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domingo, 11 de outubro de 2009

Opinião de VPV sobre o Prémio Nobel da Paz: hoje a soltar a bílis que tão bem lhe assenta

Antes de Obama, outros Presidentes tinham recebido o Nobel da Paz: Theodore Roosevelt, Woodrow Wilson e Jimmy Carter. Theodore Roosevelt, um homem particularmente belicoso, foi o fundador do Império; Woodrow Wilson, a influência decisiva no Tratado de Versailles, preparou o advento de Hitler e da II Guerra Mundial; e Carter, coitado, foi uma irrelevância. Vem agora Obama, que junta o incurável "idealismo" da política externa americana à retórica populista e, sentimental, que Tony Blair inaugurou e que, infelizmente, se tornou a linguagem do tempo. A "obamania" é um triste sinal de que o Ocidente perdeu qualquer espécie de faculdade crítica. A palavra e o gesto bastam para lhe esconder o que se passa no mundo. Como se uma grande potência pudesse de repente mudar com uma criatura simpática e uma pequena dose de persuasão e boa vontade.
Para começar alguns factos: Guantánamo não fechou; a prática de sequestrar putativos terroristas (eufemisticamente denominada"extraordinary rendition") em países "terceiros" não acabou; e não acabou também a prática de prender suspeitos de terrorismo, dentro e fora da América, e de os tratar como "no campo de batalha". Pior ainda, Obama não quis condenar, nem investigar os crimes de Bush, nomeadamente a tortura; só prometeu, nos casos mais benignos, tribunais militares (regidos, como é evidente, por lei especial) e sobretudo não limitou ou diminuiu a secrecidade e o arbítrio do Estado segurança. Isto quanto aos celebrados direitos do homem e à convivência amigável entre a América e o islão, em que ele proclama acreditar.
No Iraque, Obama continuou, com pouco sucesso, a estratégia de Bush e adiou a "retirada" para 2012, ou seja, indeterminadamente. Em contrapartida, depois de consentir na eleição falsificada de Karzai, resolveu reforçar as tropas do Afeganistão (20.000 homens até Março e talvez mais 40.000 até ao fim do ano) e, principalmente, alargar a guerra ao Paquistão. O AFPAK, como já lhe chamam para abreviar, é um Vietname multiplicado por mil, uma aventura sem sentido e sem fim, que ameaça envolver a Índia e, muito provavelmente, a China (neste momento, os taliban ocupam uma parte considerável do território do Paquistão, publicamente protegidos pelo Exército como "reserva" contra a Índia). E no Médio Oriente, Obama não avançou um milímetro e parece mesmo que há o sério risco de uma nova Intifada. Para um prémio Nobel da Paz não é nada mau.
Fonte: Público on Line

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O fim da Monarquia, por Vasco Pulido Valente

Os cem anos da república (que se comemoram a 5 de Outubro) são também os cem anos do fim da monarquia. Não admira que meia dúzia de nostálgicos tenham resolvido homenagear o último rei, D. Manuel II, com um documentário, que se chama, por estranho que pareça, D. Manuel, o Traído. Infelizmente, excepto pela intervenção de Rui Ramos (como sempre relevante e sóbria), a coisa não faz qualquer espécie de sentido. Começa logo por insinuar que o homem, infectado por uma actriz francesa, tinha sífilis (como em 1950 o príncipe Félix Youssoupof, o assassino de Rasputine, veladamente dissera que ele era gay e frequentava os círculos gay da aristocracia inglesa). Não se pode imaginar uma recomendação tão malévola para o único sobrevivente de uma dinastia real, numa obra que se pretende de "homenagem".
Posto isto, que não se percebe, vem uma interpretação fantasiosa da queda da monarquia, que D. Manuel não podia de maneira nenhuma evitar. A monarquia caiu por duas razões. Primeiro, porque os partidos "rotativos", o Regenerador e o Progressista, que não podiam sobreviver numa sociedade urbana (no fundo, Lisboa, e um pouco o Porto), se começaram a dividir no reinado de D. Carlos. Segundo, porque proprietários do Estado, ambos permitiam, a seu benefício, um regime geral de corrupção, ardentemente odiado pela classe média. E, terceiro, porque os republicanos, também no reinado de D. Carlos, conseguiram mobilizar o "bom povo" para a violência. A "ditadura" de João Franco foi já um recurso do desespero. E o regicídio um resultado previsível.
O medo da "aristocracia" levou D. Manuel, e sobretudo a mãe, a uma política de transigência, com que julgavam defender o regime. Essa política implicou desde o princípio que não se investigasse o crime do Terreiro do Paço, em que estava envolvido um partido monárquico; e em pouco tempo tornou as forças conservadoras num conjunto de bandos, que se guerreavam e eram insusceptíveis de se unir ou de cooperar. O exército assistia a isto com rancor e parte dele conspirava (muito teoricamente) por uma ditadura militar. D. Manuel ainda tentou restaurar, da pior maneira, o "rotativismo", com os Regeneradores de Teixeira de Sousa, que se proclamavam "liberais". Mas, para mal dele, o "bom povo" e a lumpen "inteligência" que o conduzia não queriam "liberalismo", queriam arrasar a monarquia (e a Igreja) ao tiro e à bomba. D. Manuel não trouxe a revolução por incompetência ou fraqueza. Falhada a linha "dura" do pai, só lhe restava a moderação - ou seja, o compromisso com o terror. E, naturalmente, o terror ganhou.
In: Público 27.09.09 (sobre o Documentário exibido no Canal História)
Nota: a República faz hoje 99 anos, VPV refere-se a 2010.

