sábado, 31 de outubro de 2009

Bracara Augusta, com paciência, baixou a crista do "cretino", em machadez. Olé! Parabéns grande Sporting Clube de Braga

Hoje

só os meus mortos me rodeiam. Há uns anos atrás, mascarava-me com os miúdos e íamos de porta em porta pedir doces ou pregar partidas aos sovinas. Esse tempo já era. Abro as janelas na noite, deixo a casa escura, acendo velas com odor a verbena. Os meus mortos estão cá todos e gostam de sossego. Eles e eu. Todos os vivos partiram. Mas quem é que precisa dos vivos? E será que os vivos estão vivos? Os mortos não estão mortos, em biologia o nada não existe. Com os meus mortos tomo um chá. Conversamos sem mexer a boca, choramos e rimos sem mexer o rosto. Pena que eles tragam atrelada a Saudade, uma gaja chata que estraga qualquer festa, uma penetra. De qualquer modo, falta pouco para o reencontro definitivo, por muito que o instinto queira procastinar. Raio-que-parta esta merda toda.

- Hoje não janto em casa,

vou à festa de anos do Leite.
- Com quem?
- Com uns quantos amigos, tantas perguntas.
-Onde vão jantar?
-Algures perto do Hospital de Sto António.
-Que horror! Aquilo é só tascas mal frequentadas. Nem se pode, sequer, passar no jardim da cordoaria, só prostitutas, paneleiros, ladrões, pensões rasca... Ainda és roubado ou apanhas gripe A. Um meu amigo uma vez comeu numa daquelas tascas e ficou doente do fígado vários meses. Não podiam escolher um lugar mais seguro?
-Estou chocado contigo. A minha mãe tem esta linguagem. Eu estou mesmo chocado. Nem acredito. Paraste no tempo. Aquilo agora é um lugar da moda, se bem que o Leite tenha dado em parolo, o que pode explicar a escollha. Mas é meu amigo, vou ao jantar. São não vou depois ao Act, a discoteca dos azeiteiros. Também o Leite só quer ir ao Act porque o Zé Ricardo ganha dinheiro por cada pessoa que lá mete.
-Quem é o Zé Ricardo?
-É o tipo lá da escola que tem a personalidade de uma mesa.

Pausa

Minha querida Saphou


Vou ausentar-me por uns dias, vou visitar a minha futura casa. Ando saudoso. Que se pode fazer, um homem também tem fragilidades, tenho saudades do Mestre deliroso, de Jorge C. e de mais uns quantos malucos. Estou sem encanto pela blogoesfera, parto para uma grande embriaguez, da qual espero não me recuperar nos próximos tempos. Foste uma grande amiga em deixar-me estar aqui em tua casa, a tua bela casa, eu volto, mas por agora parto, pode dar-se o caso de não ter casa e de voltar, espero contar contigo, grande mãe dos anos 8o.

Tenho que ir, deixo-te este recado, ao jeito do Prof. Antena quero posteriormente debater contigo as conclusões.

Um abraço , um enorme abraço

do teu amigo Privada

Ate sempre!

Happy Halloween




sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Fúria, mas é do açucar: acalmem-se camaradas, companheiros, irmãos! Cá vai musiquinha da República das Bananas

Jorge Jesus, conhecido, em machadez, como "o cretino",

pede desculpa aos adeptos se não vier a golear sempre as outras equipas. Ao que isto chegou! Isso apenas quererá dizer, em jorgez, que "ambos os jogadores das duas equipas jogaram bem".
O "cretino", em machadez, sente, em jorgez, " que a onda está a crescer e que é uma qualidade por mérito própio". Nesta linha de raciocínio, em cervanez, Sílvio Cérvan manifesta o seu júbilo, em "O Dia Seguinte", por dar cinco e seis. Nada temos a comentar, senão isto ia descambar.
BRACARA AUGUSTA nos valha!

Conto de sexta-feira : " As Mulheres"

A mãe de Rita esperava-as com a habitual liberdade histórica no olhar, na rua, numa discoteca, num café, na própria vida real, poderia ser irmã e não mãe de Rita.
Tal característica não serve para a distinguir, da maioria das mães dos anos 70, mais amigas do que educadoras, mais progenitoras do que fontes.

Ana e Rita partilhavam a história de um divórcio no seu passado, o deles, o dos pais hippies, do amor e da liberdade, da aventura e do ego. E havia milhares de jovens como elas e outros milhares a fazer o que os pais das duas fizeram.
Dessa experiencia resultou para as duas, uma premissa, que depois de assumidos os votos de casamento, em consciência, estes serão inquebráveis, trata-se de um juramento sobre a terra e o céu e quem não estiver cônscio disso, deve celebrar a união com festas menos comprometedoras.

Será que essa odeia era o julgamneto directo aos pais, pelo desapego à religião, pela leviandade com que fizeram promessas a si próprios, aos amigos e ao universo; podia esta geração pós-moderna fazer tal coisa?
Por estranho que pareça, a marca da geração auto-didacta de sentimentos, era precisamente a dúvida, a duvida entre a ânsia de desculpar o sentir com a razão, e a razão, que não desculpa a falta de sentir.

Em consciência tinham relegado, até à altura, tais votos. Ana tremia sempre que era obrigada a testemunhar a leviandade dos amigos no altar, a prometer fidelidade, amor e compreensão, muitas vezes apenas iludidos pelo sexo, esse tal factor, que de tão instável e humano, não pode ser critério base de promessa eterna.
-“ Desconfiem sempre de quem vos promete o amor eterno, na cama” – Esta geração era afinal, em alguns pontos, mais Salazarenta que os fieis de Fátima.

A força das mulheres da geração de Rita e Ana, vinha do arraso que as mulheres dos anos 70 tinham dado nos homens da época, deixando-os a penar pelos cantos, a engolir o divórcio e a solidão, com garrafas de tinto e whisky.
Foi com certeza um grande golpe e por isso, aquelas mães mereciam sempre o abraço camarada da filosofia social e política, e muitas vezes só isso, a gratidão pela liberdade, pela força, pela luta que continuava a ser preciso empreender. Mulheres fortes não precisam de carinho, nem dos filhos. As heroínas são para ser descritas e não amadas, idolatradas e não beijadas.

Mas, Ana tinha um filho, Rita tinha um sobrinho, pensavam e discutiam muitas vezes a sua educação, sempre com base nesse exemplo, acrescentando beijos e carícias, lançando o boomerang, mas sem conseguirem também elas evitar o epíteto de heroínas, e caminhar a passos largos para uma razão sem sentimentos assumidos, para uma solidão conscienciosa, como o elefante memorioso que se afasta dos seus para partir.
Se bem, que todas as partidas são afastamentos, e as mulheres deste e do outro tempo queriam fazer as contas no fim, como se figura-se a ideia que as heroínas são eternas e que haveria tempo para decidir o que acrescentar à luta e passar o testemunho aos seguintes, sem sentir o egoísmo das condutas filosóficas, que nos colocam nas guerras evolutivas que lutam contra as armas, que usamos nelas.
Eram demasiado jovens para ter certezas. A vida tinha que ser construída e, agora depois dos 30, nenhum passo mais poderia ser dado ao acaso, e esse seria o assunto para mais aquela noite de ébria reunião.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Astérix, Obélix & amigos

Passei das melhores horas da minha infância a ler os livros de Astérix. Lia e relia, ria à gargalhada, outras vezes ficava com um sorriso demorado. Partilhava o divertimento com o meu pai. Fã incondicional que me ofereceu o primeiro livro. Repetiamos aquelas tiradas de humor, e era uma coisa muito nossa.
Goscinny e Uderzo faziam uma dupla imparável, com o génio dos enredos de Goscinny aliados à mestria do desenho de Uderzo.
Quando Goscinny morreu, a série devia ter parado. Nunca mais qualquer dos livros seguintes teve a mínima graça, por comparação. Ainda assim, em homenagem ao passado, à procura desses momentos, fui comprando e alimentando o mercado, como biliões de outros leitores. Mas o encanto estava irremediavelmente perdido.
O dia em que comprei um livro e, para surpresa minha, verifiquei que a tradução dos nomes dos meus queridos de sempre tinha sido objecto de uma revolução, foi o BASTA. Porque raio é que o chefe da aldeia, desde sempre Abraracourcix, passou a Matasétix? E o bardo, Assurancetourix, passou a Cacofonix? Já para não mencionar o peixeiro, o ferreiro, o velhote, a mulher do chefe e a mulher do velhote...Com que direito é que um fdp de um tradutor com o amén da editora ASA me vinha vinha mudar o nome aos meus amigos de sempre?
Nunca mais comprei qualquer livro da série. Guardo os da infância e da adolescência, onde estão as obras primas. Felizmente, consegui repor a colecção da dupla Goscinny/Uderzo, na versão antiga, porque emprestei vários livros a pessoas que nunca me fizeram o favor de os devolver. Mas com os livros é mesmo assim. Por mais amigo que o tipo seja, nunca se deve emprestar um livro. Nunca terá volta. Mais vale oferecer.
...
P.S.:Gostei ler Astérix em Mirandês.

