sábado, 29 de novembro de 2008

É cavar do cavalo, do boi, dos tratantes e dos falantes

O gabiru gabarola, tapado com um gabinardo e deixando algumas gadelhas a sair do gabéu, dirigiu-se ao gaiulo, afastando-o da gajada e, apontando-lhe o fura-bolos, disse:
- Passa o gadé para a minha gadanha ou a fusca manda-te para a fábrica de tijolo de uma assentada.
O gaiulo, fanado, com a fajeca, ainda balbuciou que estava com falta de ar, arriscando ser feito em fanicos. Garantiu que ia fazer o correio, mais à noite tinha o cebo e entregava todo o produto da jarda. O gabiru acertou-lhe com a fusca na chaveta e deu-lhe uma carga de lenha, rematando com uma lagosta.
-Isto é só um aviso! Olhou para a cebola, deu-lhe mais uma hora e esgalhou no chiante.
O gaiulo lambeu o fundo ao tacho, limpou o larato e deu de frosques. Tentou um leilão, mas deu fussanga. O balcão não tinha cheta, ainda não tinha sido intervencionado pelo Estado.
Ainda por cima, a bófia bispou tudo. Apanhado com a boca na botija e com o fujante apontado, lá foi no boca-de-sapo para a canga.
Um falante oficioso livrou-o da choldra, embora o gaiulo implorasse para ficar. Mas o falante era cheio de nove horas e falava grosso.
Teve mala pata. Nessa noite, o fabiano tentou cavar, mas não escapou do gabiru. Foi direitinho para a quinta das tabuletas depois de cheirar a brilhantina vezes sem conta. Tanta desgraça por causa do boi, do cavalo branco e do falante fanfarrão.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Lévi-Strauss

À luz dos estudos de Claude Lévi-Strauss, pode dizer-se que há um certo totemismo no Ocidente. Uma das provas está no facto de o cão de George W. Bush ser muito diferente do cão de Putin. Mostra-me de que raça é o teu cão e mostrar-te-ei quem és.
Obama vai usar o totem como instrumento político e levar um cão rafeiro para a White House. O homem não dá ponto sem nó. Cinco estrelas para Barack Obama.

Ritmos: Stomp

Natal Samsung


Nada de ficar atrás da Zon, nem a outra margem se deixa rebaixar. Sobretudo, não se pode deixar que o PIB arrase os portugueses.
Factos que levaram a Samsung portuguesa a iluminar o Cristo-Rei durante a época de Natal. Quatro anjos Samsung de mãos dadas, simbolizando a união e a paz, são visíveis a catorze quilómetros do monumento. Mas a Samsung quer um mundo verde, por isso preocupou-se com a poupança energética, optando pela instalação de LEDs, cujo consumo por lâmpada equivale a 1/8 de uma lâmpada não ecológica.
O Universo não deve ter gostado porque, em sinal de protesto, um raio atingiu a zona, desligando a iluminação natalícia da base do monumento, dois dias após a inauguração. A ocorrência deu-se numa altura em que relâmpagos e chuva forte atingiram o Concelho de Almada, durante cerca de 30 minutos.
Mas a Câmara de Almada, como é próprio das municipalidades, não sabe ler os sinais divinos e a iluminação foi reposta após alguns dias de apagão. É sabido que o povo gosta de iluminação artificial, até ao "raio-que-o-parta". Lamentável que ninguém se preocupe com a iluminação interior. Um povo interiormente iluminado seria perigoso para as municipalidades e afins. Nem o Cavaco, coberto de loureiros, ou o Sócrates, vestido por Magalhães, escapariam.


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O PIB e a infelicidade

Segundo estatísticas recentes, os portugueses são dos povos mais infelizes da Europa, havendo uma relação directa entre o grau de infelicidade e o PIB. Estamos ao nível de infelicidade da Bulgária, enquanto a Dinamarca transborda de felicidade.
Pelos vistos, a nossa melancolia característica, expressa no fado e na saudade, tem uma causa simples: o PIB.
Segundo a lógica PIBística, se saíssemos da pequena e egoísta Europa e alargassemos os horizontes ao resto do mundo subdesenvolvido, a maioria da população já se seria suicidado. Já nos países nórdicos, seria uma euforia permanente. E contudo...

Ritmos: Mayumana

Statements




Detesto Pais Natais a trepar tudo o que é varanda.

