quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sinónimos: novas palavras que devem integrar o Dicionário da Academia

Saramaguice/ saramaguices - grande/s disparate/s dito/s ou efectuado/s por pessoa convencida de que a sua interpretação monolítica tem um valor dogmático, pessoa essa em estado de demência pré-senil ou mesmo senil.
...
Exemplo1: Temos de ser condescendentes. Sua Alteza tem quase noventa anos, por isso é natural que insista em fazer saramaguices, embora todos saibam que o penico não é para ser usado na cabeça.
Exemplo2: Bisavó, não digas saramaguices, o livro "500 Potato recipes" não é um manual de maus costumes.

Poema de António (Mofina) Gedeão, um comentário que é um post.

POEMA DA AUTO-ESTRADA
(de António Gedeão, declamado por Mofina)
...
Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta
Vai na brasa de lambreta.
...
Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.
...
Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volu'pia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio nao e' com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pelo cintura.
Vai ditosa, e bem segura.
...
Como rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que enterra.
Tudo foge 'a sua volta,
o ceu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demonio com asas.
...
Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
sao ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.
...
Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa de lambreta.
...
Bem que a Leanor da verdura apreciaria mais esta versão.
Está tudo muito erótico por aqui hoje. Menos eu.

Um conto à quarta-feira

Era noite e as estrelas brilhavam tão intensamente que às vezes pareciam luzinhas da árvore de Natal.
A Anabela tinha acabado de jantar e foi ler um pouco até que ouviu a sua mãe chamar:
- Filha vai lavar os dentes.
Quando ia pegar na escova de dentes abriu-se um buraco debaixo de si e caiu num barco no meio do mar.
Ela chorava, chorava e, passadas algumas horas, pensou em voz alta:
- Para quê chorar, não adianta de nada. Já sei o tenho que fazer. É a única solução, vou remar. Anabela remou e remou Até que chegou a uma ilha chamada Chamakumu.
Depois, foi arranjar alguns frutos para comer. Lá, havia muitos cocos e muitas bananas. Ela queria bananas, mas estavam em bananeiras muito altas, pelo que teve que ir aos coqueiros.
Tinha acabado de tirar o último coco, quando apareceu um grande lobo esfomeado. Quando chegou perto dela, parou a olhar e enroscou-se nas suas pernas como um gato.
Era um milagre! Parecia que os animais de lá gostavam dela. Passado algum tempo, todos os animais se aproximaram fazendo uma vénia. Anabela corou. Que estranho! Até as cobras e os crocodilos, que são tão ferozes estavam lá! O papagaio deu-lhe um mapa do tesouro, então, Anabela lá pôs toda a gente a procurar.
Todos foram ter ao mesmo sítio: o território dos gigantes! Os gigantes eram muito maus para os humanos e para os animais. Anabela lembrou-se das histórias que lia antes de ir dormir.
Quando viu o gigante, veio-lhe logo à cabeça a história do “mata-sete”. Aquele alfaiate que tinha morto sete moscas só de uma vez e o rei pensava que eram sete animais ferozes.
Então, ordenou-lhe que enfrentasse um gigante que andava a aterrorizar a aldeia e assim foi. A Anabela pediu ao pelicano, um caule de uma rosa para servir de fio, mas ele explicou-lhe que o caule serviria muito melhor de agulha. Deveria pedir o fio à aranha. Ela passou por baixo do gigante, subiu-lhe as pernas, espetou-lhe o caule da rosa no rabo e enrolou-o com o fio. Ele caiu no chão como uma bola redonda. Anabela e os animais foram até a casa dos gigantes. A casa, por dentro, parecia um castelo!
Todos seguiram um mapa e foram ter a uma arca. A arca era muito pesada, por isso, tiveram que a empurrar todos ao mesmo tempo. Por baixo tinha uma caixinha. Anabela abriu a caixa e tinha lá dentro um colar com um símbolo de dormir. Ela pôs o colar e, nesse preciso momento, começou a ouvir:
-Anabela, filha, acorda!
Era a sua mãe a chamar. Abriu os olhos muito lentamente e viu que tudo não tinha passado de um sonho. Foi uma grande aventura!
Quando foi lavar os dentes, sentiu um aperto no pescoço. Era o mesmo colar do seu sonho.
Isto é uma prova de que nos sonhos há sempre um bocadinho de realidade.

