sábado, 1 de agosto de 2009

Agosto é, normalmente, uma merda; espero sobreviver-lhe

Gosto de férias fora de casa em Julho e em Setembro. Agosto é para ficar em casa.
Mas sou pelintra, a trabalhar por conta de outrem, e as altas entidades deste país à beira mar plantado, começando pelas públicas, decidiram que férias só em Agosto. Os burgueses seguiram as entidades públicas e o povo seguiu a burguesia e a partir dos anos 90 do Século passado tornou-se um hábito as empresas privadas fecharem em Agosto. A nobreza não conta porque está arruinada ou desempregada, ou a trabalhar para os estupores das entidades públicas, das empresas dos burgueses, ou do próprio povo. O clero também faz férias em Agosto, mas poucos ligam ao clero.
Para os que ficam, é o deserto. Até a empregada domésticsa, a padeira e a peixeira vão para o Algarve, suponho que para Quarteira, essa metrópole do supremo mau gosto ou, num upgrade, para uma metrópole semelhante, mas no sul de Espanha. Às tantas, vão para outras paragens idílicas, junto com o homem do talho, o electricista e o gajo dos esgotos. Os que têm mais juízo vão para a "terra", para as festas populares. Mas eu nem "terra" tenho. Sou urbana.
Porque é um vergonha confessar que ainda não se foi à República Dominicana, ao Nordeste do Brasil ou a Cancun, a crédito ou em viagem de promoção, sobretudo se se for cabeleireira (o), estudante, profissional liberal ou afim, muita Classe C ou Classe B opta por estes destinos, seguindo a trend que foi em tempos das tias e tios (e ainda é, mas noutra altura do ano).
Para os que vão, optando por um destino a sério, é um preço exorbitante, se queremos evitar a multidão sebenta, suada e em filas intermináveis.
Algumas tias e tios endinheirados já optam pelo Dubai, assim como os que têm pretensão a tios. Mas tia ou tio a sério continua fiel à Quinta do Lago e ao Ancão na época estival, os únicos locais suportáveis do Algarve nesta altura do ano, já que na serra é demasiado quente. À noite há sempre o eterno T-Club e para os tipos das borbulhas a Trigonometria.
Quem opta pelo norte decadente de Portugal (incluindo a tia e tio mofento e a filharada) leva com a ventania de Afife, Moledo ou Caminha. Esposende e Ofir são locais a evitar a tido o custo. Xiça, terras miseráveis...se for mesmo masoquista aconselho que arrende um apartamento num daqueles três estafermos em Ofir, de preferência no último andar. Poderá ouvir uivar o vento todo o mês de Agosto e ainda ter de brinde uma pneumonia vinda dos corredores dos prédios. A implosão seria um acto de misericórdia.
Quem opta pelo sul, leva com a multidão sebenta e os preços altos mais as filas, a menos que esteja protegido num refúgio de cinco ou seis estrelas ou num centro alternativo de terapias orientais.
Há 25 anos que vou para os mesmos sítios. Faço um circuito, sul, norte, centro, sul, ou norte, sul, centro, sul, a ordem é aleatória. Mas ia sempre em Julho e Setembro. Agosto era para ficar por casa, sossegada. Mas agora vejo-me impelida a dividir Agosto com Setembro, nos anos em que a entidade patronal é boazinha e me dá uma semana em Setembro, mas tenho que abdicar de Julho. Não é a mesma coisa. Fica a puta da saudade das férias de Julho que eram as maiores e melhores. Em Julho o sol deita-se tarde e a noite não tem pressa em chegar. A populaça ainda não apareceu e o pseudo jet set de trazer por casa também não. O circuito norte-sul era inesquecível, passando invariavelmente por Évora, a comer no melhor restaurante do país, O Fialho, e prolongando a viagem com estadia nas pousadas de Portugal.
Em Agosto vai tudo de férias, menos a doença e a morte. Como me posso esquecer que ele morreu a 15 de Agosto?
Este ano acho que mudo tudo. Vou de férias para a Finlândia. Uma excitação. O Alasca já me cansa.

Um comentário que é um post, trazido pelo Cuco dos Blogues

Agosto ou desgosto
Publicado por PauloMorais em 1 Agosto, 2009
Estamos em Agosto!O mercado nacional cresce, com a chegada de turistas e emigrantes, de dez para doze milhões. Mas ao aumento da procura, o sistema responde com a diminuição da oferta. É justamente neste mês que a maioria vai para férias.Nos hospitais há mais doentes e menos médicos; nas lojas, há mais clientes e menos funcionários; as férias judiciais vão de vento em popa; muitas empresas privadas suspendem actividade; os equipamentos culturais, teatros e galerias encerram, com medo que o público apareça.Quando os nossos emigrantes nos visitam, as repartições a que se dirigem, os serviços públicos, funcionam ainda pior do que no resto do ano. Se tiverem de tratar de algum assunto, pois que voltem em Outubro… ou nunca!Portugal entrou em estado de coma. Os portugueses estão sentados, junto ao mar, à espera que a crise passe. Portugal combate a crise… com férias.
É Agosto, ao nosso gosto. Ou desgosto.
Publicado em Cretinismo

Ice Cream