quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Esta merda está a ficar com teias de aranha

Mulher que afogada em excesso de trabalho não bloga, perde a inspiração. Até perde a libido (ao contrário do que dizem os italianos)! E estou a fazer mergulho em profundidade em testes, trabalhos de mestrado e doutoramento, trabalhos para melhorar as notas de avaliação contínua, FarmVille, Cafe Word e o raio-que-o parta para descontrair do stress, e volto a ler aquelas merdas todas que já preciso de uns óculos de aumento. E depois tenho que ser arguente e membro de júris que são infindáveis e orientar tipos que nem sabem escrever deve ser, como na antiga 4º classe, na primária, no exame mais importante das nossas vidas, quando tínhamos de saber todas as linhas de caminho-de-ferro de Portugal e colónias de cor, mais os rios, só para amostra. Havia orais da 4ª classe melhores do que as denominadas "orais interdisciplinares", que de interdisciplinares não têm nada, porque tiram um tema à sorte de uma matéria e outro tema à sorte de outra, e estudam-no durante 15 dias e depois, sempre muito nervosos de ignorância, despejam 15 mais 15 minutos cada tema na única oral que têm que fazer em todo o percurso universitário. Portanto, interdisciplinar só se for por o júri ter que gramar ouvir dezenas de temas que não têm nada que ver com a sua área. Interdisciplinar é a justaposição dos três desgraçados que estão ali a fazer o frete, sendo que o asa até voa baixinho e chega a adormecer de tédio. Até já aprendi umas coisas de processo penal, que é coisa que abomino, sobretudo o tema interessante da história do processo penal, que já ouvi umas 30 e tal vezes. Dass. Ao todo já foram mais de duas mil páginas e dezenas de horas a aturar estas macacadas à bolonhesa em restaurante pizzaria nacional. Sobe-me a tensão, entro em taquicardia, ainda quino com os nervos. Alguém que me segure e acalme. Um dinheirinho para drogas é bem-vindo. Ainda de o tipo do autocarro não tivesse sido tão diligente...
Ou se isto fosse um blogue de gaja, colocava aqui uns coraçõezinhos e uns gatinhos, mais uns pompons e era um sucesso.
Triste, concluo que quando não se bloga por uns dias, todos nos abandonam, com algumas honrosas excepções. Até na blogosfera a competição é feroz. Não aparece, esquece. Há sempre um blog à sua espera em qualquer canto do mundo virtual.
Blimunda, faxavor de escrever qréqé coisinha para isto animar. Remeto-me ao silêncio por uns dias, ou horas...ou começo a copiar o Funes descaradamente. Mas nada de RPSzices.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O autocarro

Estava de noite e ela com aquele frio a tolher-lhe a alma e os sentidos, decidiu sair. Não podia permanecer na casa silenciosa, fria, que se ria à gargalhada dos seus medos, com ecos de outros tempos a recordarem-lhe feridas que iam abrindo.
-Vou arejar, ver montras, perder-me na multidão. Há muita gente que está só e doente. Não sou mais nem menos do que os outros. Enfrenta a vida como ela vier, dizia-lhe a sua razão.
Ia a entrar no carro quando foi atraída por uns faróis que se aproximavam lentamente e a deixaram fascinada, parada a olhar. Pareciam enfeites de Natal que cada vez se aproximavam mais. Era lindo o contraste do escuro da rua com aquelas luzes que a chamavam.
Ficou petrificada, as luzes mesmo à sua frente. Em décimos de segundo levou com os máximos e ouviu o condutor do autocarro, que se desviava:
-Então não me viu? Para a próxima pode não ter tanta sorte. Palerma!