O Correio da Manhã brinda-nos sempre com notícias que são mimos,

desta vez, com o esmero de fazer a tradução, pode o leitor não saber o que fuck you significa e, mais do que isso, uma tradução púdica. Grande Schwarzenegger, que até é baixinho. Cada um tem o seu Alberto João Jardim. Mais do que isso, grande ideia para uma marca de prestígio.
29 Outubro 2009 - 13h08
Primeiras letras de cada linha formam frase "fuck you"
Veto de Schwarzenegger manda rival "f...-se". O governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, poderá ter inventado uma forma criativa de insultar rivais políticos ao escrever a razão para vetar uma proposta de um rival democrata: as primeiras letras de cada uma das linhas manuscritas formam a frase "fuck you", que pode ser traduzida por "vai-te f...".
Um porta-voz da ex-estrela de Hollywood veio dizer que se tratou de 'uma coincidência', mas já alguns peritos calcularam que a hipótese de aquelas letras aparecerem aleatoriamente naquela ordem no início de linhas de texto é de um para dez mil milhões.
A proposta que poderá ter enfurecido o actor conhecido por filmes como 'Conan, o Bárbaro' ou 'Exterminador Implacável' dizia respeito à remodelação de uma parte do porto de São Francisco.
Por coincidência ou talvez não, o autor da proposta, Tom Ammiano, notabilizou-se no início deste mês ao chamar 'mentiroso' ao governador da Califórnia durante uma cerimónia do Partido Democrata, para a qual o republicano Schwarzenegger tinha sido convidado.
L.R.

A resistência ao poder central



Um brutal gordo, sensível e ingénuo, sempre pronto para a pancadaria, um amigo inteligente que nunca o abandona, um preparador de hoasca, uma aldeia de gente normal, peixeiros, peixeiras, ferradores, um presidente burro, todos juntos contra os romanos, que podiam muito bem ser mouros ou benfiquistas.


Gosto do Asterix e dos amigos, e sobretudo da Gália, fazem-me lembrar qualquer coisa!

Facebook: ao que eu cheguei

Não posso ir dormir já, apesar de estar a cair de sono, porque senão perco a minha colheita de morangos em FarmVille e com isso uma pipa de massa essencial à minha sobrevivência. Agricultora virtual sofre quase tanto como mãe de Tamagoshi.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Alguém, cujo nome não digo, mas que afirmou estar muito ocupado

com prazos a cairem-lhe em cima até quarta ou quinta-feira, diverte-se na Ciberjus, com piadolas geniais sobre Deus e Saramago. Não bloga, mas manda e-mails às dúzias.
Exemplos:
"O problema é que os "mais fortes de Fé" tendem a ser os mais fracos de juízo. Não é por acaso que os templos da Igreja Universal do Reino de Deus estão sempre a abarrotar".
"Não. O problema de Saramago é, na sua qualidade de autodidacta, ter tido como mestre um verdadeiro ignorante".

IKEA, por Ricardo Araújo Pereira


IKEA - Ricardo Araújo Pereira

Não digo que os móveis do IKEA não sejam baratos. O que digo é que não são móveis. Na altura em que os compramos, são um puzzle. A questão, portanto, é saber se o IKEA vende móveis baratos ou puzzles caros. Os problemas dos clientes do IKEA começam no nome da loja.Diz-se «Iqueia» ou «I quê à»? E é «o» IKEA ou «a» IKEA»?São ambiguidades que me deixam indisposto. Não saber a pronúncia correcta do nome da loja em que me encontro inquieta-me. E desconhecer o género a que pertence gera em mim uma insegurança que me inferioriza perante os funcionários. Receio que eles percebam, pelo meu comportamento, que julgo estar no «I quê à», quando, para eles, é evidente que estou na «Iqueia».As dificuldades, porém, não são apenas semânticas mas tambémconceptuais. Toda a gente está convencida de que o IKEA vende móveis baratos, o que não é exactamente verdadeiro. O IKEA vende pilhas de tábuas e molhos de parafusos que, se tudo correr bem e Deus ajudar, depois de algum esforço hão-de transformar-se em móveis baratos. É uma espécie de Lego para adultos.Não digo que os móveis do IKEA não sejam baratos. O que digo é que não são móveis. Na altura em que os compramos, são um puzzle. A questão, portanto, é saber se o IKEA vende móveis baratos ou puzzles caros.Há dias, comprei no IKEA um móvel chamado Besta. Achei que combinava bem com a minha personalidade. Todo o material de que eu precisava e que tinha de levar até à caixa de pagamento pesava seiscentos quilos.Percebi melhor o nome do móvel. É preciso vir ao IKEA com uma besta de carga para carregar a tralha toda até à registadora. Este é um dos meus conselhos aos clientes do IKEA: não vá para lá sem duas ou três mulas. Eu alombei com a meia tonelada. O que poupei nos móveis, gastei no ortopedista. Neste momento, tenho doze estantes e três hérnias. Éclaro que há aspectos positivos: as tábuas já vêm cortadas, o que é melhor do que nada. O IKEA não obriga os clientes a irem para a floresta cortar as árvores, embora por vezes se sinta que não faltará muito para que isso aconteça. Num futuro próximo, é possível que, ao comprar um móvel, o cliente receba um machado, um serrote e um mapa de determinado bosque na Suécia onde o IKEA tem dois ou três carvalhos debaixo de olho que considera terem potencial para se transformarem numa mesa-de-cabeceira engraçada. Por outro lado, há problemas desolução difícil. Os móveis que comprei chegaram a casa em duas vezes.A equipa que trouxe a primeira parte já não estava lá para montar a segunda, e a equipa que trouxe a segunda recusou-se a mexer no trabalho que tinha sido iniciado pela primeira. Resultado: o cliente pagou dois transportes e duas montagens e ficou com um móvel incompleto. Se fosse um cliente qualquer, eu não me importaria. Mas como sou eu, aborrece-me um bocadinho. Numa loja que vende tudo às peças (que, por acaso, até encaixam bem umas nas outras) acaba por ser irónico que o serviço de transporte não encaixe bem no serviço demontagem. Idiossincrasias do comércio moderno.Que fazer, então? Cada cliente terá o seu modo de reagir. O meu é este: para a próxima, pago com um cheque todo cortado aos bocadinhos e junto um rolo de fita gomada e um livro de instruções. Entrego metade dos confetti num dia e a outra metade no outro. E os suecos que montem tudo, se quiserem receber.
(agradeço o envio a Claras)

Ora bolas!

"Um dia destes, em Salto (Montalegre), houve quem pensasse que tinham "apanhado o diabo". Na verdade era um yak vietnamita, um dos animais do circo Irmãos Torralva, que ontem, estava de partida de Chaves. "
Agora, o que poderá ser um Yak veitnamita, parecido com um diabo

Hipotese 1: Gremlins Mogwai ?










Hipotese 2 : Taz????

















Hipotese 3 : Um avião???

Jorge C. no purgatorio?

