terça-feira, 27 de abril de 2010

O QUE ESTARÁ PARA LÁ DAS GRADES*

Todo o conteúdo deste post, incluindo a fotografia, foi "subtraído" ao blogue Claras em Castelo da nossa amiga Marta. Estou certa que não levará a mal, pois não Marta?

Foto de Jorge Monteiro, tirada O MEU OLHAR - FOTOGRAFIA

Eu.
Grades, ferrugentas, encravadas na pedra retêm-me.
Não sei a razão do meu permanecer, sei que não quero sair, sinto-me bem neste aprisionamento e, de vez em quando, muito de vez em quando espreito para fora sem ver grande coisa que a grade é alta, mas vislumbro cinzentos onde me sinto bem, azuis e é altura de me recolher.
Não quero azuis na minha vida, menos ainda rosas.
O preto reveste-me, a sombra é o meu reino, reino de loucura onde o choro é gargalhada e grito soa como riso e rio, rio, rio demente.
Nem um raio de luz nestas trevas e quando aparece, procuro o carcereiro para o fazer desaparecer.
Ah! Ser carcereiro de mim e não o perceber*

Nome "roubado" da fotografia de Jorge Monteiro

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A morta viva

Ela estava com dores de cabeça há onze dias. Arriscou num dia de sol e chuva procurar uma esplanada. Calhou-lhe a chuva mas, persistente, insistiu na esplanada. Parece que muitos outros insistiam, naquela, que tinha cobertura.
Precisava de ar, para ver se a dor de cabeça a deixava a par com o medo e o desespero.
Sentou-se com o olhar vago de quem tem quase meio Século e foi atirada ao tapete. Pediu uma tisana.
Foi aí que vislumbrou o olhar de outra mulher, um pouco mais jovem do que ela. O olhar hipnotizou-a.
Era o olhar da vida. O olhar brilhante de quando ela tinha 15, 20 anos. Não importava a  chuva, para essa outra mulher, nem o cheiro opressor de cigarros fumados uns atrás dos outros a toda a volta. Tinha o cabelo molhado e falava muito, sorria, mas o olhar era impressionante. Ali estava VIDA, sonho, alegria genuína.
Enquanto ela estava neste delírio desejando ser a outra, com a cabeça a latejar, apareceu um antigo aluno. Deu-lhe dois beijos. Disse que estava a chegar de Nova Iorque onde tinha trabalhado nas Nações Unidas, tinha projectos de VIDA fantásticos.
Ela ficou genuinamente feliz por ele, por quem sempre teve um carinho especial. Voltou a ver a vida nos olhos da senhora ao fundo. Já eram duas pessoas com VIDA.
E ela, a falhada, com dores de cabeça há onze dias? A que tinha deixado a emoção tomar-lhe conta da inteligência? A desilusão suprema? Ela não pertencia àquele mundo dos VIVOS.
Retirou-se com as lágrimas nos olhos. Ela podia ter sido assim. Mas não fora.
Até hoje ninguém mais soube dela, dizem que anda por aí, transparente, agarrada à cabeça com uma terrível expressão de dor e desalento. Raios que a partam, já que está trovoada.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Anónimo do Séc XXI

O Tudo, empanturrado de nadas, não medita no Nada, o único que o poderia encher.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Anónimo do Séc. XXI

Sei que aspiras ao nada minha discípula, mas o nada começa a  irritar-se contigo.

Anónimo do Séc. XXI

É árduo viver com um pelotão de fuzilamento como família.

sábado, 10 de abril de 2010

My deepest respects to Poland and to the polish people, to the victims and their families

strange dark coincidence of fate, assuming it was a terrible accident, ...
(picture by Wojtek Siudmak)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Para a Mac, depois de muuuuito "champagne"! Bazooka bubble gum é tendência em todas as hortas. Agora os legumes apanham-se assim ou melam.

