quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Malangatana morreu em véspera de Reis

Os vendilhões da arte alegram-se sempre que um artista plástico morre. Ironia. Eles sempre pintaram por impulso de amor. É o dinheiro a falar mais alto. Os quadros sobem de imediato de cotação. Agita-se de excitação a Christi's e a Sotheby's, entre outras mais modestas. Se há rumores de morte próxima, os urubus correm aos marchands, que esfregam as mãos no cheiro do dinheiro. Dinheiro vil. Por ele descobri, também, em véspera de Reis, a desonestidade de alguém que sempre amei. Também uma parte de mim foi atingida ontem para sempre. Mas não esqueçam Malangatana, aquele homem simples, dotado, que tinha um talento que não podia evitar. Sempre quis um quadro dele com odores e cores de África no peito (ironia, morreu num hospital duma Matosinhos cinzenta). Nunca tive dinheiro o comprar. Agora muito menos. Também nunca tive um anel de noivado. Agora muito menos.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Conselhos de Designer

Depois não venham com tretas, que não fui eu que tive a ideia e tal...uma catrefada vai imitar-me.
Para 2011, lancei a moda de dois relógios no mesmo braço. De griffe, naturalmente..
Se a outra, em tempos, lançou a moda de um brinco de cada qualidade, e pegou, não é por eu não ser segunda mulher do Represas (pecadora, portanto, a menos que não tenha casado pela Igreja com a primeira, o que é muito provável) que lhe fico atrás. A ideia é de moi e surgiu por causa do destino. Uma predestinada.  No dia em que perdi o relógio de estimação, comprei outro igual, e o primeiro apareceu uma semana depois. Admito, contudo, o uso de relógios diferentes, desde que no mesmo braço. 

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ora Bom Ano, e cá vai a minha contribuição filosófica

O tempo subjectivo é lixado
e o objectivo também,

estranho de algo
que não existe,
pois o ontem não é
o amanhã também não
e o presente já era!

Como é que um gajo,
com esta confusão,
pode tomar antibiótico
de  12 em 12 horas?

Só porque os médicos são
uns nominalistas
convencionais pedúnfios

Mas o meu dentista é
de comer e chorar por mais,
podia ser modelo, actor, o estupor
ai se eu tivesse dentes!

P.S.  atentem na passagem de ano em Portugal em 2012 . Para os teenagers, esta.

sábado, 25 de dezembro de 2010

sábado, 18 de dezembro de 2010

Afinal, o povo não é sereno, como se pôde ver recentemente com a fúria do açucar. Xiça!

Falta açúcar, ai deuses que falta açúcar, é o reboliço, atropelam-se, abalroam-se nos hipermercados , vestidos com os seus fatos de treino, alguns até metem cunhas para açambarcar, a tia manda a criada para não parecer mal. Xiça, Dudes, é só açúcar! Se faltasse a insulina, ou o tirax, ou a rosca...Só açúcar Dudes histéricos. Aproveitem para começar a dieta e preparar o Verão, ou comam mel ou melaço, que faz bem às tosses  e rouquidões. Raio-que-parta estas gentes! PQP! Não há pachorra. Se os capitães de Abril vissem no que isto deu tinham ficado parados no semáforo vermelho do comboio (encarnado para os mouros) nos arrabaldes  de  Lisboa para sempre. Socrahisrtérica sociedade da geração ni ni (nem, nem, para os parolos) . Indiferentes à crise anunciada pelos media de dois em dois segundos até meter nojo, os portugueses gastam tanto que os pagamentos por multibanco atingem recordes históricos. Há que gastar, gastar, é Natal, o IVA em 2011 sobe, afinal, qualquer pretexto serve. Mas gastam em tudo o que mexe e não mexe, contentes. A crise económica apocalíptica não afecta o portuga que é portuga, o homem também ainda não chegou à lua garante a Carla Vanessa da caixa do supermercado Pingo-Doce. É tudo invenção dos jornais e televisões, para ganhar audiências. A ERC ainda vai processar estes programas sensacionalistas com economistas doutorados da treta que, qual adrabão do Al Gore, vêm anunciar a recessão de rachar quando o frio é que nos mata. Qual crise meu? Só se fores xoné  e que acreditas no que não é.Qualquer dia o economista agoirento ainda vai ser atingido pelo telespectador num olho, como diria o meu primo afastado João Pinto, o Grunho. FMI? Isso nem existe. Só se forem iniciais para ...dass mais isto.
Que venha o FMI. Vai ser mais emocionante do que a fúria do açucar!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Sonhei com ele,