Chico Buarque: Menino Jesus

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Quotes and Quotations: Advent

Advent, Advent,
ein Lichtlein brennt.
Erst eins,
dann zwei,
dann drei,
dann vier,
dann steht das Christkind vor der Tür.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Uma conversa histórica

O Sebesta, grande amigo do adolescente recém-chegado de Paris, está revoltado. Esteve toda a noite a jogar Medieval Total War, enganou a mãe que tem o sono leve, almofadando o quarto, e prosseguiu o seu plano. Só se deitou às seis da manhã quando conseguiu matar o Papa, o seu grande objectivo, porque queria ser Papa. Mas o jogo agora não o deixa ser o Papa.
-Ó pá, és burro? Para que é que mataste o Papa?
-Porque quero ser o Papa, mas o jogo não me deixa reescrever a história, ao contrário do que diz nas instruções.
-Mas para é que queres ser o Papa? E é natural que os cristãos não te queiram como Papa, se acabaste de lhes matar o líder.
-Sei lá, quero! Agora vou matar todos os cristãos para ver se fico finalmente Papa.
-És mesmo burro, para que é preciso um Papa sem cristãos, já pensaste bem?
-Não posso continuar a conversa, como controlo Roma, puseram outro Papa em Viena. Vou para lá, só deixo de jogar quando o matar. E mato todos os cristãos que me apareçam. Talvez matando dois Papas e todos os cristãos me deixem ser o novo Papa: Sebastião I, o Implacável.
-Papa de quem, ó calhau? Ainda não topaste pois não? Continua que vais bem. Papa Açorda!

My Blues, por Saphou

Clique na imagem para aumentar.
Tirada com telemóvel de segunda, algures em Setembro de 2009.
Todos os direitos reservados, excepto o de olhar.

John Lennon: Imagine

Ontem teriam celebrado

50 anos de casados. Iriam jantar fora, ele oferecer-lhe-ia orquídeas, como todos os anos. O amor escondido por trás das muitas desavenças e discussões teria brilhado nos olhos de ambos. Não passavam um sem o outro. Talvez até dessem uma pequena festa, com filhos e netos. Ou fossem brindados com a festa surpresa que nunca tiveram.
Mas ontem ela sentia muito frio e nem os programas festivaleiros ou as novelas da medíocre televisão, com que tenta que a noite seja menos noite, a distraíram. O frio vinha muito de dentro.
Ontem ela foi deitar-se sozinha. Ele morreu há mais de dois anos.
Pode ser que nos sonhos lhe tenha feito companhia. Nos sonhos até lhe pode ter oferecido milhentos ramos de orquídeas e podem ter dançado valsas.
Que Nossa Senhora da Conceição a proteja. A minhã mãe.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Nem o nosso objecto de culto escapa?

Então o Magalhães também é corrupto?
Mas ele não é impoluto?
O nosso grande pequeno objecto de culto?
A nossa caravela do Século XXI?

A Wolf at the Door

domingo, 6 de dezembro de 2009

Há muito que se davam mal,

como qualquer casal que se preze, mas decidiram mudar a coisa quando o divórcio esteve mesmo para acontecer. Ele não queria. Ela, não sei. Foram a uma psicóloga, conselheira matrimonial. A primeira sessão correu lindamente. Saíram com um espírito renovado (ou fingiram...). Ele achou tudo muito bem. Ficou agradavelmente surpreendido com a psicoterapia de que sempre tinha desdenhado.
Passados dois dias, numa conversa casual, afirmou:
-Olha, ontem ia matando a psicóloga.
-Antes da segunda sessão? Não lhe dás hipótese.
-Atravessou-se à minha frente na rua para fugir da chuva. Por pouco não lhe acertei. Fiz uma travagem na última e sorri-lhe para ela passar, fazendo até um gesto delicado com a mão.
Ela sabe que foi tentativa de psicoligicídio, com dolo eventual. Mas finge que acredita na versão dele, pelo menos até à segunda sessão em que planeia introduzir o tema:
-Senhora Dra., por algum trauma do inconsciente, o meu marido tentou matá-la no outro dia. Como vê, é um tipo perigoso. Transferiu a agressividade recalcada que sente por mim para a Senhora Dra., mas potenciada, é um psicopata em potência. Aí a coisa vai pegar fogo!
Pensando bem, a senhora não deve ter ganho para o susto porque até hoje ainda não telefonou a marcar a tal segunda sessão...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Don't Panic

Sou muito ignorante. Só hoje conheci o grande Porkito


Qual Hawai qual quê, borravam-se todos no mar de inverno da Nazaré!

