O trabalho arrasou-me mental e fisicamente. Vim a guiar com os faróis apagados, enquanto bocejava repetidamente. Quando dei pela asneira, liguei os máximos e encandeei o desgraçado que vinha na rua em que entrei violando o sentido proíbido. O que vale, ao contrário de outros que andam meia hora em contramão na auto-estrada, é que andei apenas cerca de 30 segundos numa rua pacata. Curiosamente, a rua onde habito. Comecei a pensar que estou a perder rapidamente as minhas faculdades mentais, tanto mais que descobri que tinha trazido comigo o comando de um projector e as chaves de uma sala. Tive que voltar ao ponto de partida para os devolver.
Hipocondríaca qb, cada vez mais me fui convencendo que estou mesmo com a idade mental de um ser de 100 anos mal conservado. Só uma doença neurológica, por certo, ou outra coisa igual ou mais grave justificam isto.
Esgotada, tentei abrir a porta do prédio com uma mão, enquanto na outra carregava toda a tralha de papeis, livros e laptop. Nenhuma das três possíveis chaves entrava. Ao fim de minutos que nunca mais terminavam, lá consegui abrir a porta em equilibrio instável. Cheguei finalmente a casa, atirei com tudo e alapei no sofá. A casa estava em silêncio, estavam todos no dentista. Quem bom. Só conseguia mexer os dedos, e mal. Nem pensar em caminhar mais um metro.
Conclui também que o trabalho, além de ser prejudicial à saúde, prejudica altamente a qualidade do blog. Qualquer blogger, sujeito a um regime de avaliação soft pelos pares, deveria receber ordenado condigno do Ministério da Cultura. Seria uma forma de destacamento para outro sector, ao serviço da cultura nacional. Os bloggers do privado deveriam ter mecenas.
Vivemos escravos da cultura, a teclar do amanhecer até à madrugada.
Já foi reconhecido que se evoluiu bastante na escrita graças à blogosfera. Estão à espera de quê?
Agora, parcialmente recuperada, vou atafulhar-me em emotional food para ganhar coragem de escrever o livro sem fim. Chocolate, preciso de muito chocolate negro.