Faço minhas as palavras de Vasco Pulido Valente acerca do desnorte do PSD

Parece que, por enquanto, Manuela Ferreira Leite não vai sair da presidência do PSD. Em vez disso, que seria com certeza imerecido vexame, sairá na "melhor altura" até ao fim do precário mandato, que recebeu o ano passado. Espera ainda uma espécie de compensação no próximo domingo. Quer pôr a casa em ordem. E, sobretudo, evitar a eventual eleição de Pedro Passos Coelho, que ela acha, ou dizem que ela acha, um "Sócrates de segunda". Os vários bandos do partido, que se preparam para uma nova guerra civil, não se opõem, desde que ela não exagere e marque rapidamente as "directas" para Janeiro ou Fevereiro de 2010. Mesmo Marcelo é contra uma defenestração imediata, que em princípio favorece o PS. Só um péssimo resultado no dia 12 apressará as coisas.
Há, neste momento, cinco candidatos à sucessão: Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Passos Coelho, Paulo Rangel e Aguiar Branco. E é esta a tragédia do PSD. Para começar, Marcelo e Marques Mendes já estiveram à frente do partido e não chegaram a parte alguma. Nem um, nem outro representam hoje para o PSD e o país (por muita inteligência e habilidade que tenham) a unidade e a reforma de que o partido precisa. Pelo contrário, trazem inevitavelmente consigo o peso morto e, a prazo, fatal de uma vida velha e velhas querelas. Passos Coelho (de resto, uma excelente pessoa) é, como diz com razão Ferreira Leite, uma nulidade enfatuada. Paulo Rangel, além de um grande entusiasmo e de uma retórica brumosa e um pouco arcaica, nunca mostrou qualquer qualidade política superior. E Aguiar Branco não existe.
Oproblema do PSD não mudou de 1995 para cá. O dr. Cavaco criou um deserto à sua volta. Entre um populismo provinciano, e às vezes grosso, e meia dúzia de técnicos na reforma ou muito bem arrumados nos "negócios", não deixou ninguém. Basta seguir os fantásticos sarilhos da "espionagem", para se ver o género de gente de quem ele gosta. Não admira que, depois do "cavaquismo", o PSD ficasse sem cabeça ou, se preferirem, com uma dezena de putativas cabeças, que mutuamente se anulavam. Os "sindicatos" de voto e as maiores câmaras (que "davam" empregos) começaram a mandar e, como era inevitável, estabeleceram uma absoluta confusão. Uma confusão que as "directas" (ganhe quem ganhar), a interferência directa ou indirecta de Belém e as relações com o Governo de Sócrates só podem aumentar.

(...)
In: Público.pt 4.10.09

sábado, 19 de setembro de 2009

A coisa, a ser verdade, é quase inconcebível (Vasco Pulido Valente)

Agora, espiões? Por Vasco Pulido Valente

Acoisa, a ser verdade, é quase inconcebível. Vamos por partes. Fernando Lima - assessor de imprensa da Presidência da República e um homem de longa e comprovada fidelidade ao dr. Cavaco - telefonou, em Abril de 2008, a um editor deste jornal, Luciano Alvarez, para lhe pedir um encontro, num "café discreto" da Avenida de Roma. Nesse encontro, Fernando Lima disse a Luciano Alvarez que o dr. Cavaco tinha uma suspeita grave - a suspeita de que o gabinete do primeiro-ministro o andava a "espiar". E disse mais: disse que falava com o conhecimento e por sugestão do próprio e chegou a indicar o nome de um possível agente. Conhecendo Fernando Lima como conheço, não o julgo capaz de inventar uma história desta estranha espécie e muito menos de a comunicar a terceiros, sem ordem superior.Na falta de corroboração positiva, José Manuel Fernandes não publicou nada sobre o assunto. Só que, em Agosto passado, um outro informador da Casa Civil do Presidente, a propósito da alegada colaboração de Belém com Manuela Ferreira Leite, repetiu as queixas de Fernando Lima e José Manuel Fernandes resolveu que já não havia fundamento bastante para abafar o caso. Sócrates comentou que se tratava de uma "brincadeira de Verão". E Cavaco não abriu a boca - ostensivamente para não interferir na campanha eleitoral. Mas também, ponto essencial, nunca desmentiu que o "espionavam", um acto simples que ninguém poderia considerar uma interferência. Não desmentiu nessa altura e até continua a não desmentir hoje. Atribuir esta reserva à suposta "paranóia" do senhor é fácil demais.Não vale a pena examinar os pormenores da história ou apreciar o comportamento do Diário de Notícias, que ontem revelou fontes que não eram dele e transcreveu um e-mail privado (repito: privado) de Luciano Alvarez, sem esclarecer a respectiva (e muito relevante) proveniência. Vale a pena pensar que não se trata aqui de um "caso" normal. Discutir seriamente, como se discute, se o gabinete do primeiro-ministro anda (ou andou) a espiar o Presidente da República é um atestado da corrupção do regime. Ao que parece, o Estado de direito, que por aí hipoteticamente existe, acabou por se transformar num manicómio (para não lhe chamar pior), onde as grandes personagens se traem e vigiam como num romance popular americano. E o país tolera o intolerável, com equanimidade e deleite.
(Público on line, 19/09/2009)