Tive uma professora de francês que era mesmo francesa. Mas magra, de saia a meio torniquete, baixa, a mãe e a tia, essas sim, dignas da aristocracia da cidade das luzes.
A senhora não falava, piava, com os lábios fechados, fazia-me me lembrar a namorada do Zé Carioca. Mantinha longas conversações em francês com a menina Fernanda, recentemente chegada dos subúrbios parisienses.
Oh, eram tremendos os elogios e as comparações entre o nosso país e o país onde estas duas amostras de gente tinham vivido.
Eu, ignorante, prepotente, javardo e julgo que meio metaleiro na altura, atirava-lhe com Balzac, a torto e a direito, devo dizer que ensaiava à noite tiradas cínicas do autor e no meu francês porreiro, destroçava-a. Ela respondia: - Se o menino soubesse alguma “coisinha” de francês compreenderia melhor o autor, pois poderia lê-lo no original. – E falava em português, porque se fosse na língua da aula, não me ofenderia.
Excluído, sem qualquer capacidade de escrever um texto com sentido para os franceses, juntei-me ao Metralha, o veterano, inventamos-lhe o nome de “Pipi oui!” dito assim com lábios à piriquito. - Oh notre cheri Pipioui!
Deu-me um injusto e monumental 7 na pauta, fui à oral. A Pipi Oui abanava a cabeça, comentava que eu, moi, era incapaz de conjugar um verbo e ria aos bocadinhos, piu piu piu. Subiu-me uma inspiração e mal saímos da gramática, o francês fluía-me da boca , disse tantas respostas boas e correctas que tive um 10, é verdade, a sério, também eu fiquei admirado.
- Vai lá Privada, devias ter vergonha, o Francês é uma língua essencial e o Balzac, Privada, devias lê-lo de forma crítica. Vai e atenção ao Jornal deste mês, olha que estás por um fio, já disse ao teu avô a situação em que te encontras, não voltes a exagerar. Ganha juízo enquanto é tempo, tens capacidade para seres mais do que um tolo.
Agradeci com toda a humildade que sabia ter nestas alturas, estavam a dar-me uma oportunidade:
- Obrigado Doutor, muito obrigado, não o desiludirei, fica garantido.
- Vai semelho vai!
- Então, allor merci, et bonjour por vous! Com votre licence, au revoir.
Fechei a porta, sentindo dentro de mim um YES!, cheguei cá fora e aos amigos disse a verdade, porque aos amigos mente-se na ordem em que mentimos a nós proprios :
- Estavam à espera de quê? Bem vos dizia, a gaja deu um 7 ao Balzac não foi a mim. Tá feito, e com mérito, vamos ao bar!
A senhora não falava, piava, com os lábios fechados, fazia-me me lembrar a namorada do Zé Carioca. Mantinha longas conversações em francês com a menina Fernanda, recentemente chegada dos subúrbios parisienses.
Oh, eram tremendos os elogios e as comparações entre o nosso país e o país onde estas duas amostras de gente tinham vivido.
Eu, ignorante, prepotente, javardo e julgo que meio metaleiro na altura, atirava-lhe com Balzac, a torto e a direito, devo dizer que ensaiava à noite tiradas cínicas do autor e no meu francês porreiro, destroçava-a. Ela respondia: - Se o menino soubesse alguma “coisinha” de francês compreenderia melhor o autor, pois poderia lê-lo no original. – E falava em português, porque se fosse na língua da aula, não me ofenderia.
Excluído, sem qualquer capacidade de escrever um texto com sentido para os franceses, juntei-me ao Metralha, o veterano, inventamos-lhe o nome de “Pipi oui!” dito assim com lábios à piriquito. - Oh notre cheri Pipioui!
Deu-me um injusto e monumental 7 na pauta, fui à oral. A Pipi Oui abanava a cabeça, comentava que eu, moi, era incapaz de conjugar um verbo e ria aos bocadinhos, piu piu piu. Subiu-me uma inspiração e mal saímos da gramática, o francês fluía-me da boca , disse tantas respostas boas e correctas que tive um 10, é verdade, a sério, também eu fiquei admirado.
- Vai lá Privada, devias ter vergonha, o Francês é uma língua essencial e o Balzac, Privada, devias lê-lo de forma crítica. Vai e atenção ao Jornal deste mês, olha que estás por um fio, já disse ao teu avô a situação em que te encontras, não voltes a exagerar. Ganha juízo enquanto é tempo, tens capacidade para seres mais do que um tolo.
Agradeci com toda a humildade que sabia ter nestas alturas, estavam a dar-me uma oportunidade:
- Obrigado Doutor, muito obrigado, não o desiludirei, fica garantido.
- Vai semelho vai!
- Então, allor merci, et bonjour por vous! Com votre licence, au revoir.
Fechei a porta, sentindo dentro de mim um YES!, cheguei cá fora e aos amigos disse a verdade, porque aos amigos mente-se na ordem em que mentimos a nós proprios :
- Estavam à espera de quê? Bem vos dizia, a gaja deu um 7 ao Balzac não foi a mim. Tá feito, e com mérito, vamos ao bar!
Lá fomos comemorar a minha vitoria, com o guito do Abel, o filho do dono da fabrica de papel.
17 comentários:
"...sentindo dentro de mim um YES"
Chuambava.
devia ter sentido um OUI.
Ganda maluco! Pois olha, eu tive uma madame le professeur - Conceição Fonseca - nunca mais a esquecerei, que também me deu 0 10 à rasquinha para passar do 11º para o 12º. Saí do 1º período do 12º, leccionado por outra professora com um 18. Se me perguntares quem mais me ensinou francês, não perguntas, porque és um gajo esperto e sabes bem quem foi.
madame le professeur? Chumbado!
Olha que não Saphou, olha que não...
Le mot professeur est aussi bien masculin que féminin, chérie!
Se não foi por distração do escritor, Madame Pipioui cumpriu bem a sua função.
Falta ali um c, xiça. Leia-se distracção. É que foi mesmo por distracção.
eh eh eh eh... pipi oui, que fofo!
Le Français?! HUM!! Maintenant, il est en vacances!
Se ainda não chegou o acordo ortográfico a França, Blimunda tem razão: Monsieur, le Professeur/ Madame, le Professeur
Eu só tenho boas lembranças dos meus «stores» (na altura) de francês. Outros tempos!!
Madame la professoresse. Estou com a Saphou.
Sou um calhau a francês.
Também não querias ser um ás a tudo, pois não? Eu não uma uma de alemão, ora!
Não faço a menor ideia de como é que a palavra "pesco" foi substituída pela palavra "uma".
Quem dá uma, dá duas, ou três...Quem não dá uma não dá nenhuma.
Essa é que é essa, amiguinho.
Ves Saphou temos tudo para dar faisca.
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