domingo, 20 de novembro de 2011

Dia dos Namorados

No dia dos namorados,

Ela não pode namorar,
Nem mesmo sendo o aniversário dele.

No dia dos namorados,
Ela vai até ao mar
Com pétalas no regaço
E um olhar já muito baço,

De quem vê mal
Nos seus 77 anos,
Entre lágrimas contidas
E cataratas.
A Filha vai com ela
Num cortejo solitário.
Leva pétalas numa mão
E agarra-se à Mãe
Num abraço.

O choro convulsivo da Filha
Contrasta com a dor contida da Mãe
E mistura-se no sal do mar.

No dia dos namorados,
Ela só pensa Nele
E na Mãe,
Que não quer perder
Para os deuses
A Mãe é dela.
Já lhe levaram o Pai.

No dia dos namorados,
Elas, lentamente,
espalham pétalas de rosa
vermelhas
espalham pétalas de rosa
brancas
Num tapete
Que as ondas,
A espumar,
Arrastam violentas
Como arrastaram as cinzas dele
Naquele dia de nortada em Agosto,
Feriado de Nossa Senhora da Assunção

No dia dos namorados,
Talvez o céu se abra
E elas possam, ao menos,
Cantar-lhe os parabéns,
Como sempre fizeram.
Basta quererem.

No dia dos namorados,
Um brinde, com vinho maduro tinto
Ao marido, ao pai,
Aquele que nunca esquecem,
Entre lágrimas, sorrisos e risos
Numa ordem aleatória de repetição.

No dia dos namorados,
Ele estará sempre vivo
Enquanto a memória delas
O quiser!

E quem ousa garantir
Que Ele não estará
A festejar o seu aniversário
Com os Outros
E a fazer um brinde etéreo
a Elas?

domingo, 13 de novembro de 2011

Santa Bárbara

Noite cerrada
Saio
Rodopio ao sabor da ventania
As folhas já castanhas dos plátanos
Acompanham-me
Caducas
Desafiam-me
Em jogos
Pousam em mim
Obrigam-me a chuta-las
Entopem-me o caminho
Afundam-me
Os ramos das árvores
Ameaçam-me
Na queda
Empurrados ao sabor do vento
Como eu
Num espectáculo de luz e som
Ora seco
Ora inundado
Que a natureza me oferece
Digno de ovação em pé
Não param
Numa dança improvisada
"A seca é mais perigosa"
Dizia avó Rita
A chuva alaga-me
As ondas as agigantam-se
Espumam
A luz
De formas surpreendentes
Bizarra
Rasga o breu
De alto a baixo
De lado a lado
A liberdade é indescritível
Ensopada
Agradeço a Santa Bárbara
Quando troveja!