Interrogo-me sobre o que andará Jorge C. a tramar, imagino que novo nome daria a um novo blog da sua autoria, sim porque está fora de hipótese Jorge C. deixar de escrever, como podia, é um viciado nas letras e nas difusões. Gosto de ler Jorge C. , onde andará este vagabundo, que novos tratados anda ele a magicar. Aquele fim foi forçado, Jorge C. queria nova roupagem, em que loja da baixa estará? Mas sobretudo que nome terá ele agora, por mais que me esforce só me ocorrem piadolas e Jorge C. , esse traidor, nunca daria por piadola um nome a um blog.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O império das Lois

O Osório, modéstia e à parte, sempre teve jeito para contos, lembro hoje, aquele dia, em que, a pedido da professora, escreveu aquela magnífica composição de 3 linhas, onde afirmava que o hábito do monge é rezar missas e fazer funerais, como o Sr. Padre Caridade, e assistir às crismas com os bispos.
Lembro-me ainda de Osório ter dúvidas sérias quanto à afirmação sobre os crismas, escreveu à sorte, por lhe parecer que os hábitos dos monges não podiam ser quase nada.

Já para mim não havia dúvidas, se o monge se habituasse a fazer qualquer coisa, seria um monge, sem hábitos uma pessoa não era nada. Por exemplo, quem não se habituasse a lavar os dentes depois das refeições, teria cáries.

Como sempre, a professora privilegiou a Elsinha, a filha do Presidente da Junta, que escreveu qualquer coisa estúpida, como a roupa que vestimos mostrar quem somos.

Foi a partir desse dia, e numa longa cavaqueira nas escadas do portal, que Osório e eu decidimos que não largaríamos, jamais , as nossas calças de bombazina.

Felicidade

Tenho que partilhar a felicidade com os meus amigos e leitores:
As minha dores de cabeça mudaram para um novo local, dando-me a oportunidade de saber que também tenho laterais no crânio.
Desde segunda-feira que ocupam o parietal esquerdo, são levezinhas, aquecem o temporal e provocam-me uma certa confusão ao direccionar as órbitas para a esquerda.
Isto é fenomenal, já estava farto e cansado de pesos mentais nos mesmos sítios, até já nem me doíam.
De facto, estes 33 anos estão a permitir-me renovar tudo, inclusive as dores nos ossos do cérebro. Estou sinceramente fascinado.

O Mestre sai para meditar - Privada recorda Professor Antena

"Em pequeno — aponta ainda o sábio — colocando-me em face dum espelho, estremecia não me conhecendo, isto é: apavorado do meu mistério. Entretanto a sensação que me oscilava — descubro agora — não era verdadeiramente esta. Parecia-me antes, não que me desconhecia, mas que já soubera outrora quem fora — e que hoje me esquecera, sendo impossível recordar-me por maiores esforços que empregasse."

In "A estranha morte do professor Antena", Mario de Sá-Carneiro

Cuidado com RUCA, o cão anti-pirataria e cuidado com a irmã da Amélia

Pode levar dois ou três CDs ou DVDs na mala que ele não detecta (foi uma informação útil da Autoridade, que agradecemos), mas não muito mais do que isso. Não desafie a competência do cão farejador de pirataria. Será que RUCA é sensível se lhe chamarmos Ruquinhas? Será subornável com um osso apetitoso?
...
Para quem teve a infeliz ideia de ver o programa da irmã da Amélia, Prós e Contras, repararam que ela corrigiu de imediato o Bastonário da Ordem dos Advogados, Pires de Lima, quando ele mencionou o termo "falência"? Fátima Campos Ferreira, conhecedora do CIRE, de imediato disse, passo a citar: "insolvência, hoje ninguém fale!".
Já tratamos deste tema aqui. No nosso blogue estamos sempre na crista da onda, tentando não nos espatifar.

Depois de assistir aos comentários do tendencioso jornalista no jogo SLB/Nacional da Madeira, dou a palavra a Alberto João Jardim

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Da impenhorabilidade dos túmulos

Caí na asneira de explicar que não é só por razões de sobrevivência do devedor que há bens impenhoráveis. Também existem razões ligadas ao interesse público, aos bons costumes, ao decoro, e exemplifiquei com os túmulos.
Um senhor pouco mais novo do que eu, ainda por cima com idade para ter juízo, saltou da cadeira como se eu tivesse dito a maior bacorada jamais ouvida. Indignado, afirmou:
-Mas os túmulos valem muito dinheiro! Como é que não são penhoráveis? Já viu bem os preços?
-Pois é, mas não são.
-Nunca me passaria pela cabeça. Tem a certeza?
Pacientemente, criei-lhe uma imagem.
-Ó meu caro, imagine uma família inteira de ossadas a ser despejada porque um descendente de quinta ou sexta geração se endividou até ao limite. Mandavam-se as ossadas para a lixeira municipal? Remetia-se tudo para casa do devedor em pacotes etiquetados, ou caixinhas do chinês? E se o devedor estivesse ausente em parte incerta? E os mortos mais recentes?
É certo que o avô do Luís Cardoso, troll amigo cá de casa, foi pela retrete abaixo, mas isso foi por ter sido cremado e a empregada de limpeza achar que a jarra estava cheia de pó.
-Visto desse ponto de vista, é que nunca me tinha ocorrido...e ficou com o olhar parado no infinito.

Até fiquei gaga com estes nichos de mercado por explorar.

Afinal, a gaguez, que afecta cerca de 100.000 portugueses, fora os que não assumem, tem como única causa não haver gente competente para tratar o problema. Só está desempregado quem quer. Gagos não faltam , à sua espera.
Já agora, também é de ponderar a criação de uma nano-micro empresa de desinfectante contra a gripe A. Já viram o preço dos pacotes de lenços de papel ou do gel na bomba de gasolina?
Associado, está o sucesso das luvas e papel à disposição de qualquer tipo que mete gasóleo ou gasolina. Saphou a meter gasóleo é um filme com casa cheia garantida. Não é um filme gago, mas é um filme sobre uma hipocondríaca a passos largos para ficar gágá.

Não me mintas



Jaime - Um filme no Porto

Eu queria unir as pedras desavindas
escoras do meu mundo movediço
aquelas duas pedras perfeitas e lindas
das quais eu nasci forte e inteiriço

Eu queria ter amarra nesse cais
para quando o mar ameaça a minha proa
e queria vencer todos os vendavais
que se erguem quando o diabo se assoa

Põe aqui a mão e sente o deserto
Tão cheio de culpas que não são minhas
E ainda que nada à volta, bata certo
eu juro ganhar o jogo sem espinhas

Esaú e Jacó

Brincavam juntos, riam e, principalmente, contrapunham-se.
O outro dizia que tinha poderes e era mágico, ele era humilde e obedecia às exigências dos pais, que renegavam o outro, não o ouviam, nunca o viram, recusavam-se a servir-lhe um prato à mesa, a dar-lhe um brinquedo, destituindo-o de ser filho também.

Não há pais de filhos únicos, há pais de filhos que geram os seus próprios irmãos, não há nesta gravidez qualquer incesto físico.

Porto Sentido, à Segunda-feira (Rui Veloso/Carlos T)

Pronúncia do Norte, à Segunda-feira (GNR)

domingo, 25 de outubro de 2009

Mentirosos. Portugal não tem 159 espécies em risco de extinção.

Tem 160, pelo menos. Lembram-se do lince ibérico e dos caracóis da Madeira e dos Açores, talvez até das cagarras e do mosquito-finge-que-pica, mas esquecem a espécie Saphou, de que existem raríssimos exemplares e não se reproduz em cativeiro. Está completamente votada ao abandono.

As últimas fantasias sexuais de um homem

Pssssst pessoal, cheguem aqui por favor:
o novo livro do Saramago é sobre sexo, orgias diárias tendo por personagens os homens e as mulheres das parábolas. Incesto, filhas histéricas que "amarram" o pai, Job, Caim, Abel ...
Um retrato de mulheres deseperadas por sexo e de meia duzia de homens incapazes de as satisfazer.
Das passagens que li, considerei umas mais medonhas que outras, definitivamente, gosto de fantasias com gajas mais modernas depiladas, fiquei enojado.

Então o padre de Covas de Barroso, em Boticas,

é gangster nas horas vagas? Já nem o clero escapa. Enquanto celebrava a missa, tinha a fusca debaixo do paramento, à cautela; obtinha as confissões à bala; pescava na base da explosão das bogas e taínhas... eu sei lá. Ou será um terrorista infiltrado? Mais um pobre desesperado? Um erro de vocação? Está tudo em aberto, aqui, neste jornal de referência. O apelido aponta para o carácter bélico do padre, de nome Fernando Guerra.
Mas era escusado prender o pároco em plena sacristia, a seguir à missa, perante o espanto dos crentes. Haja decência, haja pudor! A GNR podia muito bem prender o sacerdote na calada da noite, no conforto do lar.
....
Tanto espalhafate para lhe ser aplicada a medida de coacção mais banal: termo de identidade e residência. Para isso, nem valia a pena ter aprisionado, de forma ignóbil, o Senhor Padre Guerra. Ora, ora...

