quinta-feira, 16 de abril de 2009

Conversas da treta, antes, durante e após, ou de como aturar adolescentes

- , está vermelho! Diz ela quando vamos para o restaurante.
-Vermelho é para andar mais depressa, respondo. E ouço:
-Famous last words.
......
No restaurante ele está animado, ataca para todos os lados. Vira-se para a irmã, que furou as orelhas, e acusa-a de blasfémia por ter "furado a obra do Senhor".
-Qual Senhor? pergunto.
-Não és cristã?
-Sou.
-Esse Senhor.
Ela entra na conversa.
-Tu também fazes a barba e o bigode. Então também cortas a obra do Senhor.
-Mas os pelos nasceram para ser cortados, defende-se ele.
-Sim, apoio-a. E pode haver outros Senhores. Por exemplo,os Sihks não fazem a barba, nem o bigode, nem cortam o cabelo. Obedecem a outro Senhor, mas não tocam na sua obra.
-SIC? Só conheço os canais 3, mulher, radical, notícias...
-É loira. Ó burra, os do turbante! Diz ele.
-Defendo-a. Há tipos com turbante que não são Sihks.
`...
Começa a atirar-me pedacinhos de pão.
-Pára, ainda me acertas nos olhos.
Ela incita-o:
-Ten points for the eyes.
Deixo de a defender.
-Há bocado, ao ver-te de longe sem óculos, parecias-me a Vanessa Fernandes. Ataco onde mais lhe dói: na extrema vaidade.
-Credo! Ela é mesmo feia, assim uma mistura entre um cavalo e um homem. Assusta-se com a hipótese de qualquer semelhança.
-E não sabe falar, mas agora tem hipótese, com as novas oportunidades, diz ele. E acrescenta:
-Devias ver, o Sebesta viu-a ao vivo e assustou-se, haaaaaa, até andou para trás, ela é mais feia do que na televisão.
-E a quantidade de palavrões que ela disse naquela reportagem? Adiantou ela.
Entro no campo.
-Porque é que os portugueses famosos no estrangeiro, excepto o Special One, ou não sabem construir uma frase ou são cães?
-Cães? diz ele.
-Sim o BO!
-Quem é que dá um nome desses a um cão?
-Os Obama, respondo.
- O cão é americano.
-Naturalizado. É um cão de água português.
-Oferecido por Kennedy. Acrescento.
-O morto?
-Claro, respondo-lhe, todos sabem que os mortos andam para aí a oferecer cães.
-O Senador, ó ignorante!
-Sabes que o que estás a comer antes estava vivo?
Pronto. Estragou-me o jantar. Atacou certeiro. Parei de comer a carne assada.
......
A caminho de casa:
-, you're odd, diz ele.
-Sou hot? Faço-me de parva.
- É odd e surda. Irrita-se. Não podes comer bolachas na casa de banho. É nojento deixar lá pedacinhos.
Inspiro-me.
-Tu sempre disseste que não te importavas de viver numa casa de banho. Devias ver a casa de banho de uma das casas onde vivi. Em Penafiel. Era maior do que a nossa sala de jantar. Tinha duas enormes janelas. Uma virada para o jardim, outra virada para a parte lateral da Igreja. Nessa casa de banho é que gostarias de viver.
O nível de bolha da conversa começa a cair abruptamente.
-Desculpa o palavrão mas, então, cagavas com vista.
-Estás desculpado, e disseste algo poético, lembrou-me "Um quarto com vista sobre a cidade"...um livro que em tempos li , um filme que em tempos vi.
-Poético? O que é que isso tem a ver?
-Nada. Associei. Agora estou a associar sinónimos do palavrão. Arrear o calhau, mandar um fax, ir ao milheiral, ir à horta...Porque é que os portugueses têm tantas formas para dizer o mesmo?
Ele acrescenta com um sorriso de água no bico: - Desculpa-me esta, de gosto duvidoso, mas na escola também dizemos: afogar o preto ou, se for muito, afogar África. Ultimamente está muito na moda ir afogar o Obama.