sábado, 31 de outubro de 2009

Hoje

só os meus mortos me rodeiam. Há uns anos atrás, mascarava-me com os miúdos e íamos de porta em porta pedir doces ou pregar partidas aos sovinas. Esse tempo já era. Abro as janelas na noite, deixo a casa escura, acendo velas com odor a verbena. Os meus mortos estão cá todos e gostam de sossego. Eles e eu. Todos os vivos partiram. Mas quem é que precisa dos vivos? E será que os vivos estão vivos? Os mortos não estão mortos, em biologia o nada não existe. Com os meus mortos tomo um chá. Conversamos sem mexer a boca, choramos e rimos sem mexer o rosto. Pena que eles tragam atrelada a Saudade, uma gaja chata que estraga qualquer festa, uma penetra. De qualquer modo, falta pouco para o reencontro definitivo, por muito que o instinto queira procastinar. Raio-que-parta esta merda toda.

2 comentários:

privada disse...

Espero que me aconteça o mesmo, estou mortinho por saber quanto dura este governo.

mac disse...

Saphou, no dia em que se deixar de procastinação no que respeita à sua ausência, eu zango-me.
Oiça o seu instinto que ele sabe o que é melhor para si.