sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Conto de sexta-feira : " A senhora"

Entraram no café, o único que permitia fumadores. Na mesa do canto, em frente à montra, uma senhora de olhos azuis, com os seus 80 anos, cabelo ripado num carrapito, fumava um cigarro e observava o movimento da rua, parecendo não prestar atenção ao galão que tinha na mesa.
Ana estremeceu, pensou que aquela senhora tinha estranhas semelhanças com ela própria, apesar de entre elas haver, no mínimo, 40 anos de diferença. Pediu o café, a senhora da mesa do canto encarou-a com um sorriso e disse-lhe:

- Muito bom dia, como está?
Ana devolveu o cumprimento e o sorriso cúmplice, na sua cabeça continuava a ideia de que a sua velhice poderia ser parecida com a daquela senhora de cabelo branco ripado, sentada na mesa do canto.

A Rita estava entusiasmada com a sua nova prova de aferição a um cargo superior, no ano passado tinha ficado à porta, no 3 lugar, não era o cargo que a entusiasmava, mas a hipótese de através dele poder voltar ao Porto. Falava depressa, todos os minutos contavam, na Segunda-feira teria de voltar para Lisboa, onde não tinha tempo para nada, embora passasse os fins-de-semana em festas atestadas de álcool e, mesmo ali, com as amigas de sempre, já tinha bebido 3 finos. O que era pouco, para aquilo que ultimamente a Rita bebia, a tarde estava ainda no início, sabiam que à noite sim, Ana esgotaria o vodka, e as amigas zombando inchariam o fígado com cerveja, nas habituais conversas até às 6 da manhã, libertas de homens e algumas sujeitas a grandes discussões à chegada a casa, mas era um mal cada vez menor, nada podia pagar aqueles momentos de liberdade. Rita continuava sózinha, sem esse tipo de preocupação. Lisboa tinha-lhe mostrado que o Rodrigo não era homem para ela e, de facto, não era, mas Rita nunca escolhia bem os seus homens.

Lisboa tinha-lhe ensinado a liberdade, que há muito todas tinham perdido, e trouxe a liberdade às amigas e deu-lha assim, como quem dá tudo aquilo que tem e fica cheio só com isso.

A Rita e a Ana tinham estabelecido os seus ideais de vida juntas, de uma forma ou de outra estariam unidas, nem que fosse só no fim. Juntas tentavam moldar o pessimismo da Marta, zangada muitas vezes com o que vida lhe deu, incapaz de reconhecer os seus valores intrínsecos, tinha-se refugiado na igreja, no filho, na família que já não suportava. Era mais velha, ria-se do entusiasmo, contrapunha as ideias, estava quase sempre triste e quando distraída, os olhos ficavam-lhe desanexados, perdidos na escuridão do seu castanho profundo. Em casa já tinha conseguido a indiferença e, ao contrário de Otília, não era insultada por ter passado a noite com as amigas, deixando o filho com o marido. Chegaria a casa, dormiria e ele sairia para um qualquer compromisso, deixando-a a ressacar a sós, sem a incomodar alapado no sofá, condicionando-lhe os movimentos.

Otília, por seu turno, chegada a casa viveria o inferno de sempre, provavelmente teria até o fecho de segurança corrido. Por sua causa, muitas vezes madrugavam na pastelaria, ainda bêbadas e sonâmbulas, para que ela não tivesse que esperar no patamar a abertura da porta da sua própria casa.

Aquelas noites eram um peso e uma consolação. Ali hipotecavam o seu mundo e não faziam grande sentido aquelas bebedeiras, mas eram tão importantes nas suas vidas, que quando se separavam como amantes, remoíam as conversas, trocavam e-mails e, sobretudo, compravam novos livros.

Otília contava os insultos de que tinha sido alvo, diga-se que ou ela já não os ouvia ou eles tinham diminuído. O que é facto é que o marido a acusava do mesmo crime, que ela pensava que ele praticava, embora nenhum dos dois tivesse a menor prova disso.

Estava a escurecer, a mãe de Rita faria o jantar com as compras que ela tinha feito e cujo custo seria dividido irmãmente. Depois deixaria as amigas a sós.

A senhora da mesa levantou-se, pôs a mão sobre o ombro da Ana e disse:
- Boa tarde, foi um prazer -la. Até sempre.

Ana voltou a responder de forma automática e, enquanto via a senhora de cabelo branco ripado desaparecer ao cimo de rua, perguntou às amigas quem era tão ilustre figura. Nenhuma delas a conhecia, nem sequer a tinham visto antes, pensavam que seria conhecida de Ana e, atendendo às semelhanças, que até fosse da sua família e por isso também lhe tinham desejado um resto de boa tarde, em coro.

22 comentários:

Blimunda disse...

Minha Nossa Senhora dos Aflitos! À sexta é proibido escrever tanto, pá. Não tenho tempo para leituras.

privada disse...

Pois e alem disso dá mt trabalho, podiamos inventar outra rubrica pre-fim-de-semana, pro exemplo Critica à sexta -feira, kk coisa menos extensa

pri disse...

