e fui fazer aula de Pilates. A professeur errá française, não particularmente simpática, como seria de esperar de alguém francês, mas também não antipática. Esticou-me, torceu-me, dobrou-me em diversos aparelhos de tortura, tudo muito suave.
Antes de me deitar, estive a ler jornais e revistas, chamou-me a atenção a capa colorida de um particular jornal.
Acordei às seis da manhã com um estranho sonho.
Um jovem aspirante a poeta, sem cheta, a viver em Montmartre, apaixonou-se nos Champs Élysées por uma senhorita que passeava o cão. Ela, atiradota, também foi trocando olhares. Não passou uma semana, já estavam a passear e a conversar alegremente e ela a ir aos cafés de poetas e pintores fora do establishment, afastados dos salons da arte aceite.
Convidou-o para festas animadas em casa do papá, um burguês enriquecido graças à venda de batatas que, por ter dinheiro e algumas maneiras, era bem aceite na sociedade parisisense do Século. Estávamos no virar do Século XIX para o XX.
Tudo corria bem entre os enamorados, embora le papa não soubesse as origens do jovem, que alugava sempre um fato para a ocasião. A filha tratara de contar uma história qualquer inventada, que tornava o namorado respeitável aos olhos do batateiro: vinha investir num talho.
O problema foi quando ela começou a desconfiar que o aspirante a poeta não seria muito macho, pois que não passava de uns beijos e carícias, mas cortava-se sempre na hora H.
Ela começou a achar estranho e não esteve com meias medidas. Um dia, entrou-lhe pelas águas-furtadas, inesperadamente, e atirou-o para a cama. Ele encolheu-se, não queria ser despido.
Ela, possessa, perguntou:
-És maricas couchon?
Ao que ele respondeu:
-Não, apenas sou pobre, não tenho dinheiro para truces e ceroulas, pelo que as faço com jornais velhos. Tinha medo que tu descobrisses.
Ela desatou a rir e rasgou a papelada colorida toda, atirando-a pela janela como confetis gigantes para alegria dos que passavam. Finalmente, teve o que queria, sempre à gargalhada.