quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Argumento para novela de segunda sobre a mais banal solidão
Bem vistas as coisas, ela nunca foi feliz, embora não soubesse. Mas ninguém é, por isso trata-se de uma banalidade.
Em pequenina, vivia numa casa enorme, com manchas de humidade no tecto, com uma janela virada a norte no seu curiosamente pequeno quarto. Mais parecia um corredor. Era frequente as centopeias assustarem-na. Só a sua imaginação de criança lhe permitia ver desenhos nas manchas de humidade: uma nuvem, uma montanha com casinhas, a cara de uma velhota, um anjo...
Disfarçava a sua solidão de filha única a desenhar ou a brincar com os búzios e beijinhos que apanhava na praia. Enchia a mesa da avó Rita com tudo aquilo e imaginava cidades, pessoas, construia bairros, a livraria, o pomar, a mercearia, a escola,...e os búzios ganhavam vida e transformavam-se em gente. Outras vezes, fazia cidades com lápis e os trajectos ficavam assinalados a cores. Assim podia imaginar as ruas mais movimentadas, como as pessoas se cruzavam, onde moravam...
Claro que havia os Legos, com que construia a sua casa de sonho, e as bonecas de papel que desenhava e a quem fazia vestidos.
Disfarçava a sua solidão de filha única a desenhar ou a brincar com os búzios e beijinhos que apanhava na praia. Enchia a mesa da avó Rita com tudo aquilo e imaginava cidades, pessoas, construia bairros, a livraria, o pomar, a mercearia, a escola,...e os búzios ganhavam vida e transformavam-se em gente. Outras vezes, fazia cidades com lápis e os trajectos ficavam assinalados a cores. Assim podia imaginar as ruas mais movimentadas, como as pessoas se cruzavam, onde moravam...
Claro que havia os Legos, com que construia a sua casa de sonho, e as bonecas de papel que desenhava e a quem fazia vestidos.
Os pais discutiam muito e aquele casarão, cheio de adultos que não se entendiam, era desconfortável. Mesmo nas épocas festivas, a mesa tão cheia de gente nunca lhe aquecia o coração. Lembra-se ainda daquele Natal em que chorou baba e ranho porque o Menino Jesus não gostava dela, apesar de ter sido bem comportada todo o ano. Numa carta lindíssima pediu uma pista de combóios e recebeu uma mini boneca horrorosa num berço de palha. Podiam ao menos explicar-lhe que eram os adultos que decidiam essas coisas. Teria o consolo de não ter o Divino zangado com ela.
Gostava da casa dos outros avós, na encosta do rio Tua, numa aldeia saida de um conto de encantar, com as vinhas de uvas moscatel saborosas e a avó Joaquina a contar-lhe histórias da família, da casa grande, enquanto a levava às hortas, à Igreja, ao rio...aquela varanda virada a sul era soberba. Mas os adultos só a levavam lá dois ou três dias no ano.
Quando saiu de casa da avó Rita, foi viver só com a sua mãe num andar minúsculo, onde se lembra de chorar muitas vezes encostada aos vidros da janela, misturando as suas lágrimas com as da chuva, com saudades do pai que raramente a vinha ver. Calada, chamava sempre por ele.
As muitas casas em que viveu depois da reconciliação dos pais eram melhores um pouco, mas nunca a casa com que sempre sonhara em pequena. Tinham em comum o desconforto.
As muitas casas em que viveu depois da reconciliação dos pais eram melhores um pouco, mas nunca a casa com que sempre sonhara em pequena. Tinham em comum o desconforto.
A mais bonita era uma casa moderna, dos anos 60, com um jardim cheio de brincos de princesa, que pendurava nas orelhas, até que uma enorme lagarta verde acomodada no seu brinco acabou com a brincadeira.
Uma explosão de pirotecnia quebrou os vidros todos da casa, enquanto os corpos voavam e aterravam na plantação de bananeiras ao lado da casa. Foi uma sorte não ter ficado toda cortada. O encanto da casa foi-se.
Outra casa tinha ratos, até que uma enorme cobra pendurada na despensa lhes acabou com a festa.
