domingo, 29 de novembro de 2009

A culpa é do Privada

Colocou a quinta à venda e disse que ia abrir um Café com a Amélia. Entusiasmei-me. Abri um Café sozinha, já que o Cris não quis que eu fosse sócia. Passei o dia a cozinhar. De madrugada, tinha grande reputação e menos de metade do dinheiro investido. Passei o dia naquilo. Esturriquei hamburgers, fiz bolo de morangos, tarte de abóbora, pêras caramelizadas, ainda tenho um peru no lume, ficou a assar toda a noite. Quando me deitei, doíam-me as costas, os dedos, os pulsos e choravam-me os olhos.
Não admira que tenha sido chamada a Belém. O Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, estava furioso comigo. Que eu não cumpria os meus deveres de cidadã responsável, que passara o dia a brincar com joguinhos de crianças, que tivesse juízo e deixasse de imediato o CafeWorld. Eu protestei, que era fim-de-semana, que não tinha que se meter na minha vida pessoal, que ainda estava convalescente, que não me podia falar como pessoa que se conhece de longa data porque nunca me fora apresentado mas apenas como representante institucional e que o Estado não tinha nada que ver com os meus hobbies.
Aí, ele passou-se e puxou-me a gravata a ponto de me esganar. Acordei sobressaltada. Devo estar mesmo mal para sonhar com o Senhor Silva! E ainda tenho que ver se o peru não esturricou.

sábado, 28 de novembro de 2009

As Saphous e os Saphous (até mesmo o cão que uiva e passou a ladrar) gostaram de ver o campeonato da 2ª circular,

tudo cabisbaixo, nem um golo para aquecer. Os verdocas, moralizados por terem vencido aos Pescadores da Caparica, aguentaram-se, e os voadores baixos são a única equipa das ditas grandes deste pequeno país que ainda não ganhou nada mas já perdeu uma Taça. Provaram que não são "invencivéles, em jorgês. Os dragões agradecem a falta de emoção e os bracarenses também. A Capital ficou mais deprimida. Aquela coisa é um derby? Então eu sou uma majorete da Sagres.
De qualquer modo, Mister JJ, fica-lhe mal culpar a relva, afirmando, em jorgês:" Este relvado não proporciona qualidade de jogo". Afinal, a culpa de estar em 11º não é do SCP, a ser coerente na sua argumentação, os verdocas têm contra eles é o factor relva sempre que jogam em casa.
Suponho que o relvado de Guimarães também não tenha agradado a Vexa, porque só proporcinou qualidade de jogo para um dos lados, o do grande emotivo Vitória de Guimarães.

Poesia Concreta

Augusto de Campos
clique na imagem para aumentar, se lhe aprouver

Crónica de VPV


Portugal por uma pena
Por Vasco Pulido Valente (Público, 28/11/09)

Os deputados são eleitos pelo povo e, em boa teoria, só o povo os pode punir e de uma única maneira - não votando neles na eleição seguinte. A liberdade é essencial ao cumprimento do seu mandato e à dignidade da sua posição soberana. Sucede que nunca ninguém respeitou os deputados portugueses. Suponho que em parte pela sua origem. Escolhidos pelo chefe ou pelo "aparelho" não devem nada, ou quase nada, a si próprios. Podem, por isso, ser tratados sem cerimónia como pessoal menor. Por outras palavras, com arrogância e com desprezo. Quando estive na Assembleia (seis meses depois do "cavaquismo"), as "condições de trabalho" (que, de resto, não existia) eram vexatórias. Mas ninguém parecia incomodado e muita gente parecia feliz. Talvez pelo título ou pelo dinheiro (aliás pouco), que ganhava na ociosidade.
No tempo em que os frequentei, estes "pais da Pátria" tinham um grande interesse: explorar até ao fim os pequenos privilégios, que o Parlamento lhes dava: viagens (com, ou sem, o chamado "desdobramento"), faltas justificadas por uma alegação inverificável e ambígua, duplo emprego e misérias do género. Havia faltas, claro - como já não havia, por exemplo, na universidade. Mas só formalmente. Com a consumada desvergonha indígena, bastava assinar um livro, guardado por uma secretária ou um contínuo, para estabelecer a presença, em princípio obrigatória, a qualquer sessão. A seguir, cada um ia à sua vida ou, se ficava em S. Bento, ficava a fazer horas pelas bancadas, lendo ou conversando. Tudo aquilo funcionava como funcionaria uma escola secundária indisciplinada e barata.
Agora, Jaime Gama, que - segundo corre - alimenta ambições presidenciais, resolveu pôr a casa na ordem. Com um cargo essencialmente simbólico, não lhe assiste qualquer autoridade para essa operação. O que não o impediu de perorar sobre os "deveres parlamentares", nomeadamente sobre o "dever de assiduidade", de exigir um "visto" oficial para certos tipos de faltas (não ao plenário, evidentemente) e de proibir certas benesses muito apreciadas (o "desdobramento" de algumas viagens, em primeiro lugar). Perante isto, o Parlamento (incluindo o grupo socialista), que sempre obedeceu sem mugir nem tugir aos chefes dos partidos, teve um sobressalto e uma revolta. Votar como lhe mandam não ofende a deputação do país. Prescindir da hipocrisia, da trapalhada e da borla não admite. A história é triste. É Portugal por uma pena.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Saphou abre a caixa de Pandora

Estavam à espera de quê?

