quarta-feira, 22 de abril de 2009

Para assinalar o dia da Terra, the day after ou um exercício de pieguice

Ontem não fiz absolutamente nada. Mas pensei. Não por ser o dia da Terra, mas porque decidi não fazer nada. Mas valia ter participado numa qualquer campanha de reciclagem ou reciclar-me num SPA. Mas não. Estive a pensar. Fiquei melancólica.
Partindo da premissa que devemos fazer três coisas antes de morrer, a saber, ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore, ocorreu-me que ainda não estou em condições de empacotar.
Na verdade, livros já escrevi, mais do que um. É canja. E vendem-se.
Filhos já tive. Mais do que um. Quase morri, mas cumpri a segunda tarefa. Pelo menos, os tipos cresceram e estão quase a tornar-se adultos, segundo a lei. Medraram.
O problema está em plantar uma árvore.
Várias questões me assaltam.
O jardineiro do prédio, quando eu era administradora, plantou várias árvores que eu comprei e o condomínio não pagou. Escolhi o limoeiro, a laranjeira, a japoneira...indiquei-lhe onde as plantar. O homem cumpriu a tarefa. Reguei-as, cuidei delas, mas não resistiram ao vento norte à caca dos cães e gatos vadios. Uma a uma, morreram de pé. Posso considerar que estas árvores foram plantadas por mim através de representante? Mas não medraram. O medrar é relevante?
Mais tarde, trouxe um pequeno pinheiro mediterrânico, já plantado por algum jardineiro da casa de Serralves, para casa. Adoptei-o, dei-lhe um nome carinhoso, tornou-se o meu vegetal de estimação. Medrou e cresceu. Esteve dois anos na minha sala. Mudei-o de vaso várias vezes. Estava apaixonada. Escrevi-lhe poemas. Desenhei-o em várias perspectivas. Passei horas a pensar onde o plantar. Na Quinta do Lago, no Algarve, com vista para a Ria Formosa? No jardim do hotel? No jardim das casas onde passamos férias? Tomei a decisão fatal. Queria-o perto de mim. Não aprendi com a letra de Sting: if you love somebody, set him free (set him free está correcto e não set it free, porque era o meu pet) Plantei-o, ou melhor, mudei-o, do vaso, para o jardim do prédio. Protegi-o do vento norte, reguei-o meses a fio. Estava a medrar. Um dia negro, no entanto, o novo administrador decidiu limpar o jardim e, quando cheguei a casa do trabalho, o jardineiro carniceiro tinha decepado a pequena árvore. Nunca mais foi encontrado, no meio de uma montanha de erva e outras plantas. Dei um grito de angústia, quase bati no administrador. O certo, é que a árvore não medrou. E terá, tecnicamente, sido plantada por mim? O medrar era importante?
É certo que passei a compreender as pessoas que choram e deprimem quando lhes morre o gato ou o periquito, o cágado, o rato, o peixe ou o crocodilo de estimação. Pelas pessoas a quem morre o cão já tinha o mais profundo respeito. Compreendi um aluno que estava descontrolado no exame porque, mais do que não saber a matéria, tinha o nó na garganta de lhe ter morrido o gato naquele dia. Agradeci não ter colocado casos práticos com gatos que morrem atropelados ou de morte natural, naquele exame, como é hábito meu.
Durante anos não quis árvores. Eram apenas fonte de desgosto. Este Natal, todavia, trouxe uma caixinha de sementes da Casa de Serralves, com sementes de Sapin de Noël junto com uma pastilha de terra e um vaso minúsculo. Todos tiveram direito a um Sapin destes cá em casa, mas só o meu medrou. Coloquei a pastilha de terra no vaso, juntei água, a pastilha transformou-se em terra, coloquei as sementes e uma resultou num Sapin de Noël que tem agora cerca de cinco centímetros de altura. Ainda está na sala, que funciona como estufa. Será que já plantei uma árvore? Já posso bater a bota? E se o Sapin não medra? E ser fancês não é impedimento?
Espero ter alguma resposta para estas questões existenciais. Agora tenho que ir a correr para o trabalho. É que esta merda de post, embora com data de ontem, foi escrito às 13h e 27m de hoje. E hoje pego às duas na fábrica de botões da "Senhora Rocha, Unipessoal, Lda.", que está pior do que a Quimonda e não tem o Putin interessado em abotoar-se nela.

Uma nova regra da democracia socialista portuguesa

Ontem, fez-se história. José Sócgates instituiu uma nova regra democrática, que escapou a todos os comentadores:
Em democracia, cada um deve pedalar a sua própria bicicleta e nenhum cidadão deve pedalar a bicicleta alheia.
E eu que até gosto de pedalar a bicicleta do meu vizinho, que tem dois lugares. Não tenho nada contra o facto de o Primeiro Ministro não gostar de pedalar a bicicleta do Presidente da República, ou de este não pedalar a daquele. Não sabia, sequer, que tinham bicicletas e gostavam de ciclismo. Até pode ser que a bicicleta de Cavaco Silva seja uma granny's bike e Pinto de Sousa prefira uma mountain bike, porque é dado ao BTT. Mas isso é lá entre eles. Não me parece que algo decorrente de um simples gosto privado ou de uma animosidadesinha deva levar à criação de uma regra geral para o cidadão pedalante.
O Primeiro Ministro, com os seus apoios de sempre, que já não são "porreiro pá", mas "deixe-me dizer-lhe uma coisa" ou "oiça", seguidos do nome do interlocutor, acrescentou que a expressão é conhecida de todos, e até pediu perdão por a repetir na formulação positiva (cada um deve pedalar a sua própria bicicleta) e negativa (nenhum cidadão deve pedalar a bicicleta alheia).
Mais uma vez, o "Engenheiro" demonstrou o cabal domínio do inglês, neste caso na tradução de expressões idiomáticas comuns numa certa época nos EUA (everybody pulls his weight), demonstrando ser um liberal ultra conservador, ao nível de Archie Bunker. Quem diria? O socialista! Desta, nem Archie Bunker estaria à espera.