Reparem nesta notícia, infeliz, desde logo, pela causa que a originou; desejamos as rápidas melhoras à Senhora Roberta McCain

Norte-americanos retiraram bagagem de hotel Borges, onde mãe de Senador do Arizona esteve hospedada

Roberta McCain, mãe do último candidato republicano à Casa Branca, permanece internada no Hospital de São José, após ter desmaiado na Baixa de Lisboa e ter sofrido ferimentos na cabeça.
“A doente encontra-se em situação clínica estável e sob vigilância”, divulgou ontem fonte do gabinete de Comunicação do hospital, onde a idosa, de 97 anos, deu entrada quinta-feira.
Sozinha em Lisboa, Roberta aguarda alta hospitalar para regressar aos Estados Unidos com a nora, Cindy McCain. O senador do Arizona, John McCain, falou, entretanto, com a mãe, informando que se encontra bem. Roberta McCain não chegou a dormir no Hotel Borges onde reservou uma noite. Pessoal da embaixada norte-americana formalizou, entretanto, a saída do hotel.
...
-..."ontem", não devia estar entre vírgulas?
-Ou é Gabinete de Comunicação, ou gabinete de comunicação; Gabinete de comunicação, ou gabinete de Comunicação, não dá! Já para não mencionar hospital; não deveria ser Hospital?
...
-Não entendemos a contradição do terceiro parágrafo. Se está sozinha, não está com a nora Cindy McCain. Ou a nora comporta-se de tal forma que é como se não estivesse cá? Que saibamos, a notícia não critica o comportamento da exemplar Cindy McCain. Ou Cindy McCain não está cá e só se mete no avião quando a Senhora estiver à porta do hospital com ordem de despejo?
...
- Na frase seguinte, quem é que informou que se encontra bem? Não deveria ser a Senhora Roberta McCain? Se foi John McCain, como decorre do texto, informou quem? O infeliz que escreveu?
...
-Se a Senhora está internada, é natural que não tenha pernoitado no hotel, uma vez que não tem o dom da ubiquidade. Mas no título diz-se que esteve hospedada! Só se fez o check in e se estatelou de seguida, o que é uma hipótese a considerar. Mas o texto é omisso.
...
E por falar no título, não era aí que deveriam mencionar o nome de John McCain? Parece um livro polícial rasca, ainda por cima de meia dúzia de linhas, uma vez que todos sabem, desde o início do texto, de que se está a falar a mãe dele, famoso cá não por ser "Senador do Arizona", mas por ter perdido com Obama nas últimas eleições e pela forma exemplar como sempre se comportou durante a campanha e após de ter perdido.
...
-A retirada da bagagem, pomposamente,"de hotel Borges" parece ser o mais importante no meio disto tudo, atendendo ao título. Não esquecendo que a pompa do "de" é arruinada pelo facto de "hotel" vir em minúsculas.
Os norte-americanos que tiraram a bagagem, afinal, são gente da Embaixada. E tiraram a bagagenm,"de hotel Borges" porquê? Recorde-se que, em versão anterior, a Senhora teria caído à saída do hotel, o que deixava em aberto um eventual desleixo do pessoal.
Aqui há manipulação de informação ou, melhor dito, aqui há marosca. Afinal, "hotel Borges" é fantástico, ou tem responsabilidades no caso? Será que esta notícia se baseia num e-mail de fonte que quer dar cabo da reputação "de hotel Borges"? Ou é mera coincidência?
...
E isto de deixar uma Senhora de 97 anos viajar para Portugal sozinha e andar sozinha na Baixa esburacada, sebenta e perigosa de Lisboa configura, no mínimo, negligência grosseira. Por muito aventureira que seja a matriarca McCain e por muito que goste de viajar. Querem ver que também alguma fonte anónima quer tramar a reputação impoluta, até agora, dos McCain? Nem um guarda-costas a acompanhar a Senhora, nem uma amiga robusta? Nem a irmã gémea, companheira habitual? Sabe-se como a Roberta McCain é teimosa, mas podia ser protegida discretamente.
...
Por fim, porque é que não enviam um avião particular, com todo o equipamento médico necessário, e não levam a Senhora para um hospital top de gama nos EUA ou, pelo menos, top de gama em Portugal ou Espanha? Mesmo em Lisboa poder-se-ia arranjar melhor. A família é conservadora e rica, please! Não se deviam misturar com a populaça. Para as suspeitas não recaírem sobre os McCain, alguém deveria fazer um comunicado a dizer que a Senhora não pode ser transportada. Mas, se for assim, então o caso já é suficientemente grave para o filho se meter num avião particular ou alugado e fazer o sacrifício de descer à imundície do cu da Europa. Preso por ter cão e preso por não ter. Ou será que a Senhora Roberta McCain, a matriarca, que sobreviveu até aos 97 anos de idade, é considerada pela família um estafermo tal que merece ser deixada ao abandono, sozinha, num hospital público nacional? Não cremos.

Fonte: Correio da Manhã on line aqui.

PS: não deixo de registar a forretice da Senhora, que fica hospedada num hotel de 3 estrelas.

sábado, 24 de outubro de 2009

Livros de Auto-ajuda

Não são recomendáveis.
São altamente eficientes.
Quando bem interiorizados, transmitem a sabedoria necessária para se atingir os objectivos profundamente delineados, sem considerar o esforço.

Com este conhecimento, o leitor pode perfeitamente conseguir uma vida estável, casando com um idoso acamado, mas ver a coisa pela positiva, aprender a focar-se no BMW preto.

Estava à espera do amarelo? A BMW nunca venderia um carro amarelo, é preciso sonhar decentemente para que o mundo não nos acorde para a realidade. Não há BMW amarelos, ponto.

- Já reflectiu a sorte que tem em ter um BMW? Já pensou que neste momento há homens a circular em Pandas?

Os livros de auto-ajuda acordam as pessoas com capacidades adormecidas, tudo com meia dúzia de verdades cruas e duras. E resulta, porque nos tempos que correm há muita gente que anda dormir, sobretudo nos autocarros e no metro e, muitas vezes, no IC1. Pessoas que têm as capacidades de tal maneira adormecidas que queimam o tacho. Os livros de auto-ajuda chamam a atenção sobre estes pormenores simples e muitas vezes subestimados.

Deus o livre, caro leitor, de deparar com um leitor esclarecido nos livros de auto-ajuda, ele emana um poder tal de positivismo, que pode acabar empenhado na tarefa de o ajudar a cumprir os seus objectivos, por exemplo, promovendo-o a seu conselheiro, quando você trabalha numa padaria.

Tri Yann

Roosevelt Sayings

Speak softly, but carry a big stick

(Theodore Roosevelt)

Cá está o único Ministério que faz mesmo falta em Portugal, para ficar tudo a condizer

Luís Amado

Que, em tempos
Não foi cumprimentado
E calou,
Agora foi recompensado.
Sócgates nunca esquece.

O nosso ministro da defesa indigitado não deixaria isto impune

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Conto de sexta-feira : " A senhora"

Entraram no café, o único que permitia fumadores. Na mesa do canto, em frente à montra, uma senhora de olhos azuis, com os seus 80 anos, cabelo ripado num carrapito, fumava um cigarro e observava o movimento da rua, parecendo não prestar atenção ao galão que tinha na mesa.
Ana estremeceu, pensou que aquela senhora tinha estranhas semelhanças com ela própria, apesar de entre elas haver, no mínimo, 40 anos de diferença. Pediu o café, a senhora da mesa do canto encarou-a com um sorriso e disse-lhe:

- Muito bom dia, como está?
Ana devolveu o cumprimento e o sorriso cúmplice, na sua cabeça continuava a ideia de que a sua velhice poderia ser parecida com a daquela senhora de cabelo branco ripado, sentada na mesa do canto.