Hemisfério Norte

Piso a palavra em quadrados da escrita
Piso de raiva os sonhos caídos da puta da vida
Piso o vómito na entrada do bar
Piso as sombras
Piso a rima mais a beata devota
Piso os sistemas capitalistas
Piso o plágio
Piso o G20
Piso a pena de morte
Piso a escória do fútil

Excelente! Digna de ser publicada em Diário da República, esta rebelião enQUADRADA de Hemisfério Norte.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Companheiros solitários permanentes há seis dias, apesar de separados por dezenas de portas

Eu já uivo
E o cão chora

Da arte de quebrar feitiços, transmitida por gerações e gerações via paterna

Naquele torpor do adormecer, Saphou vira-se para um lado e para o outro. Não está confortável em posição nenhuma. Será da febre?
De repente está na quinta, a tratar dos animais, mas ao apanhar os ovos de 15 galinhas, o seu cérebro transforma-se. Começam a crescer flores, que vêm muito de dentro e estão prontas a ser colhidas. Mas não são umas flores quaisquer, são uma espécie de plumas, feias, todas do mesmo tamanho, a cabeça tem a aparência de uma seara de centeio. Ter-se-á transformado num galináceo? As teias também não a deixam ver muito bem. Cacareja. O cão separado por dezenas de portas uiva. Má sorte, diz o povo.
Nessa altura, ouve uma voz que lhe diz que foi embruxada por alguém com poderes idênticos ou mais fortes dos que arrumaram com CR7 que agora é CR9.
-Usa a fórmula, usa a fórmula, repete a voz ao longe.
Num esforço de memória, a pouca que lhe resta, começa mentalmente a lengalenga que tantas ouviu da voz marota do pai:
"Eu te benzo,
Eu te talho
Com três palhas alhas
Com três peidos
Dados pela Rita Marmalhas,
Um meu,
Outro teu,
Outro de Maria Gabriela,
Merda para ti,
Merda para ela"
Seguem-se eructações e outras formas de libertar flatulência.
Acorda de vez, excitada pela febre, ou porque bebeu água a mais, muitos líquidos, recomendou o médico, não sofre da próstata como o Privada, nem são seis da manhã.
Micta litros, volta para a cama. Porra, não resultou, continu embruxada, agora sujeita a ser excomungada. A febre mantém-se. É melhor tomar um Benuron, de preferência do xarope que ainda tem, antes que o retirem do mercado, só porque não é cor-de-laranja, tem o tom mais outonal, para o castanho. Os tipos do PS e o nosso Primeiro estão metidos nisto, pela certa.
E o sono continua cheio de sonhos estranhos de que não se lembra e acorda às 6 horas e ponto para ir mictar. O Privada tem poderes. Até o tipo de letra mudou e não sabe como voltar à letra antiga.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A teia do Privada, tão real que é acrílico, estou toda enredada


Receitaram-me o Tico, já que os medicamentos não resolvem o problema

Homem, 21 anos de idade, otima aparencia 1, 89 altura 86kg. Não musculoso, otimo portugues, não fala girias, estudante universitario, alto nivel, atende abc paulista, grande sp, e interior de sp também, disponibilidade para viajens nascionais e internascionais. Ingles em andamento. Preferencia por mulheres mais velhas.
Mas para quê o Tico gigolo, com o custo acrescido da viagem internascionau, quando a oferta gratuita excede largamente a procura? As quarentinhas e quarentonas são muito desejadas. Então com aliança, upa, upa.

Livin' la vida loca


Desvirgulemo-nos virtualmente, amiga. Este som ressuscita o pior dos quebrantos. Não dá para colocar o video porque o menino desvirgulante não deixa. E até está prontinho para o massacre.
Be my guest Sweetie.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