o meu vagamente primo por afinidade, João Pinto, casado com uma vagamente prima da minha avó paterna, que está já no descanso da vida. Agarrado à taça, em 1987, não a dava a ninguém, nem mesmo ao presidente, nem mesmo com a ameaça de levar uns sopapos nas trombas. O Porto deserto, uns canadianos amigos a chegar de comboio e a achar a cidade fantasma, depois um momento épico, parecia o São João, só gente a sair, a manifestar-se de genuína alegria, tinhamos ganho aos tipos das Leaderhoses, da October Fest, das Trinklieds, aos meninos da Angela Merkel. Os canadianos a pensar que era tudo doido nesta terra, nós perdidos de riso.
O meu vagamente primo João Pinto, não diz calinadas, como esse Jorge Jesus, que não consegue fazer uma concordância do sujeito com o verbo, diz frases que ficam para a história, é um orgulho ser parente daquele grunho da inteligência, que "chuta com o pé que tem mais à mão", que só faz " prognósticos depois do jogo", que considerava o saudoso, para muitos, Boavista v. FCP um derby minhoto.
Quando o Porto passou por um período menos bom, ele indicou a única solução correcta a tomar: o meu clube está à beira do precipício, só há uma coisa a fazer, dar um passo em frente".
Isto é história minhas senhoras e senhores, parece que Sócrates, que não consegue estar afastado de um escandalozinho, vide voos da CIA, fonte Wikileaks, tomou a coisa à letra. Sócrates só entende o literal, o português técnico, por isso estamos a dar o passo em frente. Pinto da Costa, chamado a ministro, se não lhe cuspisse nas trombas, poderia ensinar-lhe umas coisas.
De qualquer modo, tenho que agradecer ao meu vagamente primo (na Linha e na Foz somos todos tios e tias, mas na aldeia somos todos primos) por me ter contagiado com alguma da inteligência que ainda hoje possuo, no Outono ou Inverno da PI. O meu coração, como o dele, só tem uma cor: azul e branco.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Wikileaks, serviço público ou crime?

Depende, só faço prognósticos depois do jogo, como o meu primo. Foi suprimido, mas chega lá na mesma.
Entretanto, pergunto-me se será melhor ir tirando o carcanhol do BCP. Gosto como os americanos tiram as medidas a Cavaco, a Pinto de Sousa, a Paulo Portas, ao PP, ao povo português e ao PCP. On target!
IP do site:

213.251.145.69

Some spice:
C O N F I D E N T I A L SECTION 01 OF 03 LISBON 000289

domingo, 12 de dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Natal em Dezembro

Ano Novo em Janeiro

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

W,B, YEATS, on dreams...

HAD I the heavens’ embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.

W.B. Yeats (1865–1939)
"He Wishes For the Cloths of Heaven"
from the Collected Works of W.B. Yeats

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Volto, com o vento do norte

ou não tivesse eu bigode e barba forte,
não podia deixar de assinalar o dia do homem
esse ser que é um corte,(hehe!)
ou, em em alguns casos
uma sorte.


Parabéns ao Jama e aos demais do sexo masculino, hoje é o vosso dia: 19 de Novembro, Dia_Internacional_do_Homem. Não sabiam?
Já seria de esperar. A ignorância domina a vossa classe (ou será escalão?).
P.S: Privada, não sei se é o teu dia porque tu és assim assim.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Estrela da tarde - Manuel Bandeira

A vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida
Os corpos se entendem mas as almas não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Vou-me embora pra Pasárgada!
Aqui eu não sou feliz.
Quero esquecer tudo:
– A dor de ser homem...
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possuí.

