-"Eu adoro-a, ela adora-me", mas temos uma relação complicada, contou-me a minha amiga.
Após uma discussão inútil, decidiu ir visitar a mãe, que vive sozinha e tem 75 anos. Na verdade, a minha amiga foi espantar a sua própria solidão e o fantasma da discórdia.
Ficou mais uma vez impressionada com o contentamento da mãe com pequenas grandes coisas, que requer grande sabedoria. A mãe aprendeu, naturalmente, a estar no presente.
Exibiu-lhe, feliz, as oito tulipas que estavam a crescer que a neta lhe trouxera da Holanda há pouco mais de uma semana, como se fossem do mais fino ouro.
Reparou que o peluche com que dorme, que o neto lhe trouxe no ano passado de Itália, estava relaxado em cima da cama.
Conversaram disto e daquilo, até mesmo da selecção e de como a mãe ficou irritada por Portugal ter empatado com a Suécia, embora tenha jogado tão bem.
De repente, a minha amiga olhou para os telhados mais próximos do casario que desce da casa da mãe em cascata até ao mar e viu duas gaivotas, como que à espera. Estavam viradas para a casa e pareciam não querer sair dali.
A mãe sorriu e disse: -"são as minhas novas amigas. Começou por aparecer uma, agora são duas. Vêm sempre à mesma hora. Estão à espera que lhes dê pão. Se não der, começam a fazer barulhos e aproximam-se da janela da cozinha. Com a conversa atrasei-me". E lá foi alimentar as novas amigas ávidas de mimos.
A minha amiga ficou sensibilizada com a forma como a mãe se entretinha, se mantinha à tona, apesar de todos os problemas. A alegria inocente e genuína com coisas tão simples e tão profundas tocaram-na. Entendeu que a mãe, sem se dar conta, estava muito próxima da sabedoria que ela tanto buscava. Amou-a ainda mais por isso.
2 comentários:
Gosto. A velhice merece-me sempre muito respeito.
Amar a su madre siempre es bueno
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