O dia está estranho...mas pode ser que se componha mais logo à noitinha

-impediram um diplomata do Qatar de deitar fogo aos seus próprios sapatos, só porque estava num avião;
-descobriram uma nova espécie de lagarto com dois pénis e outras características interessantes;
-meti o papel higiénico no frigorífico;
-é portuguesa a campeã de cross do mundo em veteranos. Rosa Oliveira treina num campo agrícola de Joane, Famalicão, graças à boa vontade da proprietária, que cortou o milho para fazer uma pista;
-o concerto dos bimbos dos Tokio Hotel foi um fracasso;
- só espero que o Rafa não me deixe ficar mal...sem ar condicionado, nunca se sabe! (acrescentei esta 2ª parte da frase graças à Blimunda)
....
Obrigada Rafa Benitez por esta alegria! Curioso que o caracoletas (Rui Santos) não tenha dito abertamente estar o Liverpool a jogar melhor e o Benfica a jogar mal. Segundo o pseudo-comentador, foi o factor F (seja lá o que isso for, por acaso gostava de esclarecimentos) que faltou aos não invencibéles, mais o culpado campeonato português que coloca os jogadores muito cansados e, claro, o árbitro também teve o seu pequeno contributo. Porque é que não arranjam comentadores em condições? Venham os Freitas Lobo e Ribeiros Cristóvão.
Quanto a Jorge Jesus, não fez as melhores opções estratégicas, como todos viram. O treinador até se comportou bem na flash interview, não bateu em ninguém e articulou algumas frases correctas, mas não entendi esta: antes do primeiro golo estavamos a jogar melhor, depois do segundo "tivemos que ir à procura da desvantagem". Só se estava a ser literal! Nem entendi a deculpabilização antes do jogo, dizendo que os jogadores estavam cansados e que a prioridade era o campeonato. Tacticamente, só fez borrada: em cinco defesas, mexeu em quatro! Benitez 5- JJ-0. Benitez comeu o JJ em inteligência e táctica. O JJ é um jerk ao pé de um treinador a sério. Caiu na armadilha que nem um tótó!
Lamento muito, no meio disto tudo, o traumatismo craniano sofrido por Júlio Cesar, apesar do palerma do JJ querer que ele continuasse a jogar! O guarda-redes visivelmente mal e o palerma a gritar "aguenta!". Espero que Júlio César recupere rapidamente, que é o que realmente importa.
Para bem do Braga, não me importaria que JJ tivesse um ataque de fúria no balneário e batesse nos jogadores, um a um. Parece que não seria nada de novo, segundo os boatos. Já agora, aconselho que comece por bater em si próprio. O principal culpado desta agradável derrota.

Esta noite

uma voz murmurou ao meu ouvido: "uma voz que de noite murmura ao teu ouvido, não existe".

Depois da morte, curto diálogo de origem Zen

-Mestre, que sucede ao homem avisado depois da morte?
-Não sei.
-Não sois um homem avisado?
-Sim. Mas não estou morto.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Insustentável Leveza do Ser

Tinha uma vontade brutal de fazer qualquer coisa que a impedisse de voltar atrás. Tinha vontade de anular brutalmente os últimos sete anos da sua vida. Eram as vertigens. Um enebriante, um incontrolável desejo de cair.
Poderia talvez dizer que ter vertigens é embriagarmo-nos com a nossa própria fraqueza, queremos abandonar-nos a ela. Embriagamo-nos com a nossa própria fraqueza, queremos ficar ainda mais fracos, cair por terra em plena rua à frente de toda a gente, ficar por terra, ainda mais abaixo que a terra.
In: A Insustentável Leveza do Ser - Pag. 89, Milan Kundera

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tudo tem um fim

Hoje chegou ao fim o blog da Saphou. Abolido o relacionamento inter-pessoal do mundo analógico, esta era a janela que ela encontrou para se relacionar com o mundo. Amigos virtuais, com  existência própria. Nem esperava fazer amigos reais, sempre através do filtro do mundo virtual, mas a verdade é que os fez.
Mas já nada mais lhe interessa. Isola-se por ora. Mesmo do mundo virtual. O sofrimento não deve ser partilhado, é o seu lema. O fim é sempre triste, por vezes brutal, impiedoso. Mais valera não haver início.
Saphou apenas aspira ao nada.
Pode ser que um dia ressuscite. Quem sabe. Até lá, obrigada a todos os que passaram por cá.