Freud mirou Breuer com espanto.
- A verdade? O amigo não tem desespero, o amigo tem tudo! É invejado por todos os médicos de Viena; a Europa inteira recorre aos seus serviços. Muitos excelentes estudantes, como o jovem e promissor doutor Freud, estimam cada palavra sua. A sua pesquisa é notável, a sua esposa a mais bela e sensível mulher do império. Desespero? Porque, se está na crista da vida?
Breuer pôs a mão sobre a de Freud.
- A crista da vida! Disse-o bem, Sig. A crista, o ápice da subida da vida! Mas o problema das cristas é que logo vem a descida. Da crista, posso divisar o resto dos meus anos estendidos diante de mim. E a visão não me agrada. Vejo apenas envelhecimento, definhamento, filhos, netos...
- Mas - o alarme nos olhos de Freud era quase palpável - como pode dizer isso? Vejo o sucesso, não a queda! Vejo segurança, aclamação, seu nome ligado perpetuamente a duas grandes descobertas fisiológicas!
Breuer recuou. Como podia admitir ter conduzido toda sua vida apenas para descobrir que a recompensa final não era, afinal, de seu agrado?
Não, essas coisas teria que manter para si. Certas coisas não se contam aos jovens.
- Deixe-me colocar nestes termos: aos quarenta, vemos a vida de uma forma inimaginável aos 25.
- Vinte e seis. Quase 27.
Breuer riu.
(...)
Despertando, Breuer abriu lentamente os olhos e olhou Nietzsche. Continuou sem falar.
- Não vê, Josef, que o problema não está no seu sentimento de desconforto? Que importância tem a tensão ou pressão no seu tórax? Quem foi que lhe prometeu conforto? Dorme mal! E daí? Quem foi que lhe prometeu um sono tranquilo? Não, o problema não está no desconforto. O problema é que você sente desconforto pela coisa errada!
-
In When Nietzsche Wapt - Irvin D. Yalom