nada de gente, carros, imposições, tarefas para cumprir. Tudo adiado. Nada de doenças, de mortos, de ansiedades. Tudo adiado.
Até adio a saudade, quando passo pelos quartos deles, um nos EUA, outro em Inglaterra, por muito tempo subjectivo.
Começo a chorar, mas é um choro bom, calmo, as lágrimas rolam devagar, demoram o seu tempo. Há muito que estava a precisar deste momento. Apesar de não ir para a praia, vestida de branco, juntar-me ao grupo de capoeira. A tranquilidade começa finalmente banhar-me. Até quando? Pouco importa.
Agora vou apagar as luzes e gozar a tranquilidade que o escuro da noite perfumada me oferece. Agradeço ao Universo. Momentos destes são raros.