Ela não pode namorar,
Nem mesmo sendo o aniversário dele.
No dia dos namorados,
Ela vai até ao mar
Com pétalas no regaço
E um olhar já muito baço,
De quem vêm mal
Nos seus 77 anos,
Entre lágrimas contidas
E cataratas.
A Filha vai com ela
Num cortejo solitário.
Leva pétalas numa mão
E agarra-se à Mãe
Num abraço.
O choro convulsivo da Filha
Contrasta com a dor contida da Mãe
E mistura-se no sal do mar.
No dia dos namorados,
Ela só pensa Nele
E na Mãe,
Que não quer perder
Para os deuses
A Mãe é dela.
Já lhe levaram o Pai.
No dia dos namorados,
Elas, lentamente,
espalham pétalas de rosa
vermelhas
espalham pétalas de rosa
brancas
Num tapete
Que as ondas,
A espumar,
Arrastam violentas
Como arrastaram as cinzas dele
Naquele dia de nortada em Agosto,
Feriado de Nossa Senhora da Assunção
No dia dos namorados,
Talvez o céu se abra
E elas possam, ao menos,
Cantar-lhe os parabéns,
Como sempre fizeram.
Basta quererem.
No dia dos namorados,
Um brinde, com vinho maduro tinto
Ao marido, ao pai,
Aquele que nunca esquecem,
Entre lágrimas, sorrisos e risos
Numa ordem aleatória de repetição.
No dia dos namorados,
Ele estará sempre vivo
Enquanto a memória delas
O quiser!
E quem ousa garantir
Que Ele não estará
A festejar o seu aniversário
Com os Outros
E a fazer um brinde etéreo
a Elas?
1 comentário:
Só se ama verdadeiramente os mortos.
Só se ama verdadeiramente os vivos.
Só se ama verdadeiramente a memória, as partes da memória menos nítidas.
Só se ama verdadeiramente as rosas, as ondas e as palavras com dias numerados.
Às vezes não acreditamos que amamos e nos amamos apenas por distracção. Ou porque temos medo.
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