A Rita estava entusiasmada com a sua nova prova de aferição a um cargo superior, no ano passado tinha ficado à porta, no 3 lugar, não era o cargo que a entusiasmava, mas a hipótese de através dele poder voltar ao Porto. Falava depressa, todos os minutos contavam, na Segunda-feira teria de voltar para Lisboa, onde não tinha tempo para nada, embora passasse os fins-de-semana em festas atestadas de álcool e, mesmo ali, com as amigas de sempre, já tinha bebido 3 finos. O que era pouco, para aquilo que ultimamente a Rita bebia, a tarde estava ainda no início, sabiam que à noite sim, Ana esgotaria o vodka, e as amigas zombando inchariam o fígado com cerveja, nas habituais conversas até às 6 da manhã, libertas de homens e algumas sujeitas a grandes discussões à chegada a casa, mas era um mal cada vez menor, nada podia pagar aqueles momentos de liberdade. Rita continuava sózinha, sem esse tipo de preocupação. Lisboa tinha-lhe mostrado que o Rodrigo não era homem para ela e, de facto, não era, mas Rita nunca escolhia bem os seus homens.

Lisboa tinha-lhe ensinado a liberdade, que há muito todas tinham perdido, e trouxe a liberdade às amigas e deu-lha assim, como quem dá tudo aquilo que tem e fica cheio só com isso.

A Rita e a Ana tinham estabelecido os seus ideais de vida juntas, de uma forma ou de outra estariam unidas, nem que fosse só no fim. Juntas tentavam moldar o pessimismo da Marta, zangada muitas vezes com o que vida lhe deu, incapaz de reconhecer os seus valores intrínsecos, tinha-se refugiado na igreja, no filho, na família que já não suportava. Era mais velha, ria-se do entusiasmo, contrapunha as ideias, estava quase sempre triste e quando distraída, os olhos ficavam-lhe desanexados, perdidos na escuridão do seu castanho profundo. Em casa já tinha conseguido a indiferença e, ao contrário de Otília, não era insultada por ter passado a noite com as amigas, deixando o filho com o marido. Chegaria a casa, dormiria e ele sairia para um qualquer compromisso, deixando-a a ressacar a sós, sem a incomodar alapado no sofá, condicionando-lhe os movimentos.

Otília, por seu turno, chegada a casa viveria o inferno de sempre, provavelmente teria até o fecho de segurança corrido. Por sua causa, muitas vezes madrugavam na pastelaria, ainda bêbadas e sonâmbulas, para que ela não tivesse que esperar no patamar a abertura da porta da sua própria casa.

Aquelas noites eram um peso e uma consolação. Ali hipotecavam o seu mundo e não faziam grande sentido aquelas bebedeiras, mas eram tão importantes nas suas vidas, que quando se separavam como amantes, remoíam as conversas, trocavam e-mails e, sobretudo, compravam novos livros.

Otília contava os insultos de que tinha sido alvo, diga-se que ou ela já não os ouvia ou eles tinham diminuído. O que é facto é que o marido a acusava do mesmo crime, que ela pensava que ele praticava, embora nenhum dos dois tivesse a menor prova disso.

Estava a escurecer, a mãe de Rita faria o jantar com as compras que ela tinha feito e cujo custo seria dividido irmãmente. Depois deixaria as amigas a sós.

A senhora da mesa levantou-se, pôs a mão sobre o ombro da Ana e disse:
- Boa tarde, foi um prazer -la. Até sempre.

Ana voltou a responder de forma automática e, enquanto via a senhora de cabelo branco ripado desaparecer ao cimo de rua, perguntou às amigas quem era tão ilustre figura. Nenhuma delas a conhecia, nem sequer a tinham visto antes, pensavam que seria conhecida de Ana e, atendendo às semelhanças, que até fosse da sua família e por isso também lhe tinham desejado um resto de boa tarde, em coro.

António Augusto de Ascenção Mendonça

Vou aproveitar para me corresponder com ele, enquanto é só indigitado. Por mim, pode mandar construir 6 auto-estradas a ligar Porto a Lisboa, 10 TGVs e 20 aeroportos. Não me tirem este pão do governo. E ai da Ministra da Educação se lhe dá para escrever "Uma Aventura na Obra".

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Com a nova ministra da educação, este é um livro de leitura obrigatória

Este e toda a colecção "Uma Aventura", que a Ministra não vai brincar em serviço. O próximo livro, já no prelo, será: "Uma Aventura num Governo de Rotos e Remendados".

Significados improváveis. Contribua com o seu

aspirado- carta de baralho completamente maluca
armarinho- aragem proveniente do mar
caçador- indivíduo que procura sentir a dor
fogão-incêndio de grandes proporções
missão- culto religioso com mais de três horas de duração
padrão- padre muito alto
violentamente- viu com lentidão
detergente- acto de prender seres humanos

(Fonte: Revista Pão com Manteiga)

Contributo de Saphou:

boicota- bovino já velhote

Le professeur de français

Tive uma professora de francês que era mesmo francesa. Mas magra, de saia a meio torniquete, baixa, a mãe e a tia, essas sim, dignas da aristocracia da cidade das luzes.
A senhora não falava, piava, com os lábios fechados, fazia-me me lembrar a namorada do Zé Carioca. Mantinha longas conversações em francês com a menina Fernanda, recentemente chegada dos subúrbios parisienses.
Oh, eram tremendos os elogios e as comparações entre o nosso país e o país onde estas duas amostras de gente tinham vivido.

Eu, ignorante, prepotente, javardo e julgo que meio metaleiro na altura, atirava-lhe com Balzac, a torto e a direito, devo dizer que ensaiava à noite tiradas cínicas do autor e no meu francês porreiro, destroçava-a. Ela respondia: - Se o menino soubesse alguma “coisinha” de francês compreenderia melhor o autor, pois poderia lê-lo no original. – E falava em português, porque se fosse na língua da aula, não me ofenderia.

Excluído, sem qualquer capacidade de escrever um texto com sentido para os franceses, juntei-me ao Metralha, o veterano, inventamos-lhe o nome de “Pipi oui!” dito assim com lábios à piriquito. - Oh notre cheri Pipioui!

Deu-me um injusto e monumental 7 na pauta, fui à oral. A Pipi Oui abanava a cabeça, comentava que eu, moi, era incapaz de conjugar um verbo e ria aos bocadinhos, piu piu piu. Subiu-me uma inspiração e mal saímos da gramática, o francês fluía-me da boca , disse tantas respostas boas e correctas que tive um 10, é verdade, a sério, também eu fiquei admirado.

- Vai lá Privada, devias ter vergonha, o Francês é uma língua essencial e o Balzac, Privada, devias lê-lo de forma crítica. Vai e atenção ao Jornal deste mês, olha que estás por um fio, já disse ao teu avô a situação em que te encontras, não voltes a exagerar. Ganha juízo enquanto é tempo, tens capacidade para seres mais do que um tolo.

Agradeci com toda a humildade que sabia ter nestas alturas, estavam a dar-me uma oportunidade:

- Obrigado Doutor, muito obrigado, não o desiludirei, fica garantido.
- Vai semelho vai!
- Então, allor merci, et bonjour por vous! Com votre licence, au revoir.

Fechei a porta, sentindo dentro de mim um YES!, cheguei cá fora e aos amigos disse a verdade, porque aos amigos mente-se na ordem em que mentimos a nós proprios :
- Estavam à espera de quê? Bem vos dizia, a gaja deu um 7 ao Balzac não foi a mim. Tá feito, e com mérito, vamos ao bar!
Lá fomos comemorar a minha vitoria, com o guito do Abel, o filho do dono da fabrica de papel.

DE PUTA MADRE: una marca renombrada.

Já tem a sua T-Shirt? Calças? Saia? Vestido? Vá ao site oficial ou procure numa boutique próximo de si, sobretuto se optar pela DPM GolD. E não pense em saramaguices porque De puta madre não quer dizer nada dessa ordinarice em que está a pensar. Nem eu colocaria uma merda dessas no blog, que tenho um profundo respeito pelas mães. Simplesmente, acho fascinante a história desta marca irreverente e provocadora que acabou por entrar no mundo da alta costura da forma mais improvavável. Será que Saramago tem uns calções ou calças DPM? Não é provável. É que muitos dizem “Made in Vatican” ou “Made in Nazareth”, e isso seria usar calções de maus costumes. Saramago é muito púdico. Até a Bíblia o afecta.