De qualquer modo, eram casas com história, enormes outra vez. Tinham um sótão só para si, para pintar murais e mais murais. Tinham quartos gigantescos (sempre desconfortáveis). Lembra-se de uma casa em que só habitavam o primeiro andar, porque o Rés-do-Chão estava atafulhado de mobílias antigas. Nunca ousou explorar o esse Rés-do-Chão porque imaginava todo tipo de histórias de terror, especialmente nos dias de chuva e vento em que o telheiro de metal fazia um barulho dos infernos mesmo ao lado do seu quarto. Foi nessa casa que viu os pivots televisivos assustados anunciar o 25 de Abril, essa casa, curiosamente, é hoje o Museu Carmen Miranda.
Os amigos de infância foram com as casas. Nómada, embora tivesse muitos, desapareciam ao fim de um ou dois anos, quando tinha que se mudar de novo. Era sempre a mesma história. Começavam por a gozar, por ser filha única, menina do papá, mas depois até se afeiçoavam a ela, era uma amiga sincera e, na altura, muito divertida. Gostava de aprender os costumes locais e nunca lhe ocorria gozar com a pobreza de espírito ou material de ninguém. Brincava ao prego, ao berlinde, à macaca...as casas estavam sempre cheias com seus amigos temporários. Hoje não se recorda do nome de nenhum. Apenas algumas caras esfumadas ficaram retidas na memória.
Sempre pensou um dia ter sua casa e a sua família de sonho. As noites de adolescência acendiam-lhe os sonhos. O que era (é?), aliás, um lugar comum entre as adolescentes da sua geração. Um engano educacional?
Sempre pensou um dia ter sua casa e a sua família de sonho. As noites de adolescência acendiam-lhe os sonhos. O que era (é?), aliás, um lugar comum entre as adolescentes da sua geração. Um engano educacional?
Os sonhos inatingíveis foram desaparecendo um a um, incluindo a casa de sempre. É o custo de ser adulto e de estar no Outono ou Inverno da vida terrena.
Hoje vive num andar minúsculo atafulhado de medos, memórias e tralha do passado e do presente. Rodeada de gente, continua solitária. Uns dias mais, outros menos, ao sabor da melancolia.
Já não é, sequer, a menina do papá. Está morto.
Já não é, sequer, a menina do papá. Está morto.
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Menina estás à janela
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Tonel quer revisão salarial
Que grande notícia! Também eu e muitos milhões de portugueses queriam e não aparece a nossa fuça desesperada no jornal. Já para não falar dos que não têm emprego. O tipo até é bom rapaz, não é nada de pessoal contra ele. Apesar de jogar no CLUBE de FUNES e PBL. Soccer rules!
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Futebol: Sporting
domingo, 28 de dezembro de 2008
Dos sacanas
Os sacanas dos familiares deixam os idosos nos hospitais durante a época festiva, não deixam contacto ou desligam o telemóvel, trocam presentes, empanturram-se, embebedam-se, dão porrada uns nos outros, insultam-se, viajam para as Caraíbas a crédito, ou ficam por perto a ver o fogo de artifício do bairro, conforme o estatuto sócio-económico, e depois vão buscá-los lá para o dia 2 ou 3 de Janeiro de 2009.
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Ainda a época festiva
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
CIA & Pfizer: Arte azul

Para apreciadores, a arte na informação:
-"Tome um destes. Vai gostar!"
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Afeganistão
Piero Manzoni

Para apreciadores,
a obra intitulada "Merda d'artista", do artista italiano Piero Manzoni, consiste numa série de 90 latas contendo as fezes do próprio artista. É fortemente influenciada pela ideia dos ready-mades de Marcel Duchamp. Uma preciosidade!
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Merda d' artista
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Estou balhelhas, por isso, que os comentadores, como Funes,
O Belo, que dizem detestar o Natal e afinal estão refastelados depois de terem comido, ressonado e sabe-se lá que mais... , me venham socorrer porque já não aguento esta quadra natalícia. Nem um postzeco! Só o Abrupto se mantém fiel, mas com umas merdices de alto teor intelectual que ainda tornam tudo mais deprimente. Hoje, ao ler o Abrupto, tive a certeza que JPP está deprimido. O poema é de chorar baba e ranho com as malditas saudades m....da infância. Já não tenho idade nem pachorra para continuar neste estado.
