quinta-feira, 2 de julho de 2009

República


Mudei para casa da Saphou ontem. Pelo caminho, recordei a primeira vez que vivi numa república, também foi assim, num inicio de Verão. Bati a porta vermelha, perante o riso estridente dos velhotes e do primo burro. Nem sequer um abraço me deram, um Good Bye. Riam, e ironizavam.
Sem mesada, sem apoio, com um saco da adidas cheio de comida, 2 livros maquiavélicos e cassetes pirata. Finquei o pé, olhei-os pela ultima vez naquele mês, e mudei para 3 quarteirões abaixo. No Porto as ruas são todas muito próximas.

A minha cama era debaixo da escada das águas furtadas. O soalho rangia com as nossas danças e às vezes fingíamos o suicídio da janela da mansarda. Declamava poemas para a malta que passava, já não sei se era poesia de metaleiro, de hippie, ou de grunge. Sei que os transeuntes levantavam os braços, em sinal de apoio. Lembro-me do Metálica ter saltado do telhado para o quintal por ser imortal, encontrámo-lo já de manhã, na soleira, para nosso enorme espanto, com vida. Ajudámo-lo a levantar-se e colamos-lhe os "raiban" com tesa transparente.

Regressei muitas vezes a casa dos velhotes numa tentativa de reconciliação, não me ligavam nenhuma, era como se não me vissem a encher os sacos de comida. Nem uma palavra de apoio, nem um “estás bem meu querido filho”, nada, não diziam nada.
A vida foi muito difícil para nós todos, ali desamparados, comíamos essencialmente pêssegos. Vendíamos desenhos na Batalha, o antigo centro de arte resmenga da nossa cidade. Não resultou, o povo estava ainda muito fechado às artes. A velhota ainda me enfiou dois cachaços em público por querer ser artista. Foi quase o fim da carreira, um revés inarrável.

Ainda hoje, não sei como merda descobriram onde eu morava, apareciam lá, cheios de autoridade, sem o mínimo carinho por mim, chamavam-me maluco e xingavam-me. 13 anos mais tarde descobri que eram comunistas e por isso não tinham capacidade para entender as grandes coisas que eu andava a fazer.

Desta vez tudo será diferente. E a casa da Saphou é na outra ponta na Foz, nunca me vão descobrir aqui. E terei finalmente a minha independência. O meu quarto é virado a norte e tem porta, a casa tem 2 WC e os 2 tem banho, é incrível. A Saphou é excelente e tem ar de quem, por muita fome que passasse, nunca roubaria o meu ultimo iogurte.

Gosto da Saphou, dos seus livros e dos seus CD´s. Pensamos montar uma escola. Conversamos até às 5 da manha, bebemos cerveja e levitamos. Construimos novos paradigmas. Estou aflito para mijar. Continuo mais tarde.

10 comentários:

saphou disse...

Cinco estrelas, five points, A+,
seja bem vindo. Não mije por fora.
Ninguém dá as boas vindas ao Privada, seus bacocos!

Blimunda disse...

Que inveja! Tivesse o meu dia 48 horas e meia e pedinchava uma cantinho para mim nesta República fantástica e bem ocupada!

Boa estadia malta!

SPR disse...

A quanto vendes a aguarela pá?

privada disse...

Blimunda que bom, pensei ke tinhas fugido com o carrasco do JG. Esta tudo bem? Aparece para a noitada de sexta, vamos beber cerveja e fazer yoga, a noite promete

privada disse...

já feitas 7 euros, há outras mais baratas mas tens ke as por à chuva pelo menos um dia para fcarem perfeitas

Anónimo disse...

Porra, 7 euros, isso es mierda!

mac disse...

Isto promete.

saphou disse...

Não se vende uma aguarela bera por menos de 100 euros. Que raio de artista és tu? Trolha?

saphou disse...

Nem os trolhas trabalham por 7 euros hora!

privada disse...

A arte deve ser acessivel ao povo, os desenhos tinham frases enigmaticas, ou poemas. Na altura custavam 100 escudos, 100 escudos dava para um enorme saco de pao e 3 choriços de vinho.