Oh les lumières

“Enfim, os franceses proclamaram-se todos iguais nos seus direitos, e também nas suas vestes, e a cambiante no tecido ou a diversidade nos trajes deixou de ser distintivo das condições sociais.

Como então reconhecer-se no seio desta igualdade? Por que traço exterior distinguir a classe de cada indivíduo?
A partir dali, estava reservado à gravata um propósito novo: ela nasceu para a vida pública, conquistou importância social; foi chamada a ressuscitar os matizes integralmente apagados do vestir, converteu-se no sinal pelo qual se distinguiria o homem digno deste nome do homem sem educação.

Porém, teria mil vezes mais prazer em ser o glutão dos glutões do que de não ter nenhum traço distintivo em termos gastronómicos; nada é mais penoso do que ser igual a todos os demais.

Um escritor absurdo, mas excessivamente absurdo, alcança mais mérito aos meus olhos do que um escritor medíocre, do que um autor como qualquer um pode ser. O absurdo em excesso é o génio da asneira. Em gastronomia, dá-se o mesmo com a glutonaria.”


Ohhhhhhhh très bien Monsieur Balzac! Très bien! Clap Clap clap
Bonjour SEC XXI
In Do Vestir e do Comer

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sinónimos: novas palavras que devem integrar o Dicionário da Academia

Saramaguice/ saramaguices - grande/s disparate/s dito/s ou efectuado/s por pessoa convencida de que a sua interpretação monolítica tem um valor dogmático, pessoa essa em estado de demência pré-senil ou mesmo senil.
...
Exemplo1: Temos de ser condescendentes. Sua Alteza tem quase noventa anos, por isso é natural que insista em fazer saramaguices, embora todos saibam que o penico não é para ser usado na cabeça.
Exemplo2: Bisavó, não digas saramaguices, o livro "500 Potato recipes" não é um manual de maus costumes.

Poema de António (Mofina) Gedeão, um comentário que é um post.

POEMA DA AUTO-ESTRADA
(de António Gedeão, declamado por Mofina)
...
Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta
Vai na brasa de lambreta.
...
Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.
...
Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volu'pia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio nao e' com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pelo cintura.
Vai ditosa, e bem segura.
...
Como rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que enterra.
Tudo foge 'a sua volta,
o ceu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demonio com asas.
...
Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
sao ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.
...
Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa de lambreta.
...
Bem que a Leanor da verdura apreciaria mais esta versão.
Está tudo muito erótico por aqui hoje. Menos eu.

Um conto à quarta-feira

Era noite e as estrelas brilhavam tão intensamente que às vezes pareciam luzinhas da árvore de Natal.
A Anabela tinha acabado de jantar e foi ler um pouco até que ouviu a sua mãe chamar:
- Filha vai lavar os dentes.
Quando ia pegar na escova de dentes abriu-se um buraco debaixo de si e caiu num barco no meio do mar.
Ela chorava, chorava e, passadas algumas horas, pensou em voz alta:
- Para quê chorar, não adianta de nada. Já sei o tenho que fazer. É a única solução, vou remar. Anabela remou e remou Até que chegou a uma ilha chamada Chamakumu.
Depois, foi arranjar alguns frutos para comer. Lá, havia muitos cocos e muitas bananas. Ela queria bananas, mas estavam em bananeiras muito altas, pelo que teve que ir aos coqueiros.
Tinha acabado de tirar o último coco, quando apareceu um grande lobo esfomeado. Quando chegou perto dela, parou a olhar e enroscou-se nas suas pernas como um gato.
Era um milagre! Parecia que os animais de lá gostavam dela. Passado algum tempo, todos os animais se aproximaram fazendo uma vénia. Anabela corou. Que estranho! Até as cobras e os crocodilos, que são tão ferozes estavam lá! O papagaio deu-lhe um mapa do tesouro, então, Anabela lá pôs toda a gente a procurar.
Todos foram ter ao mesmo sítio: o território dos gigantes! Os gigantes eram muito maus para os humanos e para os animais. Anabela lembrou-se das histórias que lia antes de ir dormir.
Quando viu o gigante, veio-lhe logo à cabeça a história do “mata-sete”. Aquele alfaiate que tinha morto sete moscas só de uma vez e o rei pensava que eram sete animais ferozes.
Então, ordenou-lhe que enfrentasse um gigante que andava a aterrorizar a aldeia e assim foi. A Anabela pediu ao pelicano, um caule de uma rosa para servir de fio, mas ele explicou-lhe que o caule serviria muito melhor de agulha. Deveria pedir o fio à aranha. Ela passou por baixo do gigante, subiu-lhe as pernas, espetou-lhe o caule da rosa no rabo e enrolou-o com o fio. Ele caiu no chão como uma bola redonda. Anabela e os animais foram até a casa dos gigantes. A casa, por dentro, parecia um castelo!
Todos seguiram um mapa e foram ter a uma arca. A arca era muito pesada, por isso, tiveram que a empurrar todos ao mesmo tempo. Por baixo tinha uma caixinha. Anabela abriu a caixa e tinha lá dentro um colar com um símbolo de dormir. Ela pôs o colar e, nesse preciso momento, começou a ouvir:
-Anabela, filha, acorda!
Era a sua mãe a chamar. Abriu os olhos muito lentamente e viu que tudo não tinha passado de um sonho. Foi uma grande aventura!
Quando foi lavar os dentes, sentiu um aperto no pescoço. Era o mesmo colar do seu sonho.
Isto é uma prova de que nos sonhos há sempre um bocadinho de realidade.

Pas aujourd'hui, monsieur Balzac!

Mofina? Saphou? Onde estais?!

Esta merda de blog

hoje parece de góticos ou memo emos. Uma velha tola escreve um post a dizer que precisa de mimos, como se alguém desse mimos a velhas tolas, provavelmente gágás, o seu parceiro dá-lhe lápides e cemitérios. Dass. Vou já embora, antes que fique contaminada. Só gostava de saber que me apanhou a password para escrever aquilo.

Prefer a feast of friends to the giant family

As adultas precisam cada vez mais de ser mimadas

Quando era pequena e estava doente, a mãe trazia-lhe carinho e uma comida reconfortante, o xarope até sabia a morango. O pai brincava com as roupas que ela fazia para as bonecas. Enfiava umas calças em dois dedos de uma mão e um saiote em outros dois dedos de outra mão e fazia um bailarico improvisado que a fazia rir, mesmo quando estava com um pico de febre. Outras vezes, fazia-lhe desenhos divertidos e contava piadas.
Hoje, quando ela está doente, tem que tratar de si e dos outros, mesmo quando lhe dói o corpo e a alma e a fatiga é tanta que sente que não aguenta. A familória diz-lhe que é mesmo assim. Que aguente, que não chateie os outros, não se queixe, fique caladinha. Desde que continue a trabalhar, cozinhar, tratar da roupa e tenha tudo em ordem, nem lhe chamam velha maluca, frase que já teve que engolir, embora nem seja velha, nem maluca (ao que eu cheguei, pensou nesse dia, as lágrimas rolaram muitos dias a seguir a esse e a ferida ficou aberta).
Quanto mais adulta e mais próxima da morte, o carinhos deveriam ser geometricamente aumentados, mais as prendas e as guloseimas. Os fantasmas deveriam vir dançar bailaricos divertidos e contar piadas, enquanto os que ainda cá estão e, aparentemente gostam da velhota, deveriam dar-lhe uma comida saborosa para que os comprimidos, às meias dúzias, voltassem a saber aos morangos silvestres da infância.
A criança é infantilizada até findar a adolescência e transforma-se num adulto merdoso. Como isto acontece há gerações, os adultos são, em regra, uma cambada de egoístas que só pensam no seu ego e continuam a infantilizar e estragar as crias. Repetem padrões.
Como é que a sociedade não há-de ser um selva, se nem ninguém da família faz uma comida mimada à mãe, que fez o possível e o impossível pela cambada que a rodeia? O normal é, muitas vezes, o companheiro, marido, ou o raio-que-o-parta, sair mais cedo e chegar mais tarde, para não ser incomodado. Os filhos estão-se nas tintas. Limitam-se a perguntar: estás melhor? A grande família é um mito, com essa já nem se conta.
No final, são os estranhos, a empregada, a enfermeira, a contratada para dama de companhia dos tempos modernos, a x euros à hora, que da trata mãe doente, quando ela já não pode tratar de si. Quando o incómodo for muito, enfiam-na num lar, por certo.
E ainda se admiram com a quantidade de deprimidas que por aí pululam. Esta merda é uma selva. Impera a lei do mais forte. Só esse, sem sentimentos e escrúpulos, que mente, manipula e aldraba, mas que tem uma saúde de ferro, é que se safa. E esse, em regra, é homem. A mulher, repetindo padrões de dever interiorizados com culpa à mistura, continua a tratar do marido, companheiro, ou do raio-que-o-parta, quando ele está doente, ainda que o deteste profundamente.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Hoje deu-se o fenómeno da multiplicação das freiras paramentadas,

de várias congregações. Parece que não é uma multiplicação espontânea, consequência da chuva, mas um encontro, e estão devidamente munidas para apedrejar um tal de Saramago que anda para aí a dizer disparates, embora assegurem que não está gágá (se estivesse gágá ainda se podia safar) e que tem o topete de ir dar uma conferência no templo. Creio que vai sair a gritar caim, caim, caim.... São muitas as munições que Saphou vislumbrou.