Quero descansar
Humildemente pensando na vida e nas mulheres
que amei...
Na vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Quero descansar.
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

(Todas as manhãs o aeroporto em frente me
dá lições de partir.)

Quando a Indesejada das gentes chegar
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira (1886 - 1968)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Conversas de Raparigas - post I

Para ler o que se segue, não deve o leitor sujeitar-se à informação adquirida, e isto é já uma informação, mas o aviso não é à toa. A informação adquirida impede novas experiencias, lembrem-se que é por esse facto, que à medida que envelhecemos, perdemos alegria e entusiasmo. Avisados que estão, façam o favor de ler como se tudo o que vos relato fosse novo, como se não conhecessem ninguém que tivera passado por isto, nem mesmo um qualquer personagem atrofiado, de um irrealista romance.

Tudo é simples se atendermos à palavra, de um ser que se nos apresenta como novo, todos os dias novo, e melhor ainda se for novo de velho, já sem capas de novidade.
Todas as palavras significam exactamente o que significam, e devemos estar atentos.

Vou dar-vos um exemplo, não que cuide de vocês em demasia, ou que vos considere lerdos, apenas pretendo que fique bem explicado.
Peço que não me desconsiderem, pela simplicidade dos factos, a verdade é que tudo é simples, quando é novo, e já vos pedi, que me leiam, como se tudo fosse novidade.

Imaginem então por favor, que estão vocês sentados com uma pessoa, que conhecem há muito tempo e tem dela informação adquirida. A pessoa pergunta:
- porque é que, à hora tal, no dia tal não atendeste a chamada.? - Respondem que não ouviram, e curiosos perguntam a razão do contacto, e a dita pessoa, sobejamente por vós conhecida, responde que: - Oh já não interessa.

Ora, porque a conheceis e dela tendes informação, ficais incomodados. Mas a verdade está na palavra dita, e é simples, se considerarmos o interlocutor uma pessoa nova, a conclusão obvia é que essa pessoa só fará perguntas sem interesse.

Vamos agora procurar o insulto de alguém que não conheceis, está a falar e de repente diz :
- Você é uma fraude. - Porque a não conheceis e ela se apresenta um tanto ou quanto irada, acreditais que pensa que sois uma fraude, ficais ofendidos, mas é uma pessoa nova.

Mas imaginemos, que tinham informação adquirida sobre essa pessoa. Sucedia, que passavam a considerar-se uma fraude, a informação adquirida tem peso, como já vos disse, condiciona o juizo de valor.

A pessoa pensa de facto que sois uma fraude, não há qualquer duvida nisso, se o disse, a questão é que por via da informação adquirida sobre a dita pessoa, pensais conscientemente que a palavra fraude tem muitos significados e se ficais ofendidos, não ficais como deveríeis, o problema está, que inconscientemente e porque não ficais ofendidos como se fosse uma situação nova, passais a considerar-vos uma fraude.

E agora se à palavra fraude, juntarmos outros insultos, corrupto, ladrão, vaca, puta, cabrão?…. Qunato tempo aguentará à sanidade face a esse tipo de informação adquirida? E se fosse de alguem de quem não tendes conhecimento, que é novo? A informação adquirida seria a realidade, essa pessoa pensa de facto, e literalmente aquilo que disse. Seguiam e esqueciam.

