A Saphou, contra a natureza da produtividade e eficiência económica deste país, vai de férias em Setembro para a Islândia, país que pouco ou nada importa do nosso condado. O Mestre ainda nem se deu conta das campanhas de regresso às aulas.
A Blimunda a moer-me a cabeça com a teoria de que a tristeza também é vaidosa e por isso se veste de luto, em vários modelos que se distinguem como tristes, representando a tristeza que aqueles que os envergam, querem demonstrar. O JG agora anda ocupado com leituras e a tentar desmistificar o gesto nobre para com o Ali al-Megrahi. E eu, o único gajo que se mantém de raciocínio estável antes, durante e após as férias, começo a sentir-me perturbado, altamente perturbado, começo a ouvir um eco, perturbado, em brasileiro, perturbado...
Você está sentado numa cadeira. Você está sentado nesta cadeira há bastante tempo. Você fica sentado nesta cadeira durante muito tempo, diariamente. Você não conseguiria ficar parado em pé por tanto tempo; ficaria cansado, com dor nas pernas. Também não conseguiria permanecer tanto tempo assim deitado na cama, de cara para o tecto; (…)
Você consegue ficar sentado assim nesta cadeira por muito tempo sem trocar de posição; (…)
Ao levantar-se da cadeira você se dá conta, de que a porção de espaço que você ocupou durante tanto tempo, sentado na cadeira, está agora impregnada da presença física do seu corpo; ou seja, ela guarda agora alguns vestígios de substancialidade que seu corpo deixou ali. (…)
Esses vestígios mais cedo ou mais tarde vão se dispersar, com o movimento constante de corpos no quarto, e se perder para sempre. Assim, você está constantemente largando camadas sucessivas de seu ser, desintegrando-se a cada instante de sua existência no espaço; e é por isso que você não é eterno, não pode ser eterno, pelo mesmo motivo que um lápis ou uma borracha não podem ser eternos. (…)
Mas há uma maneira simples de alterar essa situação : sentar-se na cadeira (…)
In Paraísos Artificiais, Paulo Henriques Britto (2004)
A Blimunda a moer-me a cabeça com a teoria de que a tristeza também é vaidosa e por isso se veste de luto, em vários modelos que se distinguem como tristes, representando a tristeza que aqueles que os envergam, querem demonstrar. O JG agora anda ocupado com leituras e a tentar desmistificar o gesto nobre para com o Ali al-Megrahi. E eu, o único gajo que se mantém de raciocínio estável antes, durante e após as férias, começo a sentir-me perturbado, altamente perturbado, começo a ouvir um eco, perturbado, em brasileiro, perturbado...
Você está sentado numa cadeira. Você está sentado nesta cadeira há bastante tempo. Você fica sentado nesta cadeira durante muito tempo, diariamente. Você não conseguiria ficar parado em pé por tanto tempo; ficaria cansado, com dor nas pernas. Também não conseguiria permanecer tanto tempo assim deitado na cama, de cara para o tecto; (…)
Você consegue ficar sentado assim nesta cadeira por muito tempo sem trocar de posição; (…)
Ao levantar-se da cadeira você se dá conta, de que a porção de espaço que você ocupou durante tanto tempo, sentado na cadeira, está agora impregnada da presença física do seu corpo; ou seja, ela guarda agora alguns vestígios de substancialidade que seu corpo deixou ali. (…)
Esses vestígios mais cedo ou mais tarde vão se dispersar, com o movimento constante de corpos no quarto, e se perder para sempre. Assim, você está constantemente largando camadas sucessivas de seu ser, desintegrando-se a cada instante de sua existência no espaço; e é por isso que você não é eterno, não pode ser eterno, pelo mesmo motivo que um lápis ou uma borracha não podem ser eternos. (…)
Mas há uma maneira simples de alterar essa situação : sentar-se na cadeira (…)
In Paraísos Artificiais, Paulo Henriques Britto (2004)