Naquele dia estavam incrivelmente simpáticos. Chamaram-me para participar na brincadeira. A minha avó estava na casa da Aurora, tínhamos vindo ali, porque segundo ela, a Aurora estava com olhos amarelos, ia morrer de icterícia e não sabia. A sua missão era convence-la a ir a Braga, ao médico com urgência.
A Aurora era um anjo, branca de olhos azuis, tinha um bebé pequenino e estava grávida. Era jovem, quase sempre com tecidos transparentes a fluir. O povo não gostava da Aurora, tinha casado com um homem divorciado, mais velho, alem disso, nunca trabalhou no campo por preguiça, inventava doenças para ficar em casa e não apanhar sol.
Interrompi-as para pedir autorização para acompanhar a rapaziada a uma brincadeira nos campos do Toutelo. Olhei para a Aurora que estava igual, de pé, com o menino no colo, sorria, e a minha avó deixou-me ir.
Estava em desvantagem, não sabia subir muros, muito menos árvores. Eles incentivaram-me, pareciam empenhados em fazer-me superar a tarefa de subir à cerejeira. Empurraram-me, içaram-me e lá consegui. Disseram-me para avançar num determinado ramo e colher as cerejas do ramo superior. Estava tolhido de medo, mas ainda não tinha vertigens. Avancei. Pediram mais. Caí e desmaiei.
Soube depois que aqueles lindos meninos e meninas inocentes dos campos cheios de flores pensaram que me tinham acabado com a raça. Com medo de represálias, porque matar um tripeiro naquele tempo era algo grave, fugiram.
Acordei nos braços da São. Loura de olhos claros e unhas vermelhas. Era empregada interna da Tia Laura, órfã de pai, servia desde os 11 anos patroas velhas e autoritárias. Vinha do bairro das minas e, por isso, nem a chave lhe confiavam. Desde que a extracção de volfrâmio tinha sido suspensa que os mineiros eram ladrões e ela não escapava à nomeada. A São tinha o quarto no sobrado, a casa de banho era na horta, os panos com que me limpou a cabeça estavam ensanguentados no penico.
Desde esse dia passei a visita-la, ensinou-me tudo sobre o amor. Como deixar as miúdas de rastos só com uma carta. Ela escrevia folhas e folhas para um trolha que estava a construir uma obra importante em Lisboa, só vinha ao fim de semana, a São raramente o podia ver, a patroa chamava-lhe puta, sempre que a via a namorar e já tinha sido despedida por causa disso. Pedia-me segredo de tudo aquilo que lia, gostava dela, parecia uma boneca a que eu tinha arrancado a cabeça para jogar futebol. O cabelo curto com caracóis e as pestanas pretas. Chamou a minha avó que quando me viu abriu os braços e gritou:
- Meu querido filho podias ter morrido. Que desgraça, meu Deus, então como é que te aconteceu isso, já não te disse para não andares a correr?! Vamos já para casa, o avô leva-te ao hospital.
E assim foi. Horas e horas, curvas e curvas, o cheiro a gasóleo e aos Gauloise, fizeram-me vomitar, o meu avô acelerou e quando chegamos disse ao médico que o menino estava com uma congestão cerebral. Os médicos trataram-me bem. Repararam na minha camisola dos Porfirios, disseram que eu parecia um canário, fiquei muito orgulhoso, disse-lhes logo que sabia cantar o “ Eu vi um sapo” e os “Passarinhos a bailar”.
Lá vim com grande penso no cerebelo a ouvir o meu avô dizer que devia ter pensado bem, que era um menino muito frágil, que não deveria ser tão inocente, deu-me caramelos e um gelado de gelo que vinha num saquinho estreito.
A Aurora era um anjo, branca de olhos azuis, tinha um bebé pequenino e estava grávida. Era jovem, quase sempre com tecidos transparentes a fluir. O povo não gostava da Aurora, tinha casado com um homem divorciado, mais velho, alem disso, nunca trabalhou no campo por preguiça, inventava doenças para ficar em casa e não apanhar sol.