Benjamim, porque te foste?

Ele fazia-me perguntas, umas atrás das outras, sobre a mora do devedor, sobre as diversas interpretações do art. 808º CC; com aquela melodiosa voz, dizia não concordar com o facto de o risco correr por conta do adquirente em caso de entrega, havendo reserva de propriedade; e bombardeava-me com dúvidas. Eu ia respondendo, ao que parece para seu contento, o que me fazia sentir inteligente, mas cada vez mais reparava na sua boca e nos seus olhos e naquela voz doce. Pediu-me se podia ter explicações em casa dele. Eu aceitei. Comecei a temer já no carro, porque o chauffeur espirrava constantemente e afirmava que os pais ainda estavam convalescentes da gripe A. Mas ele atraía-me tanto....
Sugeri que fossemos para minha casa, porque tinha mais livros, ele aceitou, mas pediu um Benuron à chegada. Engoliu-o num copo de água. Eu tinha um dilema: comê-lo entre o art. 793º e o art. 802 CC? Ou afastá-lo, para evitar o contágio? Estava cada vez mais apaixonada, ia arriscar...ele era tão atraente no seu metro e sessenta e cinco, tão jovem nos seus vinte e um anos....
Comecei a sedução: há duas teorias sobre a interpelação cominatória....
Acordei com um despertador ranhoso, ao som de uma marcha militar. O nosso amor em cima do Código Civil XXL, nas páginas da gestão de negócios, nunca se concretizou.
Só a mim!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

El comandante acaba de enviar sms de Paris, passo a citar

"Cidade linda. Povo de merda".

A minha mãe mata-me

O adolescente foi até Paris, já tinha apanhado a gripe A e já...foi para uma daquelas simulações inúteis das assembleias da UN que o presidente da ERC sempre acarinhou na Universidade. Representante de Cuba, que lhe coube em sorteio, foi adequadamente vestido com fato às riscas, gravata vermelha, chapéu e charuto. Não encontrei um uniforme à Fidel Castro na Zara. Colocou, contudo, umas medalhas e disse que ia dar show. Aliás, já tem fama, quer represente a Coreia do Norte, do Sul, a Austrália, ou a Rússia. Por isso o escolheram.
Uma representante das Honduras, na última assembleia em Braga, ficou impressionada porque cheirava tão bem, era tão bonito e falava com um tom tão superior de agressividade, que não descansou enquanto não conseguiu um grupo em que fossem todos ao cinema e ele se sentasse ao lado dela. Apesar da jovem ser modelo, ele declarou que era feia, tinha cara de cavalo, óculos de mosca e uma pronúncia horrível. Afastou a jovem promissora modelo Núria para sempre.

-O avião já partiu? Pergunta a avó preocupada
-Já partiu e já chegou, caso contrário o tipo estaria transformado em anjinho, respondo.
-Mas eu não o ouvi partir.
-Talvez porque o aeroporto fique a uns 20 km de distância?!
-Mas às vezes ouço os aviões a passar por aqui, e não ouvi o dele.
-Pois, mas esses vão para sul, Paris é para norte. Muito para norte, tão para norte que nunca mais el Comandante Castro deu notícias. E mantém-se incontactável.

Ouço passos de cavalo, será ele?

Três da manhã
Tudo escuro
Ouço passos
De cavalo,

É ele
O elefante
que dança
nos nenúfares

Depois de uma chinfrineira
No estábulo
Relinchou
porque é que
os dinamarqueses
preferem casar
com as tailandesas

Isto posto,
Adormeceu.
Eu acordei.
Mais uma vez
A insónia das três!

E mais logo é dia
de padres e padrecos
frades e fradecos
freiras e noviças.

A insónia das três
A insónia das três
A insónia das três

E acorda-me às 8,
uma hora depois
de eu adormecer
finalmente,
para me dizer

muito baixinho ao auvido:
Vou levar o teu carro à revisão.
Eu é que o vou rever!
O elefanvalo cavafante.