sábado, 3 de janeiro de 2009

Pérolas do pensamento fúnico

Temos muito a dever ao grande génio, semi-deus, Funes, O Belo. Não só escreve letras para peças de musica clássica, como escreve textos notáveis e tem o domínio da lógica. Balda-se, é certo, mas não há génio que não seja dado à preguiça. Também é raivoso, mas é outra característica do génio. Creio que também só toca campainhas de portas e nunca pintou ou esculpiu a mais rude peça de arte. Mas um génio não pode dominar todos os saberes e artes. Domina a arte de atirar à parede o que tiver à mão, arte das mais complexas, que partilhamos.
Até certo ponto, domina a arte fotográfica, no estilo inovador de horizontes oblíquos.
No entanto, o que me interessa realçar hoje é que Funes também tem dado grandes contributos para a doutrina jurídica, nomeadamente, contribuido de forma decisiva para a reformulação de velhos brocardos grosseiramente erróneos em que gerações de papalvos acreditaram. E só os mais invejosos dirão que se trata de mero conceptualismo.
Destaco o clássico "quem paga mal paga duas vezes", perfeitamente disparatado. Deve-se ao pensamento fúnico a sua reformulação, já ocorrida nos anos 80 do Século XX, mas ensinada nas melhores universidades (em que se incluem a FEP e a UCP-Porto) na década 90 do Século XX e na primeira década do Século XXI. Não há hoje jurista jovem e ilustrado que não saiba que quem paga mal não paga duas vezes. Graças a Funes, todos sabem que "quem paga mal paga as vezes que for preciso".
Bem Haja!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Operação anti-depressão

Suspeito de uma conspiração entre a Presidência da República, os partidos da oposição, uma parte do PS, os media e a indústria farmacéutica, para aumentar ainda mais o consumo de anti-depressivos em Portugal. Não há espírito sensível que aguente a sanidade mental. Nem nos contos dos irmãos Grimm a coisa é tão preta, ou em contos da Walt Disney, como Dumbo ou Bambi, que são do mais cruel que se pode imaginar. Nem mesmo a Paula Rego se lembraria de pintar tantas vezes o mesmo tema. É claro que Sócrates já toma Prozac há muito tempo e obriga os seus ministros a tomar também até ficarem cor-de-rosa. Ou então é feliz, dada a estupidez natural que o caracteriza.
As conexões entre a política, os media e a potente indústria farmacéutica, serão o próximo escândalo qualquer coisa dourado, prevê Saphou a bruxa.
Já sabemos que há crise. Tem de se mencionar isso a toda a hora? É como lembrar a um condenado à injecção letal todos os minutos que faltam até à execução, durante um ano e sem direito a última refeição. O tipo suicida-se.
Como é que alguém pode estar motivado para trabalhar, se já vai para o emprego tolhido de medo? Já não nos chegava a genética melancolia, o fado e a saudade...
Isto já é mental harassment. Para já, os media podem ser processados por danos morais e patrimoniais. Impõe-se uma providência cautelar que impeça, no entretanto, o dramatismo cúpido da luta pelas audiências.
Que Arlindo do Rego me valha!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Um clássico: concerto de Ano Novo pela Filarmónica de Viena

2009 - AIA

Bem vindos ao Ano Internacional da Astronomia.

Não é por acaso, é que o Planeta Terra está a tornar-se inabitável. Nós, os ricos, vamos zarpar das nossas ilhas privadas para hoteis de seis estrelas em órbita. Talvez até se abram franchisings na Lua. Vós, os pobres, estais lixados. Contentai-vos com a Astrologia. Nem mesmo nos resorts do Dubai, a preço de saldo, estareis seguros.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Argumento para novela de segunda sobre a mais banal solidão