Mas se o livro falar de Caim ...

Vejamos, o tema interessa-me de há muito tempo, assim como me interessou o Evangelho , que afinal era a Última Tentação.
Portanto, ainda que Saramago não me interesse muito, interessa-me saber para onde leva ele Caim. Porque Caim, meus amigos, é um tema fulcral, quanto a mim, dos melhores da Bíblia.
Não deixarei de ler esta abordagem, a menos, claro que o livro não seja sobre Caim, seja sobre a Igreja, ou cenas dessas.
Quero saber o que passou na cabeça de Caim e na de Abel, faço uma ideia, mas gostava de ter novas ideias.

Esses críticos do Saramago

Há para aí uns meliantes que não lêem, seguem raciocínios distorcidos.

Esse bando de inertes, filhos da geração de 60, iniciaram o seu caminho na leitura por obras como “As portas da percepção”, onde procuravam encontrar saída para um mundo infinito, filtrado por mecanismos cerebrais que proibiam a utilização máxima dos recursos da máquina humana. Claro está que a culpa destes desvios teve por base as filosofias aprendidas nessa nova escola que os mantinha presos 20 anos e da qual pensavam sair capacitados para gozar as leis e as teorias até aí engolidas. A eles julgavam estar destinada a tarefa de potenciar miolos sem rebentar os filamentos.

Fartos de condutas e rastreios, certos de que para além do branco haveria cor e sentido num mundo hipotético que escapa à comum percepção humana, depressa mergulharam no “Rei Lagarto” e nas suas odes caóticas de naves azuis feitas arcas de Noé, que transportariam os loucos que tinham portas abertas.

Dai a Baudelaire e aos seus paraísos, ao Óscar Wilde, ao desmonte da peças, ao Pessoa, ao Machado de Assis e ao seu Brás, foi um saltinho e, quando deram por ela, estavam já nos braços de Jocasta, donde saiam para voar com Castaneda dentro dos caixões de Poe e, finalmente, relaxar em Niestzche, contrapondo a democracia do Platão e baralhando a falta de lógica nas lógicas perversas de Borges.

Escusado será dizer que esta geração sem préstimo, redundou na crise, na depressão, na agonia de não puder pegar num livro novo e ler. Perdeu todo o entusiasmo e esmiúça os mesmos livros há anos, sem daí poder sair, e junta-lhe novos livros dos mesmos autores e de autores novos que falam sobre os mesmos temas.

São a geração parada no tempo, interessa a sua opinião? Creio que não, a sua conduta tem um hemisfério de loucura não recomendável: divagam, não pensam; deprimem, não choram; analisam, não amam; reabilitam, não constroem. São, talvez, lunáticos, se a lua existir e não for mera percepção. Interessam? Não interessam. Do que dizem sobre o que pensam, pouco ou nada tem aplicação.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A única notícia que interessou hoje aos media portugueses e, por consequência, à nação

Portugal vai jogar com a Bósnia.

Grande post! Subscrevo

Notícia de um deslumbrado

José Saramago rabiscou mais um livreco (deve ser o tricentésimo sexagésimo quarto) a dizer mal da Igreja e da religião. É um direito que lhe assiste e não é a mim – que sou tão agnóstico ou ateu como ele – que isso incomoda.
O que me incomoda é o ar arrogante e pomposo que ele põe, quando ataca a Igreja. Como se isso fosse um grande acto de coragem e de rebeldia; como se ele, Saramago, fosse credor de um grande respeito e admiração por ousar enfrentar forças que ninguém jamais se atreveu a desafiar.
Perdido no tempo e no seu egocentrismo estulto e pedante, Saramago não se apercebe que é hoje necessária muito mais coragem para alguém se reclamar do catolicismo e da Igreja, assumindo publicamente essa posição, do que para atacar aquilo que, em Portugal e em Espanha onde ele se move, se tornou uma banalidade atacar: a Igreja e a religião. Ainda por cima, para atacar sem trazer nada de novo, com os mesmos argumentos jacobinos que já estavam completamente gastos em 1789.
“[Caim] é um livro divertidíssimo” – diz Saramago, esquecendo que elogio em boca própria é vitupério.
Obviamente, Caim, de José Saramago, não consta na lista das minhas dez mil próximas prioridades de leitura.

Pausa

Temos que ir, mas prometemos voltar com cartas de amor tecnológicas, para a Manuela, para a Paula, para quem quiser namorar como nós, afinal serão cartas do Séc XXI, cada um no seu posto e o que vale é o posto, que interessa a companhia, feia, bonita, de esquerda, de direita, o Homem é um só, e o resto não tem a mínima importância!

Isto promete!
Cartas de amor à concelhia, hum não, Cartas de amor para quem não quer companhia!
Não perca!

Caim


Carta de João Tomás a Josefina

Minha querida, julgo que não é necessário acabar com isto, o amor é os planos, os traçados, os conjuntos, as rectas. Claro que acima de tudo é o sexo, para o vigor humano que se precisa.

Já pensaste, começar tudo de novo, dá muito trabalho, o sexo é uma coisa efémera, contudo difícil de sustentar quando estamos sós, dá mais trabalho, do que apagar os planos, os traçados, as curvas e as rectas, e estes apagões já dão um trabalho imenso. Para quê, não é preciso.

Evita ser extremista, continuamos amigos, com os nossos planos, com o nosso trabalho, com a nossa casa e resolvemos o sexo noutras instâncias. O amor se existe é só sexo, a amizade é o importante e isso nós temos ou não?

Repara, nesses teus contos de fadas havia dois assuntos tabus, um eram os tais planos de conjunto e o outro era o sexo. Dai a tua enorme confusão, os homens percebem melhor porque nunca leram isso, entendes.

Acalma-te meu amor, o amor não é isso que tu pensas, podemos continuar para alem e sem fim, assim eu não te prenda e tu não me queiras prender a mim.

Beijos sempre teu
João Tomás

Carta de Josefina a João Tomás (Sex XX)

Já não te amo, mas para te proteger tenho que te convencer que és tu que já não me amas. Tenho que te moralizar, ainda que fique de rastos, que tu não me amaste como eu queria, embora nós os dois tenhamos a noção que não te amo, que acabou, que não te entendo, que não te quero, e tu não tens a mínima culpa disso, mas como homem, João, tens que assumir que não me amas, ainda que me ames e seja eu que não te ame a ti.

Tu tens que deixar de me amar para eu te deixar a ti!
Eu sei, o que pensas, que podia ir embora e acabar as coisas simplesmente, mas não pode ser João, tu sempre viste as coisas de uma forma muito simples. Para isto correr bem, devias ser tu a fazer a mala e partir porque, se parto eu, meu amor, vou sentir que sinto a tua falta, quando não me fazes falta nenhuma, mas eu tenho que sofrer, eu tenho que te ter amado para toda a vida, tinhas que ser tu, o meu amor eterno e não foste. Eu sei que a culpa não é tua, acabou dentro de mim o sentimento, mas uma mulher é racional, meu amor, e o amor não se acaba assim do nada e sem porquê.