Interrompi-as para pedir autorização para acompanhar a rapaziada a uma brincadeira nos campos do Toutelo. Olhei para a Aurora que estava igual, de pé, com o menino no colo, sorria, e a minha avó deixou-me ir.
Estava em desvantagem, não sabia subir muros, muito menos árvores. Eles incentivaram-me, pareciam empenhados em fazer-me superar a tarefa de subir à cerejeira. Empurraram-me, içaram-me e lá consegui. Disseram-me para avançar num determinado ramo e colher as cerejas do ramo superior. Estava tolhido de medo, mas ainda não tinha vertigens. Avancei. Pediram mais. Caí e desmaiei.
Soube depois que aqueles lindos meninos e meninas inocentes dos campos cheios de flores pensaram que me tinham acabado com a raça. Com medo de represálias, porque matar um tripeiro naquele tempo era algo grave, fugiram.
Acordei nos braços da São. Loura de olhos claros e unhas vermelhas. Era empregada interna da Tia Laura, órfã de pai, servia desde os 11 anos patroas velhas e autoritárias. Vinha do bairro das minas e, por isso, nem a chave lhe confiavam. Desde que a extracção de volfrâmio tinha sido suspensa que os mineiros eram ladrões e ela não escapava à nomeada. A São tinha o quarto no sobrado, a casa de banho era na horta, os panos com que me limpou a cabeça estavam ensanguentados no penico.
Desde esse dia passei a visita-la, ensinou-me tudo sobre o amor. Como deixar as miúdas de rastos só com uma carta. Ela escrevia folhas e folhas para um trolha que estava a construir uma obra importante em Lisboa, só vinha ao fim de semana, a São raramente o podia ver, a patroa chamava-lhe puta, sempre que a via a namorar e já tinha sido despedida por causa disso. Pedia-me segredo de tudo aquilo que lia, gostava dela, parecia uma boneca a que eu tinha arrancado a cabeça para jogar futebol. O cabelo curto com caracóis e as pestanas pretas. Chamou a minha avó que quando me viu abriu os braços e gritou:
- Meu querido filho podias ter morrido. Que desgraça, meu Deus, então como é que te aconteceu isso, já não te disse para não andares a correr?! Vamos já para casa, o avô leva-te ao hospital.
E assim foi. Horas e horas, curvas e curvas, o cheiro a gasóleo e aos Gauloise, fizeram-me vomitar, o meu avô acelerou e quando chegamos disse ao médico que o menino estava com uma congestão cerebral. Os médicos trataram-me bem. Repararam na minha camisola dos Porfirios, disseram que eu parecia um canário, fiquei muito orgulhoso, disse-lhes logo que sabia cantar o “ Eu vi um sapo” e os “Passarinhos a bailar”.
Lá vim com grande penso no cerebelo a ouvir o meu avô dizer que devia ter pensado bem, que era um menino muito frágil, que não deveria ser tão inocente, deu-me caramelos e um gelado de gelo que vinha num saquinho estreito.
6 comentários:
Agora percebo a razão desa tua vocação para trolha, Privada. Já encontraste a tua São ou continuas à procura?
O meu avô também fumava Gauloises mas só quando o Manel, seu neto, vinha de férias de la France.
:-))))))) As tantas, exacto, sabes ke a escrever estas cenas vou percebendo outras, afinal houve um tempo em ke era bem sucedido com as louras.
Sim vinham de França, mas isso é outro episodio, onde mais uma vez entra o meu Tio Jorge, a fumar gauloise de capacete à caveira.
E tu, o segundo episodio?
Eh pá, estou cum uma molenga do caraças! nem o 7º café do dia me conseguiu despertar! Talvez amanhã dê seguimento à saga!
Fico à espera, palpita-me ke o principal das cenas se passam no rio. Depois podemos fazer uma compilação. 3 versões para as ferias grandes.
Boa! E tens bom palpite. Tem sempre a ver com um rio!
Estou atento saphou e a aprender, amanha sai melhor. :-)))
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