segunda-feira, 27 de julho de 2009

Privada, Poe, Espelhos


Entrando, atirei-o com fúria para longe de mim. Ele cambaleou, de encontro à parede. Fechei a porta, com uma imprecação, e ordenei-lhe que desembainhasse a espada. Wilson hesitou um segundo; depois, com um leve suspiro, tirou silenciosamente a arma, em guarda.
O combate foi rápido. Eu estava exasperado, sentia desvarios de toda a espécie e, num único braço, a energia e o poder de uma multidão. Em alguns segundos, dominei-o pela força, contra o lambril, e ali, tendo-o à minha mercê, mergulhei várias vezes, golpe após golpe, a espada em seu peito, com uma ferocidade de bruto.

Nesse momento, alguém tentou abrir a porta. Apressei-me em evitar uma intromissão importuna e voltei-me imediatamente para meu adversário que expirava. Porém. que ser humano poderá traduzir suficientemente o espanto, o horror que se apoderaram de mim, ante o espetáculo que se apresentou aos meus olhos?
O curto instante, durante o qual me desviara, fora suficiente para produzir, aparentemente, uma mudança material nas disposições do outro extremo da sala. Um vasto espelho? Na minha perturbação pareceu-me assim, erguia-se no ponto onde antes nada vira; e, enquanto me dirigia tomado de horror, para esse espelho, a minha própria imagem, mas com o rosto pálido e manchado de sangue, adiantou-se ao meu encontro, com um passo fraco e vacilante.
Foi o que me pareceu, repito, mas não era.
Era o meu adversário, Wilson, que diante de mim se contorcia em agonia. A sua máscara e a capa jaziam sobre o soalho, no ponto onde ele as lançara. Não havia um fio de sua roupa, nem uma linha em toda a sua figura tão característica e tão singular, que não fossem meus: era o absoluto na identidade!

Era Wilson, mas Wilson sem sussurrar as palavras, tanto que teria sido possível acreditar que eu próprio falava, quando ele me disse:
- Venceste e eu me rendo. Mas, de agora em diante, também estás morto... morto para o Mundo, para o Céu e para a Esperança! Em mim tu existias... e vê em minha morte, vê por esta imagem, que é a tua, como te assassinaste a ti mesmo.

in William Wilson - Poe
Fotos Privadinha : Viade de Baixo

2 comentários:

Gotico Lover disse...

Estamos muito góticos neste blog. Como é Viade de Cima?

Privada, o bacoco disse...

Podes ver hoje no JN uma noticia sobre a missa da gripe A.
Sao campas sem incriçao dado ke a velhas continuam a lavar as pedras com lixivia e vassouras de aço, ha um marco romano.