O PBL afirma estar em estado de graça, por causa do Cão. Mas PBL não conta, porque confesssadamente aprecia o Natal.
Se Funes não aparecer já, que seja amarrado, com as mãos atadas, à mais alta árvore de Linhares da Beira, com os pés descalços e as suas queridas escolopendras a fazerem-lhe cócegas nos dedos peludos dos ditos, enquanto é obrigado a partilhar dois queijos da serra e vinte iogurtes com um rato do campo. A Claras pode dar-lhe às colheres. Caso Funes perca no concurso de "quem come mais depressa", que seja deportado para a Suíça (francesa) e obrigado a uma orgia de fondue de queijo, todas as sextas-feiras à noite, com muita cerveja à mistura, e que termina, invariavelmente, com ele em pelota de trenó a descer os Alpes até cair de fuças no lago de Genebra, acertando em cheio no geiser e sendo projectado para as alturas.
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Últimato a Funes
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Um Natal diferente
- Não sei se volto. Não sei se resisto. Pensa.
As horas passam. A noite aproxima-se e com ela a angústia e o medo da morte. O medo da morte impede-a de viver. Todos lhe dizem que tem filhos para criar, que a sua tristeza permanente vai dar cabo deles, que o marido não tem que a aturar. Que outros passam pela doença e aguentam. Ela sabe disso tudo. Mas o medo é mais forte. Entrou em descontrolo. Sai de casa ao anoitecer. Diz que volta já. Mas vai ter com o pai.
Vê um carro preto a aproximar-se, talvez com uma família que se prepara para a Consoada. O carro atrai-a. Coloca-se mesmo em frente, já não pensa em mais nada. Liberta-se.
Na rua pacata começa um frenesim de sirenes e gente a amontoar-se. Mas ela já não está lá.
Está a ver tudo, fora do seu corpo ainda a cheirar aos fritos de Natal que passou a tarde a cozinhar. Não encontrou o pai e não suporta ver o sofrimento dos filhos ao olhar para o seu corpo frio. A angústia tornou-se eterna.
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Natal 2008
Marcas de prestígio





Para os comentadores amigos de marcas de prestígio, aproveito para as traduzir e para fazer as minhas ofertas natalícias virtuais:
-para PBL, uma camisa "Hugo Patrão" e umas calças "Paulo & Tubarão" a condizer.
-para os outros comentadores, "boxers" para rapaz (muito mais bonito do que cuecas) marca "Estrangulador".
-para as comentadoras, também "underwear" (muito mais bonito do que roupa interior) "O Segredo da Vitória".
-para os outros comentadores, "boxers" para rapaz (muito mais bonito do que cuecas) marca "Estrangulador".
-para as comentadoras, também "underwear" (muito mais bonito do que roupa interior) "O Segredo da Vitória".
-Para Funes, o Belo, umas calças e camisola "Buraco".
Não precisam de agradecer. Sei que ficaram comovidos com tanta bondade.
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Presentes
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Millenium, Bárbara Guimarães e Titanic
O novo anúncio do Millenium, com Bárbara Guimarães na proa do barco, ressalvada a pobreza da embarcação à vela, e a música à La Féria, causa na minha mente uma associação imediata com o Titanic: é melhor tirar de lá o dinheiro, antes que vá a pique!
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Millenum BCP
Período experimental III
Como é óbvio, o período experimental de 180 dias foi considerado inconstitucional.
Todavia, não me importava de ter dado um parecerzinho para aumentar os meus parcos rendimentos. Seria "trigo limpo farinha amparo".
- Ó Lopes, afinal só poderemos apreciar o seu bigode farfalhudo talvez durante 15 dias. Depois, teremos que o aguentar. A menos que a maioria de 2/3 no Parlamento nos safe.
Todavia, não me importava de ter dado um parecerzinho para aumentar os meus parcos rendimentos. Seria "trigo limpo farinha amparo".
- Ó Lopes, afinal só poderemos apreciar o seu bigode farfalhudo talvez durante 15 dias. Depois, teremos que o aguentar. A menos que a maioria de 2/3 no Parlamento nos safe.
