terça-feira, 6 de outubro de 2009

Amália

Criados e adormecidos pelos fados das grafonolas, dos giradiscos e das vozes roucas dos avós, a geração dos fins dos anos 90 curtia Amália em segredo, a Amália velha, afónica, embriagada, perplexa.
Nesses dias, era uma vergonha admiti-lo em público, mas era também uma rebeldia sintonizada e expressa em português e, ao fim dos Doors, vinha Ela, de braços abertos levar mais longe a viagem, contra o admirável mundo novo.
Eram tempos de guitarras maradas, sem professores de acordes, de bombos e testos, de vestidos góticos, de calças rotas e estrelas da mercedes penduradas no peito. No meio dos charros, dos poemas, sentados na roda do Schopenhauer e Nietzche, vibravam, desafinavam e garantiam que Amália era substância de Dionísio sentada ao centro.
Hoje canta-se Amália, por todo o lado. O universo está sempre em sintonia, não há ideias únicas, nem originais, podemos pensar no Porto o que outros pensam em Lisboa, ainda que uns e outros tenham guardado segredo por uma boa dezena de anos.
PS: Este texto não merece referir Amália, tenham um pouco de paciência.

5 comentários:

Blimunda disse...

Pena que tenham sido tempos de guitarras maradas em segredo. Não fazia ideia. E o texto merece Amália, sim senhora.

privada disse...

Bendita a hora
Que esqueci seres um ingrato
E deitei fora
As cinzas do teu retrato

Assim eu quis,
e que sejas feliz,
Como mereceeeeeeeeeees

Aiiiii Porque o rancor!
Como o amor também se esquece!
Porque todo o mal tem um final,
Passa depressaaaaaaaaaa!
E hoje você,
Não sei porque!
Mas já não me interessa!
E hoje você,
Não sei porque!
Mas já não me interessa!

saphou disse...

À fadista! Ainda te cai o estuque e se partem os copos de vidro com esse trinado.

AR disse...

Fado: saída das tabewrnas de má fam e casa de alcouce - reestilizou-se com amália e carlos do carmo (fado-canção) á força de poetas de peso.
o jogo da sobreviv~encia a tal obrigou, adestrado que estava o ouvido do poviléu, havia que avançar para o público mais selectivo.

O fado botou corpo entre a cultura e a tradição - e agora há uma diarrreia de novas esperanças, exoticamente (tra)vestidas, que tentam ganhar a vida, sem vergar a mola...fado-estranha-forma-de-vida...fado fodido !

Para quem é, merda basta...

privada disse...

Óh Ar, traduza lá um fado e veja se entre o fado e classicos internacionais a diferença é assim tão reividicativa.
Ame o que é nacional, Sr. Ar!