terça-feira, 2 de junho de 2009

Das ofensas e outros demónios

Ontem ela foi caminhar ao fim da tarde, envolta no nevoeiro. Sentia-se triste, desiludida, ofendida, zangada, mesmo, com uma série de acontecimentos recentes que feriram a sua sensibilidade, trouxeram os seus fantasmas e aumentaram os seus medos. Acompanhada pela maldita dor de cabeça que ameaçava instalar-se, foi procurar o seu Dom Sebastião.
Quando as lágrimas ameaçavam sair, num misto de tristeza e raiva, viu um barco de madeira, envolto na bruma, saído do mar. Nele brincava uma criança pequena, sozinha. Sentou-se a observar enquanto ela subia e descia o escorrega, vinha à proa e corria até à ré. Estava tão divertida, vestida de branco, no meio do nevoeiro ao fim da tarde... Ela descentrou-se e sorriu com a criança. Afinal, tudo o resto não existia, apenas ela, a criança, o nevoeiro e o barco.
Focou-se no presente, olhou a beleza em redor, esqueceu as ofensas, a tristeza, as mortes acumuladas. Por alguns minutos, conseguiu respirar tranquila. Quem diria? Afinal, Dom Sebastião volta mesmo quando o procuramos numa tarde de nevoeiro, nem que seja num barco de brincar, sob a forma de uma criança de vestido branco aparecida do nada.
Hoje, infelizmente, os demónios voltaram bem cedo pela manhã, deixando a cabeça a latejar.

8 comentários:

privada disse...

estava frio? é k me arrepiei ao ler isto

jama disse...

Bonito post. Parabéns.

UM que se preocupa disse...

Dê-lhe uma das suas garrafas, para a animar.

Blimunda disse...

Queria ser capaz de lhe dizer uma palavra que fizesse sentido mas não a encontro no meu reduzido léxico.

Deixo-a a sós com a minha Irmã Saudade

privada disse...

Calma, tbm nao estou assim tão solidario, quer dizer vamos k ela está a testar a nossa onda, se está a fazer marketing, calma, vamos verificar o andamento, se for mesmo necessario cedo-lhe uma

Blimunda disse...

Ontem alguém fazia um brinde a dois recém-casados nos termos que se seguem:

"A vida é curta e o casamento é longo! Bebam que passa mais depressa!"

Saphou, basta substituir casamento por sofrimento. Também são quase sinónimos, não se dará pela diferênça.

Mofina disse...

...

beijinho

saphou disse...

Beijos a todos. O seu poema, Blimunda, é sublime.