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Período experimental III
Das questões e incompletudes dos 10 Mandamentos
O meu filho descobriu uma falha num dos 10 Mandamentos. Na verdade, afirma-se: "não cobiçarás a mulher do próximo". Mas há uma omissão quanto a cobiçar o marido da "próxima". Podemos? Ou há que preencher a lacuna? Bastará a interpretação extensiva? Parece-me de longe preferível a interpretação literal.
Também falta um 11º mandamento: "não causarás um traumatismo craneano aos teus progenitores". A minha filha ontem caiu-me em cima, literalmente. Trepou a uma prateleira, desequilibrou-se, e apoiou o cotovelo na minha cabeça. Ainda estou sob observação e com uma raiva doentia. Além de parecer uma toupeira porque me partiu os óculos na violência da queda. Não consegui ainda perdoar. O meu corpo de dor não deixa, quero, mas não consigo. Vem-me sempre à cabeça a frase: "negligência também é culpa". O "foi sem querer", não me tira as dores, nem o medo. O meu Eu Universal está nublado.
O Natal está definitivamente arruinado por estas bandas.
Hohoho!
Também falta um 11º mandamento: "não causarás um traumatismo craneano aos teus progenitores". A minha filha ontem caiu-me em cima, literalmente. Trepou a uma prateleira, desequilibrou-se, e apoiou o cotovelo na minha cabeça. Ainda estou sob observação e com uma raiva doentia. Além de parecer uma toupeira porque me partiu os óculos na violência da queda. Não consegui ainda perdoar. O meu corpo de dor não deixa, quero, mas não consigo. Vem-me sempre à cabeça a frase: "negligência também é culpa". O "foi sem querer", não me tira as dores, nem o medo. O meu Eu Universal está nublado.
O Natal está definitivamente arruinado por estas bandas.
Hohoho!
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10 Mandamentos
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Mário de Sá Carneiro: Quase
Mário de Sá Carneiro (1890-1916)
QUASE
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
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Assombro ou paz? Em vão ...Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor - quase vivido...
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Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
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De tudo houve um começo...e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
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Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas nunca mais fixei...
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Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
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Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
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Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
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Estados de alma
domingo, 21 de dezembro de 2008
Questions
Esta é especial para a Blimunda, que confessou destestar os "dias de... ". Pois hoje, 21 de Dezembo, estamos convocados para o dia do orgasmo global. Alguma sugestão?
Um casal de pacifistas da Califórnia convocou, para este domingo, um «orgasmo mundial pela paz» pelo terceiro ano consecutivo, às 12h04 de Lisboa. Esta iniciativa pretende assinalar o Dia Mundial do Orgasmo, escreve o 20 minutos.
O objectivo, segundo os organizadores Donna Sheehan e Paul Reffell, é conseguir o maior número de orgasmos sincronizados em todo o planeta, servindo de pretexto para que estas pessoas pensem um pouco mais na paz e não na guerra.
O casal, co-fundador da organização pacifista Baring Witnesse, que ficou famosa por organizar vários protestos com nus contra a guerra, apresentou três razões para este orgasmo funcionar como incentivo à paz mundial.
A sensação de bem-estar que traduz a harmonia com a qual se deveria viver na Terra. A compaixão, gerada pelo orgasmo, connosco próprios e com os outros. E a simbólica luta contra o aquecimento global, uma vez que, durante alguns segundos, se gera uma energia limpa.
http://diario.iol.pt/internacional/orgasmo-sexo-dia-mundial-do-orgasmo-paz/1024569-4073.html
O objectivo, segundo os organizadores Donna Sheehan e Paul Reffell, é conseguir o maior número de orgasmos sincronizados em todo o planeta, servindo de pretexto para que estas pessoas pensem um pouco mais na paz e não na guerra.
O casal, co-fundador da organização pacifista Baring Witnesse, que ficou famosa por organizar vários protestos com nus contra a guerra, apresentou três razões para este orgasmo funcionar como incentivo à paz mundial.
A sensação de bem-estar que traduz a harmonia com a qual se deveria viver na Terra. A compaixão, gerada pelo orgasmo, connosco próprios e com os outros. E a simbólica luta contra o aquecimento global, uma vez que, durante alguns segundos, se gera uma energia limpa.
http://diario.iol.pt/internacional/orgasmo-sexo-dia-mundial-do-orgasmo-paz/1024569-4073.html
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orgasmo global
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