É essa a regra meu amor, tenho que te convencer que não te deixo, és tu que me deixas a mim. Uma mulher, João, não perde o amor, não pode perde-lo. Uma mulher ama para toda a vida e quando isso não acontece é porque não a amaram, uma mulher é submissa, ama quando a amam, deixa de amar quando não a amam.
Peço-te João, reage às minhas provocações, dá-me razões para ficar triste, dá-me fios que me convençam que o amor não se esgota, que foste tu que acabaste com ele. Como poderia ver-me ao espelho depois de ter deixado sumir em mim o amor se não tivesse razões para isso?

Por favor, desiste rápido, vai-te embora, grita que já não me amas e não me suportas, faz de conta, diz ao mundo que te amo muito e que tu tens muita pena de não me amares a mim. Deixa-me partir em paz e, desculpa João, mas o amor é uma coisa que não comando, a regra sim, comanda em mim.

Josefina

Hey! ahora que ya todo terminó

que como siempre soy el perdedor

cuando pienses en mi.

Hey! No creas que te guardo algún rencores

siempre más feliz quien más amó

y ese siempre fui yo.

Ya ves, nunca me has querido

ya lo ves



Ana Moura: os Búzios

domingo, 18 de outubro de 2009

Portugal deveria ajoelhar-se aos pés de Sócgates,

o único Primeiro Ministro de "coração limpo, espírito aberto e mão estendida". Com a perda da maioria absoluta foi-se a arrogância, aprendeu os termos "diálogo" e "dialogar", que desconhecia, por isso os repete à exaustão como uma criança que aprende a dizer "papa" e, mais do que isso, tornou-se místico. As palavras pronunciadas por Sócgates depois de indigitado são palavras dignas de um santo. A pequena diferença é que, no caso dos santos, são terceiros que as pronunciam para referirem o dito, não o próprio. Mas não está excluído que alguém se possa auto-proclamar santo. Henrique VIII também se auto-proclamou chefe da igreja inglesa e com enorme sucesso. Talvez o nosso Primeiro venha a ser também Santo Pinto de Sousa, mas só quando recuperar o poder absoluto e iluminado, o que ainda demorará um tempinho. Por enquanto, tem que passar pelas provações da dependência dos ogres. Mas já lhes está a fazer a cama.
O potencial santo com pés de barro tanto abraça a esquerda como a direita, o que quer é companhia, farsante encenador. Os outros, que são tudo menos santinhos, já entenderam a farsa e afastam o Zézito. Mas eis que passa a mensagem: - Se eu cair a culpa é vossa, não empurrem muito que eu caio. O povo que veja isto. A culpa é deles, os maus. E se os outros o atiram o povo ainda o aclama como Santo Padroeiro, Salvador Nacional.
Três pequenas notas:
1. Gostariamos que JPP (também conhecido por alguns como a loira do regime, epíteto que eu considerava injusto até às actuais eleições, em que grande parte da estratégia desastrosa do partido que representa passou por ele, pelo que estou a ponderar se não será ponderado ponderar considerá-lo mesmo a loira do regime) assumissse a liderança da bancada parlamentar do PSD, pese embora, totalmente remodelado e informatizado, o Parlamento não reúna ainda condições de trabalho para o o ilustre deputado. Caso seja Aguiar Branco, ainda mais loiro e inexistente, o PSD demite-se também de se opor.
2. João de Deus Pinheiro foi coerente ao renunciar ao mandato depois de sentado meia hora na casa da democracia. É um homem que sempre assumiu a mesma postura de coerência, basta pensar em todos os cargos políticos que assumiu no passado. As suas condições de saúde só lhe permitem dedicar-se ao golfe, em especial ao 19º buraco.
3. A expressão "estás a gozar o preto" não se aplica no PSD. Quem gozou a tia Manuela foi mesmo o Preto, que lixou as listas da Senhora, por ser arguido e aceitar sem se fazer rogado ser candidato. Uma vez conquistado o lugarzinho na casa da democracia, António Preto suspende de imediato funções por ser arguido. Se não for dentro, garantiu o tacho. Mais um tiro no pé do esburacado e balcanizado partido que ainda resiste.

Who reads the papers? E em Portugal, qual seria a resposta?

sábado, 17 de outubro de 2009

Marisa Monte: Solidão

Conto à Sexta-feira: "Partir"

... és tu? Vieste matar-me?
Toda a vida tentei evitar-te, mas chegas em boa hora.
Não imaginei que fosse assim.
Pegavas-me na mão, corrias comigo em volta da casa, voltas e voltas, e rias, eu pendurado no teu braço, tinha de novo 3 anos, e o teu sorriso era uma festa.
Mesmo quando me puxavas em direcção ao rio, tanto frio, tanta gente, e tu a arrastares-me para o banho gelado. Nessas noites não queria partir.
E chegas agora assim, num momento tão simples.
Hoje não me despi para dormir, estou pronto para partir contigo, não sei se queres conversar um pouco, parece que não tens pressa, por mim podemos ir, não preciso de mais tempo.
Há muitos dias que revejo a vida e lembro-me apenas da infância. Tenho-me interrogado se a vida além da morte é isso.
Não compreendo porque subestimo tudo resto.
Não respondes? Gostava de saber porque chegados aos 80 lembramos dos 40 para trás, ninguém entende os velhos.
A vida foi tão bonita, tão desafiante, tenho pena de partir. Mas sinto que é chegada a hora. E a prova disso é a tua presença aqui no leito da minha cama, onde já durmo só há 20 anos.
A minha mente tem clarificado as vivências. Vejo-te comigo desde o início, lembro-me de estar nos teus braços antes de berrar nos da minha mãe, não compreendo como pode ser possível, mas agradeço teres permitido que chegasse aqui. Se viesses antes não teria visto.
No outro dia, enquanto tomava um chá, ali no sofá da sala, vi-te passar na janela, corrias, quase voavas, levaste as casas e deixaste um vale verde, parecia um quadro, uma paisagem aprofundada, pensei em dizer-te adeus mas, desculpa, as minhas pernas não são as mesmas e, apesar do momento ter sido longo, limitei-me a sorrir. Diverti-me imenso com a tua dança, pena que nunca mostrasses o rosto, não te julgava tão calma e bonita. Tens uma aparência maternal.
Já chega de considerações, não é? Vamos embora. Devo colocar um chapéu, que achas? Um chapéu bonito para poder dançar contigo e fazer vénias quando passar em frente das janelas dos meus amigos.
Tenho que me levantar, não é? Levantar-me e partir.
Sabes, vou ter saudades, saudades de tudo, a vida foi tão bonita...
Ok, acho que estou preparado, podes segurar-me a mão? Queria evitar as lágrimas.
Dá-me um momento para sentir, deixa-me rever só uma vez e, depois, embala-me no teu sopro, faz-me leve silhueta para que os amigos não se assustem a ver-me dançar e sorrir, dançar e sorrir, dançar, dançar, dançar e sorrir... elevado sobre o altar, mãos laçadas na nuca, perdido nas conversas de ocasião, descobrirei coisas novas em todos, tarde demais para reagir, e quando os 4 segurarem as asas do meu corpo, na viagem de devolução, cantarei, tinha escolhido várias músicas para tão digna comemoração, mas hoje não sei o que lhes cante, se me deixasses pensar um poema que lhes revelasse este segredo de como se morre bem? Eu sei, mas tu também sabes que sempre falei demais, tem um pouco de paciência.

Onde estás? Ei, já morri? Morrer é falar sózinho?
Oh e agora, posso levantar-me, mover-me? Será que me desintegro, só me é permitido falar? Mas no meu caso, ou em todos os casos? Não há mais mortos aqui? Para onde vou? Fico aqui? Ei, a sério, então, fico aqui? Espero que me encontrem? Confessa, é mais um desafio, não é? Não sei nada desta cena, estou cheio de medo, vou me deixar estar por aqui deitado, mexo só os olhos, há-de ocorre-me qualquer coisa....

Hum isto é muito estranho, que sensação. Estou contente, não sei como reagir, demais, isto sim é completamente novo, quem diria, aos 80 anos uma nova experiência. Ouve, e se estou confundido e vivo ainda e estou no meio de um delírio? Se calhar devia levantar-me e desligar a televisão. Não, é melhor ficar aqui, se tiver morrido, ao menos não me surpreendo. Não é?