Bem vistas as coisas, ela nunca foi feliz, embora não soubesse. Mas ninguém é, por isso trata-se de uma banalidade.
Em pequenina, vivia numa casa enorme, com manchas de humidade no tecto, com uma janela virada a norte no seu curiosamente pequeno quarto. Mais parecia um corredor. Era frequente as centopeias assustarem-na. Só a sua imaginação de criança lhe permitia ver desenhos nas manchas de humidade: uma nuvem, uma montanha com casinhas, a cara de uma velhota, um anjo...
Disfarçava a sua solidão de filha única a desenhar ou a brincar com os búzios e beijinhos que apanhava na praia. Enchia a mesa da avó Rita com tudo aquilo e imaginava cidades, pessoas, construia bairros, a livraria, o pomar, a mercearia, a escola,...e os búzios ganhavam vida e transformavam-se em gente. Outras vezes, fazia cidades com lápis e os trajectos ficavam assinalados a cores. Assim podia imaginar as ruas mais movimentadas, como as pessoas se cruzavam, onde moravam...
Claro que havia os Legos, com que construia a sua casa de sonho, e as bonecas de papel que desenhava e a quem fazia vestidos.
Os pais discutiam muito e aquele casarão, cheio de adultos que não se entendiam, era desconfortável. Mesmo nas épocas festivas, a mesa tão cheia de gente nunca lhe aquecia o coração. Lembra-se ainda daquele Natal em que chorou baba e ranho porque o Menino Jesus não gostava dela, apesar de ter sido bem comportada todo o ano. Numa carta lindíssima pediu uma pista de combóios e recebeu uma mini boneca horrorosa num berço de palha. Podiam ao menos explicar-lhe que eram os adultos que decidiam essas coisas. Teria o consolo de não ter o Divino zangado com ela.
Gostava da casa dos outros avós, na encosta do rio Tua, numa aldeia saida de um conto de encantar, com as vinhas de uvas moscatel saborosas e a avó Joaquina a contar-lhe histórias da família, da casa grande, enquanto a levava às hortas, à Igreja, ao rio...aquela varanda virada a sul era soberba. Mas os adultos só a levavam lá dois ou três dias no ano.
Quando saiu de casa da avó Rita, foi viver só com a sua mãe num andar minúsculo, onde se lembra de chorar muitas vezes encostada aos vidros da janela, misturando as suas lágrimas com as da chuva, com saudades do pai que raramente a vinha ver. Calada, chamava sempre por ele.
As muitas casas em que viveu depois da reconciliação dos pais eram melhores um pouco, mas nunca a casa com que sempre sonhara em pequena. Tinham em comum o desconforto.
A mais bonita era uma casa moderna, dos anos 60, com um jardim cheio de brincos de princesa, que pendurava nas orelhas, até que uma enorme lagarta verde acomodada no seu brinco acabou com a brincadeira.
Uma explosão de pirotecnia quebrou os vidros todos da casa, enquanto os corpos voavam e aterravam na plantação de bananeiras ao lado da casa. Foi uma sorte não ter ficado toda cortada. O encanto da casa foi-se.
Outra casa tinha ratos, até que uma enorme cobra pendurada na despensa lhes acabou com a festa.
De qualquer modo, eram casas com história, enormes outra vez. Tinham um sótão só para si, para pintar murais e mais murais. Tinham quartos gigantescos (sempre desconfortáveis). Lembra-se de uma casa em que só habitavam o primeiro andar, porque o Rés-do-Chão estava atafulhado de mobílias antigas. Nunca ousou explorar o esse Rés-do-Chão porque imaginava todo tipo de histórias de terror, especialmente nos dias de chuva e vento em que o telheiro de metal fazia um barulho dos infernos mesmo ao lado do seu quarto. Foi nessa casa que viu os pivots televisivos assustados anunciar o 25 de Abril, essa casa, curiosamente, é hoje o Museu Carmen Miranda.
Os amigos de infância foram com as casas. Nómada, embora tivesse muitos, desapareciam ao fim de um ou dois anos, quando tinha que se mudar de novo. Era sempre a mesma história. Começavam por a gozar, por ser filha única, menina do papá, mas depois até se afeiçoavam a ela, era uma amiga sincera e, na altura, muito divertida. Gostava de aprender os costumes locais e nunca lhe ocorria gozar com a pobreza de espírito ou material de ninguém. Brincava ao prego, ao berlinde, à macaca...as casas estavam sempre cheias com seus amigos temporários. Hoje não se recorda do nome de nenhum. Apenas algumas caras esfumadas ficaram retidas na memória.
Sempre pensou um dia ter sua casa e a sua família de sonho. As noites de adolescência acendiam-lhe os sonhos. O que era (é?), aliás, um lugar comum entre as adolescentes da sua geração. Um engano educacional?
Os sonhos inatingíveis foram desaparecendo um a um, incluindo a casa de sempre. É o custo de ser adulto e de estar no Outono ou Inverno da vida terrena.
Hoje vive num andar minúsculo atafulhado de medos, memórias e tralha do passado e do presente. Rodeada de gente, continua solitária. Uns dias mais, outros menos, ao sabor da melancolia.
Já não é, sequer, a menina do papá. Está morto.

Questions

Porque é que há alguém que se antecipa e come sempre o último chocolate quando já estavamos a salivar por ele?