À Espera II

Tolhida pelo medo da incerteza da doença e pelas ameaças concretizadas que tinha sofrido, quando tinha 38º de febre, sobretudo aquela bofetada que a fez rolar pela cama e cair estatelada, vendo estrelas no percurso, tudo tão rápido que nem sabia o que lhe acontecera, encerrou-se ainda mais no quarto à espera. À espera que fosse tudo um pesadelo de que ia acordar. Mas não. Era a realidade. Viu-a no espelho, sente-a na cara dorida e roxa, até hoje. A febre do fim da tarde também continua a visitá-la e a deixá-la em desespero. Não sabe o que tem, nem eles sabem. Que tem que ter paciência, ficar à espera.
Enquanto esperava, naquele dia em que o seu pequeno mundo desabou, em pleno desespero de taquicardia e tensão alta, à espera do inevitável AVC ou enfarte, rodou a chave, tomou vários comprimidos e pediu ao pai morto que lhe segurasse a mão, tal como ele lhe pedira enquanto vivo um dia antes de morrer.
-Fica comigo meu pai, não tenho quem me proteja, sussurrou-lhe, enquanto estendia a mão e chorava devagar no escuro. Tinha fome mas não ousava sair do quarto. Tinha sede, mas tentou esquecê-la.
No sono pesado da febre e dos calmantes, apareceu a avó Joaquina. Ficou tão confortável. Convidou-a para irem pescar no rio Tua e lá foram as duas.
A avó ria-se do medo dela ao colocar os pés descalços dentro de água. Ela tinha medo das cobras e dos sapos e de tudo aquilo por baixo dos seixos.
Pescaram peixes de todo o tipo, bogas, tainhas, enguias...mas a avó procurava um peixe especial, um peixe mágico. Disse-lhe para fazer pouco barulho, caso contrário ele fugia.
Com uma rede de apanhar borboletas a avó viu-o e zás, meteu-o dentro da rede.
Mas na rede,em vez de um peixe colorido vistoso, estava uma frase em latim que ela não entendia, qualquer coisa do tipo Litterarum radices amarae, fructus dulces.
-Ó avó, isto são letras, como é que é um peixe? A avó não chegou a responder.
Ela acordou, às seis da manhã, toda suada, de novo apavorada, com uma taquicardia assustadora, e calou o medo e esteve assim até todos eles irem embora. Não queria ser mais maltratada e não queria maltratar com o impulso da raiva.
A espera continua...
Melhor do que ela está o Oliveira e Costa, ao menos em prisão domiciliária, numa casa de luxo, pode circular por todo lado, jardim de inverno incluído, e não tem febre, nem risco de apanhar gripe A, fora o dinheiro a salvo em offshores e na Suíça.
Já para não falar do bem falante digno representante da classe, frequentador da high society londrina, em tempos presidente desse nobre clube que ontem mostrou vergonhosamente não ser "invencivéle", em jorgês.

sábado, 21 de novembro de 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

À Espera.

Outra vez. Mas agora a espera era só dela, solitária como breu. Todos tinham saído, para festas, cinemas, reuniões, noites em casa de amigos. Estava só com o seu medo. Talvez alguém noutra dimensão etérea a protegesse, pensava, ou talvez não ela tivesse que acreditar nisso para seu consolo. Esperava voltar. A incerteza e a febre toldavam-lhe o raciocínio, faziam-na chorar rios imaginários de água salgada. Ou ficar apática. Corada. Arrepiava-se e ardia com frio. O corpo dorido queixava-se. O futuro incerto. Restava a espera. De novo lhe vinha à mente aquele livro que lhe deixou marcas: "À Espera". Todos à espera, hoje era a vez dela. E a de um número imenso de gente. Uma humanidade inteira à espera, ironicamente, para nada.
Afinal não estava só com o medo. O cão rafeiro do vizinho também fora deixado em casa. Uivava e raspava com as patas. Dizem que uivar de cão é má sorte. E as paredes do medo avolumavam-se. Pudesse ela agarra-lo em carinhos, mas estavam separados por dezenas de portas, algumas fechadas à chave e não tinham como abri-las.
...
Parabéns Funes, adoro-te. Apesar de estar fora da festa. Mas tornei-me numa outsider. Há muito.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Nitch, a Pulga Amestrada.

A manhã acordara-a da noite mal dormida com um tímido e morno raio de sol infiltrado sem pré-aviso pela portada entreaberta. Não era hábito assim pernoitar mas a liberdade conseguida com a ocupação a solo do leito conjugal, facultara-lhe o seu próprio contento. Afigurava-se um dia distinto na sua irrepreensível equidade. Não ouvira antes de adormecer a recorrente pergunta, se já dorme, assim como não respondera negativamente, explicando que apenas treinava para morrer. Ninguém lhe perguntaria se já acordara e abster-se-ia, assim, da respectiva refutação, respondendo que não, que se mantinha na posição eréctil apenas por uma questão de sonambulismo. Palavras de matar o silêncio confundindo-se com gestos repetidos e gastos pela erosão do desamor e pela aridez da obrigação. Alguém, importando-se com aquele silêncio, perguntara da sua razão. Respondera, com um sorriso exangue nos olhos, que se deve falar se alguém nos ouvir, caso contrário, seremos tidos como loucos. A ideia de que quanto mais falasse, menos seria ouvida, avolumara-se no entendimento atingindo proporções faraónicas e remetendo-a ao mais profundo claustro social. O vazio da inércia ocupara o espaço até então transbordante de cor e o ínfimo sopro de vida sobrevivente naufragara num branco esquálido e obtuso que, ordeiramente, a leva pela mão, à loucura.

Que neura!

É melhor manterem uma distância de segurança.