Pas aujourd'hui, monsieur Balzac!

Mofina? Saphou? Onde estais?!

Esta merda de blog

hoje parece de góticos ou memo emos. Uma velha tola escreve um post a dizer que precisa de mimos, como se alguém desse mimos a velhas tolas, provavelmente gágás, o seu parceiro dá-lhe lápides e cemitérios. Dass. Vou já embora, antes que fique contaminada. Só gostava de saber que me apanhou a password para escrever aquilo.

Prefer a feast of friends to the giant family

As adultas precisam cada vez mais de ser mimadas

Quando era pequena e estava doente, a mãe trazia-lhe carinho e uma comida reconfortante, o xarope até sabia a morango. O pai brincava com as roupas que ela fazia para as bonecas. Enfiava umas calças em dois dedos de uma mão e um saiote em outros dois dedos de outra mão e fazia um bailarico improvisado que a fazia rir, mesmo quando estava com um pico de febre. Outras vezes, fazia-lhe desenhos divertidos e contava piadas.
Hoje, quando ela está doente, tem que tratar de si e dos outros, mesmo quando lhe dói o corpo e a alma e a fatiga é tanta que sente que não aguenta. A familória diz-lhe que é mesmo assim. Que aguente, que não chateie os outros, não se queixe, fique caladinha. Desde que continue a trabalhar, cozinhar, tratar da roupa e tenha tudo em ordem, nem lhe chamam velha maluca, frase que já teve que engolir, embora nem seja velha, nem maluca (ao que eu cheguei, pensou nesse dia, as lágrimas rolaram muitos dias a seguir a esse e a ferida ficou aberta).
Quanto mais adulta e mais próxima da morte, o carinhos deveriam ser geometricamente aumentados, mais as prendas e as guloseimas. Os fantasmas deveriam vir dançar bailaricos divertidos e contar piadas, enquanto os que ainda cá estão e, aparentemente gostam da velhota, deveriam dar-lhe uma comida saborosa para que os comprimidos, às meias dúzias, voltassem a saber aos morangos silvestres da infância.
A criança é infantilizada até findar a adolescência e transforma-se num adulto merdoso. Como isto acontece há gerações, os adultos são, em regra, uma cambada de egoístas que só pensam no seu ego e continuam a infantilizar e estragar as crias. Repetem padrões.
Como é que a sociedade não há-de ser um selva, se nem ninguém da família faz uma comida mimada à mãe, que fez o possível e o impossível pela cambada que a rodeia? O normal é, muitas vezes, o companheiro, marido, ou o raio-que-o-parta, sair mais cedo e chegar mais tarde, para não ser incomodado. Os filhos estão-se nas tintas. Limitam-se a perguntar: estás melhor? A grande família é um mito, com essa já nem se conta.
No final, são os estranhos, a empregada, a enfermeira, a contratada para dama de companhia dos tempos modernos, a x euros à hora, que da trata mãe doente, quando ela já não pode tratar de si. Quando o incómodo for muito, enfiam-na num lar, por certo.
E ainda se admiram com a quantidade de deprimidas que por aí pululam. Esta merda é uma selva. Impera a lei do mais forte. Só esse, sem sentimentos e escrúpulos, que mente, manipula e aldraba, mas que tem uma saúde de ferro, é que se safa. E esse, em regra, é homem. A mulher, repetindo padrões de dever interiorizados com culpa à mistura, continua a tratar do marido, companheiro, ou do raio-que-o-parta, quando ele está doente, ainda que o deteste profundamente.