quarta-feira, 28 de outubro de 2009

IKEA, por Ricardo Araújo Pereira


IKEA - Ricardo Araújo Pereira

Não digo que os móveis do IKEA não sejam baratos. O que digo é que não são móveis. Na altura em que os compramos, são um puzzle. A questão, portanto, é saber se o IKEA vende móveis baratos ou puzzles caros. Os problemas dos clientes do IKEA começam no nome da loja.Diz-se «Iqueia» ou «I quê à»? E é «o» IKEA ou «a» IKEA»?São ambiguidades que me deixam indisposto. Não saber a pronúncia correcta do nome da loja em que me encontro inquieta-me. E desconhecer o género a que pertence gera em mim uma insegurança que me inferioriza perante os funcionários. Receio que eles percebam, pelo meu comportamento, que julgo estar no «I quê à», quando, para eles, é evidente que estou na «Iqueia».As dificuldades, porém, não são apenas semânticas mas tambémconceptuais. Toda a gente está convencida de que o IKEA vende móveis baratos, o que não é exactamente verdadeiro. O IKEA vende pilhas de tábuas e molhos de parafusos que, se tudo correr bem e Deus ajudar, depois de algum esforço hão-de transformar-se em móveis baratos. É uma espécie de Lego para adultos.Não digo que os móveis do IKEA não sejam baratos. O que digo é que não são móveis. Na altura em que os compramos, são um puzzle. A questão, portanto, é saber se o IKEA vende móveis baratos ou puzzles caros.Há dias, comprei no IKEA um móvel chamado Besta. Achei que combinava bem com a minha personalidade. Todo o material de que eu precisava e que tinha de levar até à caixa de pagamento pesava seiscentos quilos.Percebi melhor o nome do móvel. É preciso vir ao IKEA com uma besta de carga para carregar a tralha toda até à registadora. Este é um dos meus conselhos aos clientes do IKEA: não vá para lá sem duas ou três mulas. Eu alombei com a meia tonelada. O que poupei nos móveis, gastei no ortopedista. Neste momento, tenho doze estantes e três hérnias. Éclaro que há aspectos positivos: as tábuas já vêm cortadas, o que é melhor do que nada. O IKEA não obriga os clientes a irem para a floresta cortar as árvores, embora por vezes se sinta que não faltará muito para que isso aconteça. Num futuro próximo, é possível que, ao comprar um móvel, o cliente receba um machado, um serrote e um mapa de determinado bosque na Suécia onde o IKEA tem dois ou três carvalhos debaixo de olho que considera terem potencial para se transformarem numa mesa-de-cabeceira engraçada. Por outro lado, há problemas desolução difícil. Os móveis que comprei chegaram a casa em duas vezes.A equipa que trouxe a primeira parte já não estava lá para montar a segunda, e a equipa que trouxe a segunda recusou-se a mexer no trabalho que tinha sido iniciado pela primeira. Resultado: o cliente pagou dois transportes e duas montagens e ficou com um móvel incompleto. Se fosse um cliente qualquer, eu não me importaria. Mas como sou eu, aborrece-me um bocadinho. Numa loja que vende tudo às peças (que, por acaso, até encaixam bem umas nas outras) acaba por ser irónico que o serviço de transporte não encaixe bem no serviço demontagem. Idiossincrasias do comércio moderno.Que fazer, então? Cada cliente terá o seu modo de reagir. O meu é este: para a próxima, pago com um cheque todo cortado aos bocadinhos e junto um rolo de fita gomada e um livro de instruções. Entrego metade dos confetti num dia e a outra metade no outro. E os suecos que montem tudo, se quiserem receber.
(agradeço o envio a Claras)

6 comentários:

Blimunda disse...

Ah grande RAP...

É por essas e por outras que esta menina nunca pôs os pezinhos no I quê à ou Iqueia se preferirem, nem tem o menor desejo de o fazer nos seus próximos 500 anos de vida.

Blimunda disse...

Amiga, estou feliz por não teres quinado. À séria, ok?!

saphou disse...

Mas estou péssima.Nem sei se consigo fazer o turno até ao fim hoje.

Blimunda disse...

Mas estás de turno? Agora?

Taxi Driver disse...

Muito bom!
E também se percebe pelo texto que o RAP não é definitivamente o handy-man lá de casa! LOL!

LAPAROTO disse...

A IKEA, é um moviflor, conforama, mestre mako, aki, com mais publicidade e capital "persuasivo" (untador?), design nórdico.
Suspeita-se - ou presume-se - algum controlo de qualidade, reconhecido worldwide.

Ou seja: merda com toneladas de marketing e "money pressure"