sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Carta de uma mulher vazia

Ela sentou-se e começou a escrever:

Para os meus filhos, com todo o meu carinho:
Não tenho nada para dar
Estou vazia de alegria
As minhas entranhas são
tristeza e amargura
Adoro-vos.
Mas não vos sirvo para nada
Só vos prejudico.
Sou culpada.
Sim. Culpada.
Culpada de não sofrer calada,
Culpada de não encarar a vida de frente,
Culpada da solidão a que me entreguei,
Culpada de estar doente,
Culpada de sentir saudades da minha infância,
Culpada dos carinhos que não tenho,
Culpada dos sonhos que ficaram para trás,
Culpada do MEDO
que me tolhe
e não me deixa viver.
Sou Ré. Culpada.
Mereço a pena que me derem lá do Alto
ou lá do baixo.
Culpada.
Culpada.
Culpada.
Dobrou a carta, calmamente, pegou na velha pistola que já era do seu avô, meteu-a dentro da boca. Ninguém ouviu o disparo.

Trovante: Perdidamente