Saphou, empresária no more

Nos início dos anos 90, no boom do negócio das minhocas, porque eram grandes fertilizantes, porque os custos de investimento e manutenção eram baixos, porque o meu sócio betinho se encarregava de mexer na terra e tratar da criação, porque patati, patata, tornei-me, pela primeira e única vez, empresária. Era empresária no negócio das minhocas.
Regularmente, perguntava ao meu sócio:
- Então, quando é que começamos a ter lucro?
- Está quase! Era a invariável resposta.
As perguntas tornaram-se mais escassas e terminaram no dia em que ele me anunciou que as minhocas tinham desaparecido. Já não ia a Baião há algum tempo e, quando foi, minhocas "nickles"! Na versão dele, as minhocas tinham fugido - com se sabe, são espécies que se deslocam a grande velocidade -, ou tinham sido furtadas (pelo próprio?).
Compreendi, então, que não tinha jeito para negócios e que nunca seria empresária.
Mas com a janela do Adsense a piscar-me o olho, apareceu-me uma oportunidade virtual e, deslumbrada pelo capitalismo on line, lá preenchi tudo sem reflectir. Quando dei por ela, tinha uma horrenda janela de anúncios no blog.
A questão imediata foi: como descalçar a bota virtual? Passei o dia infeliz por a ganância bacoca ter estragado a minha recente criação. Não conseguia livrar-me da porcaria dos anúncios. Mas a sensatez e sabedoria da Filipa e do Privada livraram-me da embrulhada. Bem Hajam!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para ti, mestre, que não desistes de mim quando eu estou quase a desistir

Questions

Quantos olhos tem uma aranha-lobo sem olhos, de olhos grandes?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Para Patrícia M., já com os copos, dançar, Bien Venida!

O Natal está on

A Árvore de Natal Zon já brilha, no cimo do Parque Eduardo VII, em Lisboa. É a maior árvore de Natal da Europa e, sempre que estiver iluminada, pode ser vista de vários pontos da cidade.
Ao todo, a árvore levou 1 625 000 microlâmpadas e quase 13 quilómetros de mangueira luminosa, assim como 1 500 lâmpadas «bolinha» e 90 estrelas néon. A iluminação da árvore aconteceu no dia 22 de Novembro à noite e foi antecedida de um grandioso fogo de artifício.
Um trabalho meritório da Zon. Há que distrair o povo e dar-lhe trabalho de curta duração, para comprar as tradicionais prendas inúteis.
Não sei se a fauna do Parque gostará de fazer tudo às claras. E daí, ainda cobram uma sobretaxa pelos efeitos especiais.

Para informações mais detalhadas: www.zon.pt/arvore/


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dedicado ao sucesso da operação Furacão

Sting, Forever II

Respondendo a Eça

Quem me conhece sabe que um dos meus escritores favoritos é Eça de Queiroz. Guardo fervorosamente os dois volumes de "Uma Campanha Alegre", editados pela Lello & Lello.
Sempre adorei o comentário intitulado "Uma nova penalidade", em que Eça desmonta, pelo absurdo, o raciocíno do juíz que condenou um marido a varrer as ruas de Gouveia, porque assassinara sua mulher e a partira aos pedaços.
Na sua ironia notável, Eça questiona se Gouveia será uma localidade com tal imundície que se equipare a pena de degredo varrer as suas ruas. A província está cheia de mistérios. Ou se, pelo contrário, varrer as ruas terá deixado de ser um emprego municipal para ser uma pena infamante. Neste caso, corre-se o risco de deixar de haver varredores, dado que nenhum cidadão quererá a incumbência.
Em suma, questiona Eça: "Que a justiça nos esclareça sobre estes pontos: se limpar as ruas é uma penalidade nova, e se, a troco de quatro vassouradas, qualquer cidadão pode ter a vantagem de espatifar sua esposa; se a imundície especial e pavorosa das ruas de Gouveia torna realmente essa pena igual à de degredo; ou se o sr. juiz de Gouveia entende que matar a esposa é acto tão meritório, que merece um emprego remunerado pela câmara".
Pois bem, caro amigo, apesar de não ter um cargo público, e com uns anos de distância, eu respondo-lhe.
Fazendo uma interpretação actualista da sentença, afirmo o seguinte:
Considerando que o movimento de libertação das mulheres, já de si um fracasso, chegou a Portugal ainda mais distorcido e prejudicial;
Considerando que o macho lusitano continua no seu empregozinho, mais ou menos merdoso, e nos seus hobbies, estando-se nas tintas para tudo o resto;
Considerando que as mulheres, além de terem que trabalhar para sustentar a prol, devem ser belas, fazer as lides da casa, e ainda aguentar com o mau humor dos conjuges, ou namorados adoptados e das crias,
Considerando as ausências do típico macho lusitano em viagens de negócios, reuniões, jantares e afins;
Considerando que o típico macho lusitano mente por sistema, pelo que a raça é conhecida pelo tamanho descomunal dos seus narizes;
Considerando que se fazem de santinhos quando lhes convém, ou seja, porque querem algo ou fizeram algo errado, sendo que o período de santidade é sempre de muito curta duração;
Entendo que o sr. juiz de Gouveia era um visionário. Não no tocante a matar a mulher, mas a acabar com o marido. Essa espécie, seja em união de facto, seja em união civil, seja unido pelos santos laços do matrimónio, ao fim de cerca de 5 anos de casamento, deve ser considerada como pertencendo ao grupo dos parasitas. Os parasitas não são bons para o planeta terra, por isso devem ser eliminados. Eliminar o esposo e, eventulamente cortá-lo em cubos, ou triângulos, deve dar lugar a emprego remunerado pela Câmara ou até pelo Ministério. Mas um emprego bom. Faça-se um upgrade. No mínimo, acessora de qualquer organismo público.
Já matar a mulher é outra história. Salvo casos absolutamente excepcionais, deverá redundar em pena de degredo para o Iraque, Afeganistão ou Sudão. A Coreia do Norte também não está mal, porque entram logo na linha.
Esta que muito o admira,
Saphou

