sábado, 21 de fevereiro de 2009

Da solidão e outros males

Nunca lhe fizeram uma festa surpresa, apesar de já ser velha. Nunca a convidaram para madrinha de uma criança, nem a sua melhor amiga! Nunca foi a uma festa de carnaval. Nunca viajou para destinos exóticos.
Os outros, nas férias e nas "pontes", vão para a neve, vão para a quinta, vão para a aldeia, têm sempre um sítio paradisíaco para onde ir.
Ela permanece na sua pequena casinha assombrada pela sua vida e os seus fantasmas. Já não se lembra de ter férias fora dessa casa. Da aldeia longínqua onde nasceu já nada lhe resta, a não ser o túmulo, no adro da igreja. Tem uma vista magnífica, com os montes em volta e o rio Tua ao fundo. Mas agora até lhe dizem que não vai poder ser enterrada junto com os seus, porque já não permitem enterros fora do cemitério.
Nunca obteve nada por que não tivesse que lutar muito, desgastando-se a estudar e a trabalhar para se sustentar e sustentar os outros. Esteve sempre disponível para os outros, não sabe bem porquê, talvez por achar que esse era o seu dever. Sempre cumpriu os seus deveres.
O companheiro de sempre, com quem discutia quase diariamente, morreu. Os filhos foram para longe. Com sorte, recebe um telefonema uma ou duas vezes por mês. Nunca os visitou, porque o oceano é imenso e nunca ultrapassou o medo de andar de avião.
Hoje está um trapo doente, já nem tem coragem de conviver com ninguém. O mais difícil, aliás, é conviver com ela própria e o seu sofrimento permanente. Não gosta daquilo em que se tornou. Amarga, com um espírito incrivelmente velho quando comparado com a idade física. Ora chora, ora se enche de raiva. A solidão é a sua companhia diária. A tristeza ainda é maior em dias de sol e festa, quando o mundo se diverte. A sua incapacidade fica mais a nú.
Já não sonha, mas teme. Está incrivelmente doente, não sabe bem de quê. Sente-se doente. Droga-se para adormecer e esquecer.Quando acorda, a realidade ainda é mais cruel.
No entanto, continua a cumprir os seus deveres. Quando os filhos telefonam, coloca a máscara e inventa que está tudo bem.

7 comentários:

patricia m. disse...

Sugiro que encha a cara de vez em quando e seja feliz, afinal de contas a vida eh muito curta para ser levada tao a serio.

Unknown disse...

"Já não sonha"

Chá de cogumelos?

"afinal de contas a vida eh muito curta para ser levada tao a serio"

E ninguém vai sair vivo dela!
:-)

A vida é uma doença
sexualmente transmissível
e que tem 100% de mortalidade!
:-)

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=TqxWI0aSS0s

Chu..tou
A cara do cara caído, traiu
Traiu seu melhor, seu melhor amigo
Bateu , corrente , soco inglês e canivete
E
E o jornal nào para de mandar
G Ab
Elogios na primeira página
Sangue, porrada na madrugada
Sangue, porrada na madrugada
( A D G Ab )
Vida! Vida, vida, vida
vida bandida
Vida! Vida, vida, vida vida bandida
Vida! Vida, vida, vida vida bandida
Vida!
A F#m
É preciso viver malandro
assim
G E
Não dá pra se segurar, não
A F#m
a cana tá brava
G
E a vida tá dura
E
Mas um tiro só não vai me derrubar não
A F#m
É preciso viver malandro
assim
G E
Não dá pra se segurar, não
A F#m
a cana tá brava
G
E a vida tá dura
E
Mas um tiro sá não vai me derrubar não
( A D G Ab )
Vida! Vida, vida, vida
vida bandida
Vida! Vida, vida, vida vida bandida
Vida! Vida, vida, vida vida bandida
Vida!
(A D G Ab )
Correr, com lágrima
com lágrima
Com lágrima nos olhos
Não é definitivamente pra qualquer um
Mas o riso corre fácil
Quando a grana corre solta
Vida! Vida, vida, vida vida bandida
Vida! Vida, vida, vida vida bandida
A F#m
É preciso ver o sorriso
G
da mina
E
Pra subida da barra
A F#m G E
Aí é só, é só, é só
de brincadeira
A F#m
Ainda não inventaram
Dinheiro
G
Que eu não pudesse ganhar
A F#m
ainda não inventaram
Dinheiro
G E
Que eu não pudesse ganhar
( A D G Ab)
Vida! Vida, vida, vida
vida bandida
Vida! Vida, vida, vida vida bandida
Vida! Vida, vida, vida vida bandida

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=Hcuhq391CdE

Chove lá fora, e aqui, tá tanto frio.
Me dá vontade de saber, aonde está você?
Me telefona.
Me chama, me chama, me chama...
Nem sempre se vêem!
Lagrimas no escuro, lagrimas no escuro...
Tá tudo cinza sem você, tá tão vazio.
E a noite fica assim por quê?
Aonde está você?
Me telefona.
Me chama, me chama, me chama...
Nem sempre se vêem!
Mágicas no absurdo, mágicas no absurdo, mágicas...
Nem sempre se vêem!
Lagrimas no escuro, lagrimas no escuro, lagrimas...
Nem sempre se vêem!
Mágicas no absurdo, mágicas no absurdo, mágicas...
Nem sempre se vêem!
Lagrimas no escuro, lagrimas no escuro, lagrimas...

Unknown disse...

http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2009/02/a_noite_escura.html

claras manhãs disse...

Viver desgasta e obriga a uma luta contínua, cansativa tantas vezes.
Todos temos, penso eu, fases, umas boas, outras más e outras ainda piores.
Há tunéis desesperantes e poços que nunca mais chegam ao fundo.
No entanto, conseguem-se ultrapassar, pé ante pé, para que ninguém ouça

beijinho

mac disse...

Saphou, Saphou...

"Quando os filhos telefonam, coloca a máscara e inventa que está tudo bem" - e os filhos, felizes, vão para a neve descansados.
Ora batatas, eles não têm culpa, e ela também não - de quem éa culpa,afinal?