Atava-a pelos ombros, impedia-a de continuar a carregar pratos da cozinha para a sala, ela brusca , sacudia-o.
- Eu voto em quem quiser. O voto é secreto!
- Mas minha filha, tu se calhar vais fazer asneira, tu não entendes bem as coisas, há uma grande responsabilidade no voto.
- Ora, cala-te, respeita-me. Já te disse que o voto é secreto.
- Mas Neves, tu minha filha não percebes bem as coisas.
- Não gosto desse aprendiz de Salazar, vou votar em quem quiser!
Desconsertado, desistia por minutos, sentava-se na mesa e meditava nova estratégia, terminado o almoço e depois da tentativa frustrada de tentar convencer os 6 filhos a votar no Professor Cavaco Silva e ter recebido todo o tipo de insulto irónico e conotações ao fascismo, ajudava-a a levantar a louça. E recomeçava-a.
- Vamos Neves, deixa isso, eu levo-te.
- Deixa-me já te disse, eu vou sozinha, combinei com a Estefânia e vamos as duas votar.
- A Estefânia vota?! Que desgraça, então eu levo as duas.
- Vamos muito bem a pé, obrigado.
Restava o neto para o acompanhar. Foram a pé, lentamente, na expectativa de encontrar as mulheres, que eram maluquinhas e não percebiam nada do que era melhor para Portugal, muito menos ela de esquerda, que se esgueirava com as amigas para os encontros onde os punhinhos conspiravam contra a nação.
- Desculpa Pereira, mas o menino não pode entrar contigo.
- Ó Pacheco, que mal faz, é uma criança, deixa-o ver como se faz isto.
- Ó Pereira, não pode, caralho.
- Vai-te Pacheco, é uma criança.
Cavaco ganhou. O Pereira foi comemorar, o Pacheco veio busca-lo.
- Vê senhora Neves, ganhamos!!!!
- Ó Pacheco, não percebo nada de política, votei por obrigação!
- Ó Pereira, ouves isto?!
Passados uns anos, noutro almoço de Domingo, Pereira de rosto em baixo, recebia novos insultos, comprimia os lábios, não percebia onde haviam falhado aqueles rascas da ponte, aquela juventude, da qual faziam parte os filhos. A crise mundial dos anos 90.
Nunca mais se livrou do epíteto de fascista, ele e o neto, o seu aliado, o pequeno fascista que tocava na flauta o grande hino dos sociais democratas. - Para guiar os ratos! - Como dizia a Neves cor-de-rosa secreta, por causa desses bombistas laranja que depois não vendem à gente uma campa no cemitério. Depois da morte do Pereira tornou-se Social Democrata por sucessão no lugar da mesa ao Domingo.
- Já fui cavalo encantado, agora indiferente, pouco atraente, calado, pesado, Ei! Ei! Ei! - Descarreguem gratuito e legal, electrónica cá da terra - A CHARANGA! Bom voto!
2 comentários:
Votos de boa saúde e feliz Páscoa. E para mim tb.
Baixa a musica Mofina vais adorar
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