Ei Bli foste ao email

Blimunda disse...

Pk? Já há novidade?

privada disse...

Nao percebo bem mas há, vai la

Blimunda disse...

Já fui. Olha o tsunami foi um ar que se lhe deu, mas pelo menos o meu vai ser publicado na antologia. Quanto ao teu não sei. O que é que diz?

privada disse...

Acho ke o email é igual para todos :-))))))))
Ate porke nao especifica o contacto, nem o conto, eu como ja nem sei o nick name ke usei, ando à procura a ver o ke enviei, lembraste ke enviei 2, fico na duvida se serao os 2 publicados :_))))

Mas pronto tá fixe, toda a gente contribui e fica fixe, olha é uma excelente ideia da parte deles:-)))

privada disse...

Mas nao consigo aceder para ver kem ganhou:-( Devem kerer manter supresa para dia 31 certo? Consegues ver no site deles?

Blimunda disse...

É fixe, pois. Principalmente para eles 20,00 aeros por livrinho x não sei quantos hihihihhahi. Ai que lindo, esto fui eu que escrevi, vês mãoe, vês pai e tia e avó e primo. Chama-lhes burros, chama! Ninguém dá ponto sem nó, amigo!

privada disse...

Exactamente, é uma ideia de crake , mas altamente burra, nenhum escritor por estupido que seja compra o seu proprio livro, só se for para ficar deprimido.
:-)))))

Muito boa esta nossa aventura Bli, demais. :-)))))))

privada disse...

A saphou vai-se matar de rir, temos ke dar aki um novo contexto :-))))))))))))))))))) Oh pá :-))))))

Blimunda disse...

Então não?! Cinco estrelas! Mas não é esta menina que vai comprar a antologia, podes crer.

saphou disse...

Que é isto? o incício de "Uma Aventura na Pastelaria"? E conclusões, não há? Tanta edição que tenho que hacer la siesta.

Blimunda disse...

Saphou, eu e o Privada vamos ser publicados. Ri-te, vá lá, aproveita agora.

Eu ajudo:
Mudança da Hora

Tinha acabado de entrar o horário de verão. Na paragem do autocarro, estavam uma velha e a neta. Ao lado, dois marmajos conversavam.
Um deles pergunta para o outro: João, que horas são? Responde o outro: Três na nova e duas na velha! A velha, reponde pronta: e cinco na tua mãe, seu filho da puta.

Anónimo disse...

O meu cabelo não é ripado, buuuá.

saphou disse...

Vocês vão ser publicados? Tiram-vos fotocópias? ;)? Fantástico, onde?

Blimunda disse...

Na Playboy! Yessss!!!!

Edita-me, please.

Agora me voy. Ficai com Deus e os Anjos! Beijocassssss

privada disse...

Vou contar-te Saphou, vais partir-te de rir. Enfim para inicio espero k estejas familiarizada com o termo Vaquinha, termo k nada tem a ver com a playboy.

Ora, como bem sabes, criamos a rubrica contos à sexta. De repente surgiu um concurso de uma editora para contos fantasticos. Pegamos nos contos aqui publicados e enviamos, com nicks names, o meu nem sei kal foi desta vez.

O premio era um Tsunami para os 1º lugares e os contos com nota positiva seriam publicados, numa especie de antologia.

Ate aqui tudo normal, entretanto dos contos referidos a dita editora já seleccionou, julgo que 63, ou seja ks todos os ke concorreram se nao todos, cada livro custa 20€ :-))))

Os participantes, julgo os unicos leitores interessados, poderao adquirir o referido livro por 18 euros. Ou seja o valor de um livro de qualidade já bem aceitavel.

Ora 18 x 63, da um valor simbolico, ou seja a editora benefecia porke publica kk coisa, os participantes veem os seus textos publicados e podem ate optar por nao adquirir o livro, mas normal sera ke o adquiram, foi isto.

Os vencedores serao conhecidos dia 31, os nossos contos foram incluidos. Boa estrategia da editora, da o prazer de ver publicado algo das pessoas ke gostam de escrever, vende-lhes o livro e pronto.

Se calhar nao riste, mas isso porque estou de rastos, sem humor, sem nada, ate parece ke tenho uma espada pá, oh caramba, caramba.

privada disse...

Oh Velhinha e diz-me uma coisa, és ou não és a Ana do futuro? Teve ou nao teve a Ana um encontro consigo propria?

Saphou mete aí grande piadola em cima disto, qq coisa pá que anime.

Vou ao banho, se nao morrer volto daqui a pouco.

Vicky disse...

Parabéeeeens, qual é editora? Quero comprar!

mac disse...

privada, isto é espantoso!
Estas quatro mulheres mais a senhora enchem-me a alma e olhe que não é frequente isso acontecer.
Muito bom mesmo, na minha humilde opinião.

privada, cada vez mais é uma fonte de espanto - começo a ficar preocupada, se calhar devia ter trocado de óculos há muito tempo, tenho andado pitosga de certezinha.

saphou disse...

Quero reservar e comprar meia dúzia.Parabénnnns!