conta-me uma história que não seja assustadora.
-Está bem, vou contar-te a história da Carochinha.
-Não, da Carochinha não, é muito violenta, a Carochinha lembra-me a minha baixa auto-estima e o João Ratão acaba a esticar o pernil, não sei, sequer, se é suicídio. É uma técnica, atirar-se para dentro de um panelão de sopa, de preferência dos pretos, de três pernas, numa lareira enorme em Trás-os-Montes. Pode até virar moda.
-Está bem, então conto-te a história do Capuchinho Vermelho.
-Está bem, vou contar-te a história da Carochinha.
-Não, da Carochinha não, é muito violenta, a Carochinha lembra-me a minha baixa auto-estima e o João Ratão acaba a esticar o pernil, não sei, sequer, se é suicídio. É uma técnica, atirar-se para dentro de um panelão de sopa, de preferência dos pretos, de três pernas, numa lareira enorme em Trás-os-Montes. Pode até virar moda.
-Está bem, então conto-te a história do Capuchinho Vermelho.
-Não, também é muito violenta e cheia de conotações sexuais que tu nem imaginas. Não estou para aí virada. Tenho o nariz entupido e dói-me a cabeça. Li uma análise profunda nesse sentido quando andava na Faculdade de Letras. Nunca mais encarei o Capuchinho da mesma forma. Um dia conto-te.
-Poupa-me mamã! Então vou-te contar uma anedota completamente estúpida, mas que me faz grizar, e não só a mim. Todos os brolhos na maratona das 24 horas de basquete em Esgueira e nós, não sei se era do frio (ninguém nos avisou que devíamos levar saco cama), bastava começar a anedota para se grizarem. Pode ser que resulte:
-Era uma vez um cão que respirava pelo cu, um dia sentou-se e morreu.
-Poupa-me mamã! Então vou-te contar uma anedota completamente estúpida, mas que me faz grizar, e não só a mim. Todos os brolhos na maratona das 24 horas de basquete em Esgueira e nós, não sei se era do frio (ninguém nos avisou que devíamos levar saco cama), bastava começar a anedota para se grizarem. Pode ser que resulte:
-Era uma vez um cão que respirava pelo cu, um dia sentou-se e morreu.
E desatou a rir, de tal forma, que às tantas nenhuma conseguia parar.
...
A mãe continuou a conversa, recuperada do riso.
-Há bocado passei-me. Um palerma gave me the finger ao provocar-me a atravessar na passadeira, já depois de eu estar em cima dela. O carro de trás até me buzinou.
-E?
-Abri o vidro da janela do carro, retribui-lhe o gesto e gritei-lhe: queres ficar esmagado filho de um cão rafeiro? Atravessa outra vez que eu esmago-te com muito gosto, ficas em picadinho. Ir para a cadeia por uns tempos até me dá muito jeito.
-E a reacção dele?
-Pirou-se. O amigo que, educadamente, não se tinha atirado para cima do meu carro na passadeira, ficou com um ar de respeitinho que me deu vontade de rir. Mostrou até uma certa solidariedade ao dizer, por gestos, que outro era um anormal.
-De qualquer modo essa linguagem, esses gestos e essa atitude não são apropriados. Não baixes ao nível desses tipos.
-Tens razão. Mas deu-me gozo. Bora dormir?
-Não.
-Ok. Tá-se. Vou falar como tu. Tipo, cada uma lê o seu livro, preciso de me grizar. Vou reler os meus preferidos de uma Campanha Alegre.
Ai. E se o papá me pega a Gripe A? Não vai haver Natal...
-Take it easy. Uma coisa de cada vez.
-Tu estás na maior e o teu irmão, que já tiveram a gripe A, mais a empregada, agora eu, que me defendo perante centenas de alunos, tenho hordas de gripe A a entrar-me pela casa há um mês e meio...isto está embruxado.
-Cala-te e relaxa.
-Achas que o Mika também os trilhou numa gaveta quando era mais novo? Terá seguido o ritual dos Bee Gees...
-Cala-te! Só disparatas. E é "entalou-os" a forma mais usada para referir o que pretendes. És uma tola adorável.