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Tonel quer revisão salarial

Que grande notícia! Também eu e muitos milhões de portugueses queriam e não aparece a nossa fuça desesperada no jornal. Já para não falar dos que não têm emprego. O tipo até é bom rapaz, não é nada de pessoal contra ele. Apesar de jogar no CLUBE de FUNES e PBL. Soccer rules!

domingo, 28 de dezembro de 2008

Preciso urgentemente de harmonia


Dos sacanas

Os sacanas dos familiares deixam os idosos nos hospitais durante a época festiva, não deixam contacto ou desligam o telemóvel, trocam presentes, empanturram-se, embebedam-se, dão porrada uns nos outros, insultam-se, viajam para as Caraíbas a crédito, ou ficam por perto a ver o fogo de artifício do bairro, conforme o estatuto sócio-económico, e depois vão buscá-los lá para o dia 2 ou 3 de Janeiro de 2009.

Posters de sempre




sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

CIA & Pfizer: Arte azul


Para apreciadores, a arte na informação:
-"Tome um destes. Vai gostar!"

Piero Manzoni


Para apreciadores,


a obra intitulada "Merda d'artista", do artista italiano Piero Manzoni, consiste numa série de 90 latas contendo as fezes do próprio artista. É fortemente influenciada pela ideia dos ready-mades de Marcel Duchamp. Uma preciosidade!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Dedicado à estrela do Natal do PBL, de nome o Cão

Estou balhelhas, por isso, que os comentadores, como Funes,

O Belo, que dizem detestar o Natal e afinal estão refastelados depois de terem comido, ressonado e sabe-se lá que mais... , me venham socorrer porque já não aguento esta quadra natalícia. Nem um postzeco! Só o Abrupto se mantém fiel, mas com umas merdices de alto teor intelectual que ainda tornam tudo mais deprimente. Hoje, ao ler o Abrupto, tive a certeza que JPP está deprimido. O poema é de chorar baba e ranho com as malditas saudades m....da infância. Já não tenho idade nem pachorra para continuar neste estado.
O PBL afirma estar em estado de graça, por causa do Cão. Mas PBL não conta, porque confesssadamente aprecia o Natal.

Se Funes não aparecer já, que seja amarrado, com as mãos atadas, à mais alta árvore de Linhares da Beira, com os pés descalços e as suas queridas escolopendras a fazerem-lhe cócegas nos dedos peludos dos ditos, enquanto é obrigado a partilhar dois queijos da serra e vinte iogurtes com um rato do campo. A Claras pode dar-lhe às colheres. Caso Funes perca no concurso de "quem come mais depressa", que seja deportado para a Suíça (francesa) e obrigado a uma orgia de fondue de queijo, todas as sextas-feiras à noite, com muita cerveja à mistura, e que termina, invariavelmente, com ele em pelota de trenó a descer os Alpes até cair de fuças no lago de Genebra, acertando em cheio no geiser e sendo projectado para as alturas.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Um Natal diferente

- Não sei se volto. Não sei se resisto. Pensa.
As horas passam. A noite aproxima-se e com ela a angústia e o medo da morte. O medo da morte impede-a de viver. Todos lhe dizem que tem filhos para criar, que a sua tristeza permanente vai dar cabo deles, que o marido não tem que a aturar. Que outros passam pela doença e aguentam. Ela sabe disso tudo. Mas o medo é mais forte. Entrou em descontrolo. Sai de casa ao anoitecer. Diz que volta já. Mas vai ter com o pai.
Vê um carro preto a aproximar-se, talvez com uma família que se prepara para a Consoada. O carro atrai-a. Coloca-se mesmo em frente, já não pensa em mais nada. Liberta-se.
Na rua pacata começa um frenesim de sirenes e gente a amontoar-se. Mas ela já não está lá.
Está a ver tudo, fora do seu corpo ainda a cheirar aos fritos de Natal que passou a tarde a cozinhar. Não encontrou o pai e não suporta ver o sofrimento dos filhos ao olhar para o seu corpo frio. A angústia tornou-se eterna.

Marcas de prestígio









Para os comentadores amigos de marcas de prestígio, aproveito para as traduzir e para fazer as minhas ofertas natalícias virtuais:
-para PBL, uma camisa "Hugo Patrão" e umas calças "Paulo & Tubarão" a condizer.
-para os outros comentadores, "boxers" para rapaz (muito mais bonito do que cuecas) marca "Estrangulador".
-para as comentadoras, também "underwear" (muito mais bonito do que roupa interior) "O Segredo da Vitória".
-Para Funes, o Belo, umas calças e camisola "Buraco".
Não precisam de agradecer. Sei que ficaram comovidos com tanta bondade.