Estava insegura, com medo das vertigens e outras coisas estranhas que de vez em quando me assaltam, quando menos espero. Mas decidi que ia fazer a minha caminhada diária junto ao mar.
Saí de casa com algum receito, para caminhar meia hora, pelo menos. Pequenas pingas de chuva caiam do céu cinzento. E eu não levava casaco de chuva. Hesitei. Volto para trás? Era um bom pretexto para encobrir o medo.
Nisto, vejo uma miúda de cerca de 4 anos que ia na sua bicicleta atrás da bicicleta do pai. Este exortava-a a irem para casa porque podia vir muita chuva. A miúda respondeu prontamente:
"-Para mim, não está a chover".
As palavras entraram directas. Para mim também não estava a chover, nem havia que temer o que quer que fosse. Ia caminhar, nem que chovessem picaretas e o inesperado me pregasse as mais temíveis partidas. Caminhei com muito prazer. Até excedi a meia hora prescrita. A miúda kantiana foi a pessoa mais importante do meu Domingo.