sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ferias Grandes III

O Tio Jorge apesar de ocupar continuamente um quarto na casa, dormia a maioria das vezes em frente à televisão, nem sempre estava ligada, é certo, e muitas vezes estava avariada, mas ele gostava de adormecer a olhar para o ecrã. Foi com ele que conheci os fins de emissão da RTP. Tinha uma XF, um capacete caveira e uma capa preta tipo Batman, mas de lona pesada. Às vezes viajava, parecia o cavaleiro do asfalto e da terra batida. Demorava 2 dias a chegar à Régua. Saía Sexta e só estava com a namorada na tarde de Domingo, era uma moça séria e de boas famílias, na verdade eram cunhados. Nas férias namorava com uma espanhola, era o amor da sua vida, mas vivia no estrangeiro, perto de Barcelona, de XF não podia lá ir . A XF era linda, caprichosa, uma mota Pit Bull, tinha que a tratar muito bem, para ela não o matar. Um dia resvalou numa ribanceira, andavam a pavimentar a nacional, caiu e todo esfolado, seguiu agarrado à roda de trás da moto, para que ela caísse suavemente nas silvas.

Naquele tempo o Tio Jorge era para mim um homem inteligentíssimo. Domesticou durante anos uma pega, que um dia morreu. Fizemos-lhe um funeral, tipo a rainha das pegas e de todas as aves voadoras, incluindo as araras. Não rezamos porque os funerais na aldeia eram todos em latim. Mas demos as mãos. E recordamos o momento em que inspirado o Tio Jorge tinha cortado metade da língua à pega e ela tinha começado a falar. Era uma estrela a pega, foi com ela que tive as minhas primeiras discussões de base política. “Privadaaaaaaaaa, Privadaaaaaaa” gritava ela a imitar a minha avó quando me chamava para comer. O meu avô dizia que o Jorge era um homem coerente, 50 anos a fazer a mesma coisa, nada! Tinha uma enorme colecção de livros de cowboys que um dia me ofereceu e ainda hoje estão intactos. É uma herança que em poucos anos há-de valer muito dinheiro.

Na realidade o Tio Jorge só nos interessava para fazer pistolas de pau branco e espingardas, não percebia nada de baterias e esse era o grande projecto de Verão. Feita com panelas de alumínio, pregadas em paus que espetávamos no chão à altura do banco do baterista. Foram longos dias a afinar o equipamento.
Ate que um dia, inspirados no António Variações, fizemos umas toucas à terrorista, calçamos as galochas pretas que por lá haviam e demos o concerto da nossa vida. As galinhas e os patos adoraram. Deviam vê-los a cacarejar, de asas abertas, perante o nosso remix do “Joana” do Marco Paulo. Cantávamos bem e afinados.

Infelizmente, ser cantor ou baterista não era profissão, diziam os velhos que era coisa do Diabo. A verdade é que se por acaso temos chamado à aldeia uma editora, tínhamos batido por completo os putos do “Biquíni pequenino às bolinhas amarelas”. Tivemos outros sucessos, como “ Os meus óculos de sol uh uh”. O tema "Estou bem porque não estou" era o nosso terceiro single, apesar de não sabermos bem a letra, o que interessava era a batida, o pormenor da roupa e as expressões faciais. O Patcholi por exemplo cantávamos só porque falava em sovacos, esse era impossível de tocar na bateria. A pouco e pouco fomos introduzindo novos instrumentos, como colheres, garfos, e tubos de ferro.
No auge da fama, a minha avó desmontou-nos o palco para alargar o galinheiro. Era assim a vida de artista naquela altura, nada valia perante a agricultura. Não nos chocou, estávamos preparados para essa reacção. Alem de que começava a ser tempo de ir para a Barragem, para a ilha, e tínhamos que construir uma jangada, sem pregos, para não furar as câmaras-de-ar que o avô tinha oferecido. Precisávamos do Nelson e do Gustavo e de autorização dos velhotes para iniciar a nossa travessia. Os remos não eram um problema, podíamos remar com as mãos. Faríamos como o Will Fog.

11 comentários:

Mofina disse...

E a XF para quem ficou, para a espanhola?

privada disse...

Bem Mofina, a historia da espanhola cruza-se com a historia do fim da XF, num triste Domingo de Agosto, em que o Jorginho ficou com casamento marcado.

Blimunda disse...

Desculpa, Privada! Tem-me doída a memória e nem forceps sai nada que valha!

Blimunda disse...

O comentário anterior é mais assim:

Desculpa, Privada! Tem-me doído a memória e nem a forceps sai nada que valha!

Privada, o bacoco disse...

Nao faz mal. Acho ate k este tipo de cenas nao interessa nos blogs, acho ke temos ke redirecionar para textos curtos, rapidos. Vamos esperar o k a Saphou vai dizer na reuniao de trabalho de logo a tarde. Depois da escaramussa com a loira estrangeira, palpita-me ka vai estar de mau humor.
Bjs e ja é fim de semana

Blimunda disse...

Pois, concordo, precisamente por isso!

Blimunda disse...

E que é que aconteceu com a loira, afinal? Ando mesmo às couves e não as vejo!

Privada, o bacoco disse...

Nem imaginas, tudo se passou em ingles. A tipa tinha um blog dakeles fashion, só gente chike e boa. A Saphou foi lá fazer nao sei o ke , a outra enervou-se veio aki, perdeu a finesa toda e amandou-se à Saphou.

Blimunda disse...

Porra! Não me digas! E assim mesmo, luta de arrancar cabelos? É sempre assim, as mais fashion são as piores, umas tripeiras, salvo seja!

saphou disse...

E o privada ofereceu-se para me defender, como um cavaleiro da Idade Média do Porto

Mofina disse...

Qdo estas memórias forem editadas, guarda-me desde já vários exemplares. Mto melhor k Prozac!