Compreendeis agora o perigo de não ver tudo como se fosse novo, é que quando é novo, não há grandes margens, é novo , é simples. A informação adquirida é um perigo para a sanidade.
(solito às meninas, que respondam em post, na verdade, e como disse, a informação adquirida deveria valer nada, pelo que, agradeço outros pontos de vista)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

:)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

...e continuamos a ser a chacota do resto do mundo



Pena não haver nenhuma contenção
Rebi-o hoje mor mail. Não tarda está aí por todo o lado, por todo o mundo



sábado, 25 de setembro de 2010

Dói menos de assim o desejarmos

Quando a conheci tinha ela mais de setenta anos. Aceitou contar a sua história para as minhas crónicas de jornalista recém licenciada. Na primeira pessoa do singular.
Nasci na Normandia, e ainda tenho seis irmãs, mas não se importam comigo, eu também nunca me queixo. Estão espalhadas por França e outros países, telefonam-me, às vezes, no Natal. Pode ser karma, sei lá, quando estava no topo do mundo não me preocupava muito com elas.
Cedo vim estudar para Paris e vivo neste apartamento precioso no centro, desde há 42 anos. É o meu refúgio, a minha casa, a única coisa que me resta, mais a minha dignidade e a minha vizinha que é muito minha amiga, arranja-me o cabelo todas as semanas.
Licenciei-me em Física e em Biologia, doutorei-me e Física e sempre trabalhei na Universidade e em várias empresas. Fui rica, pode-se dizer, inclusive cheguei a comprar uma casa em Ibiza. Adorável vivenda junto à praia com uma areia fina e um mar azul turquesa. Passava os meses de verão lá. 
Fiz muitos amigos então, cheguei mesmo a ter um curto casamento. Mas a minha vida era o trabalho apaixonante que desenvolvia. Nunca tive filhos.
Um dia, do nada, tinha eu quase 50 anos, apareceu o pânico. Lembro-me como se fosse hoje. Estava no laboratório e tive que fugir, senão achei que morria. Os ataques sucederam-se, deram origem a ansiedade generalizada e a uma depressão endógena. Afastei-me de todos, tinha vergonha daquilo. Comecei a faltar. Ficava paralisada com o medo.
Poucos anos depois,  fui dada como inválida para o trabalho e passei a receber uma pequena pensão.
Fui gastando as minhas economias, vendi a casa de Ibiza, o Mercedes de última geração, fui comendo as poupanças até me restar apenas a magra pensão da segurança social.
Continuo a vestir-me todos os dias com as roupas de alta costura que procurei conservar. A minha aparência é impecável, faço questão disso. 
Mas os únicos afectos que me restam estão nesta casa de 40 metros quadrados, com esta soberba varanda numa das ruas mais chiques do centro de Paris. Cultivo ervas aromáticas na varanda, para dar sabor ao que encontro para comer. 
A pensão de invalidez até agora dava para pagar a renda e sobravam-me 10 euros para o resto do mês. Mas agora nem isso, em breve vou ser despejada para uma habitação social, ou para um lar.
Todos os dias me visto impecavelmente e pego no carrinho de compras. Nas caixas do lixo das grandes superfícies encontro restos de batatas, cenouras, legumes amarelados, com isso faço sopas e alimento-me. Nos dias mais felizes encontro um pacote com chá. Carne deixei de trazer, ia morrendo intoxicada pro causa de um pedaço de carne que trouxe há uns meses. 
Já tive que curar uma pneumonia, não sei bem como. Nas ruas de Paris faz muito frio de Inverno e eu tenho que ir aos caixotes do lixo diariamente para me alimentar. Tenho que chegar antes dos homens do lixo, para não passar fome. Muitos já me conhecem e são amáveis comigo, ajudam-me a chegar mais ao fundo para procurar qualquer coisa a que não chego com a minha baixa estatura.
Só a minha vizinha sabe. Ela também vive sozinha. Às vezes faz-me um bolo, para além de me arranjar o cabelo.
O resto do dia passo-o a ler os livros que conservo, releio muitos. Ou então vou para a varanda, tratar das minhas ervas aromáticas. Converso muito com elas.
Tento não pensar no amanhã, quando vier a ordem de despejo, já devo rendas há mais de seis meses.
Esta casa e eu somos uma só. Dói menos se não pensar no que aí vem. Dói menos se assim o desejarmos.