segunda-feira, 27 de julho de 2009

Não deixes que te retratem!

E ela continuava a sorrir, sorria sempre, sem um queixume, porque via que o pintor (que gozava de grande nomeada) tirava do seu trabalho um fervoroso e ardente prazer e se empenhava dia e noite em pintá-la, a ela que tanto o amava e que dia a dia mais desalentada e mais fraca ia ficando.

E, verdade seja dita, aqueles que contemplaram o retrato falaram da sua semelhança com palavras ardentes, como de um poderosa maravilha, - prova não só do talento do pintor como do seu profundo amor por aquela que tão maravilhosamente pintara.

Mas por fim, à medida que o trabalho se aproximava da sua conclusão, ninguém mais foi autorizado na torre, porque o pintor enlouquecera com o ardor do seu trabalho e raramente desviava os olhos da tela, mesmo para contemplar o rosto da esposa. E não via que as tintas que espalhava na tela eram tiradas das faces daquela que posava junto a ele.

E quando haviam passado muitas semanas e pouco já restava por fazer, salvo uma pincelada na boca e um retoque nos olhos, o espírito da senhora vacilou como a chama de uma lanterna. Assente a pincelada e feito o retoque, por um momento o pintor ficou extasiado perante a obra que completara; mas de seguida, enquanto ainda a estava contemplando, começou a tremer e pôs-se muito pálido, e apavorado, gritando em voz alta 'Isto é na verdade a própria vida!', voltou-se de repente para contemplar a sua amada: - estava morta!"


in Retrato Oval - Poe

6 comentários:

Blimunda disse...

Antecipei o final mal comecei a ler o texto. É sempre assim!

saphou disse...

Grande Privada, vamos continuar numa de Poe. A Senhora Blimunda ignorou os meus contos poescos, estou de trombas.

Blimunda disse...

Num é de trombas pá, é de beiça! E não ignorou não senhora! Ficou foi muda face a tanta criatividade. Aliás, fica-se sempre no limbo entre a decisão de considerar o conto relato de vida ou pura imaginação. O que, afinal de contas, nem interessa muito porque não há grandes diferênças entre uma e outra coisa.

Mofina disse...

Negro é, Poe o põe.

privada disse...

:-)))))
Tou mt aterafdo pá

Privada, o bacoco disse...

Advinhaste minha querida Blimunda porque o universo de POE está presente desde há muitos anos na educação de todos nós , todos ouvimos e conhecemos estas hitorias, tanto que as associamos a acontecimentos presentes, é certo que raramente os que nos educam nos dizem donde essas historias vieram, onde as ouviram, como as conhecem, se nunca ouviram falar de Poe.
É k a informação antigamente corria de boca em boca, perdia-se o nome do autor ficava a substancia, e é por isso que, ainda que na maioria analfabetos, as gerações anteriores eram mais cultas que nós, os letrados da era da informação, eram cultos porque contavam e ouviam historias de grandes autores. Nós temos nos esquecido. Não há kem nao conheça o Poe ainda ke nao o tenha lido. Fantastico, eu axo.