Statements


Não suporto anões de jardim.

domingo, 23 de novembro de 2008

Para acalmar o meu espírito atormentado

O simulacro

O simulacro de sismo, segundo a Protecção Civil, foi muito útil para detectar as falhas. Ao que parece, teriamos quinado quase todos. O simulacro do sismo está ao mesmo nível do desnecessário e humilhante jogo amigável contra o Brasil.

Dos buracos negros

Fala-se muito dos buracos negros nas diversas galáxias e dos diversos tipos de buracos negros. Provou-se que no centro da nossa galáxia existe um buraco negro e que no centro da galáxia que está em rota de colisão com a nossa existe também um buraco negro. A fusão dos buracos negros vai ser um show de pirotécnia de tal ordem que o fogo de artifício no São João do Porto ou na passagem de ano na Madeira ficaram para sempre envergonhados, de tal modo que não ousaram reaparecer. O próprio país desaparecerá, com a vergonha.
Do que ninguém fala é dos micro buracos negros que existem nas nossas casas e escritórios. Pairam na atmosfera como quem não quer a coisa, mas papam e transforam em anti-matéria sempre os mesmos objectos.
Desde logo, as canetas, dos mais diversos tipos, cores e feitios e todo o tipo de lápis. Não contentes, sugam as borrachas e aparadores (aguças cá no norte), clips e afins.
Mas não se ficam pelo material de escritório. Não há ganchos de cabelo, nem fitas ou elásticos que lhes resistam. E agora alargam o suganço às agulhas, botões e outras merdinhas do género.
O pior é que estes buracos só são perceptíveis por seres muito sensíveis às vibrações do universo, como eu. A familória que comigo habita tem formas demasiado espessas para compreender o etéreo. Cambada que insensíveis, acham sempre que a culpa é minha.
-Emprestas-me a tua caneta, porque a minha desapareceu? Não, porque tu perdes as canetas todas.
-Tens uma fita para eu fazer um rabo-de-cavalo? Não, porque depois não tenho para o basquete, tu nunca as devolves.
Tenho eu que aturar estes imbecis ignorantes. Nem me vou dar ao trabalho de explicar como é que um buraco maiorzinho transformou em anti-matéria a chave de casa.

Clube de Leitura

Se vendem medicamentos em hipermercados, também podem vender livros em bombas de gasolina. Mas sempre pensei que seriam livros populachos, coisa de segunda. Fiquei chocada ao ver o meu eterno venerado no escaparate giratório da GALP. Alí, sem pudores, exposto entre os iogurtes e a comida para cão. De GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, "A hora má: o veneno da madrugada". Ainda em estado de choque, qual foi a minha reacção? Comprar de imediato o único exemplar. Não fosse um paspalho comprá-lo. Traí um amor que remonta a "Cem Anos de Solidão". Ser obrigada a comer um pacote de batatas fritas com sabor a churrasco, seria uma penitência adequada.
Alguns livros deveriam ser apenas vendidos em templos literários, como a Lello, nos Clérigos.
Funes deve estar a rebolar de contente. Sempre preferiu Borges. Nem admite comparações. Não rirá por muito tempo. Nenhum autor escapa à fúria das gasolineiras.
Por último, uma sugestão de leitura para o interminável Domingo: "Os Anicetos também trabalham", de Linda Hayward e Irene Trivas, Col. Rua Sésamo. Este só se vende em locais de eleição.