sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Conto de sexta-feira : " As Mulheres"

A mãe de Rita esperava-as com a habitual liberdade histórica no olhar, na rua, numa discoteca, num café, na própria vida real, poderia ser irmã e não mãe de Rita.
Tal característica não serve para a distinguir, da maioria das mães dos anos 70, mais amigas do que educadoras, mais progenitoras do que fontes.

Ana e Rita partilhavam a história de um divórcio no seu passado, o deles, o dos pais hippies, do amor e da liberdade, da aventura e do ego. E havia milhares de jovens como elas e outros milhares a fazer o que os pais das duas fizeram.
Dessa experiencia resultou para as duas, uma premissa, que depois de assumidos os votos de casamento, em consciência, estes serão inquebráveis, trata-se de um juramento sobre a terra e o céu e quem não estiver cônscio disso, deve celebrar a união com festas menos comprometedoras.

Será que essa odeia era o julgamneto directo aos pais, pelo desapego à religião, pela leviandade com que fizeram promessas a si próprios, aos amigos e ao universo; podia esta geração pós-moderna fazer tal coisa?
Por estranho que pareça, a marca da geração auto-didacta de sentimentos, era precisamente a dúvida, a duvida entre a ânsia de desculpar o sentir com a razão, e a razão, que não desculpa a falta de sentir.

Em consciência tinham relegado, até à altura, tais votos. Ana tremia sempre que era obrigada a testemunhar a leviandade dos amigos no altar, a prometer fidelidade, amor e compreensão, muitas vezes apenas iludidos pelo sexo, esse tal factor, que de tão instável e humano, não pode ser critério base de promessa eterna.
-“ Desconfiem sempre de quem vos promete o amor eterno, na cama” – Esta geração era afinal, em alguns pontos, mais Salazarenta que os fieis de Fátima.

A força das mulheres da geração de Rita e Ana, vinha do arraso que as mulheres dos anos 70 tinham dado nos homens da época, deixando-os a penar pelos cantos, a engolir o divórcio e a solidão, com garrafas de tinto e whisky.
Foi com certeza um grande golpe e por isso, aquelas mães mereciam sempre o abraço camarada da filosofia social e política, e muitas vezes só isso, a gratidão pela liberdade, pela força, pela luta que continuava a ser preciso empreender. Mulheres fortes não precisam de carinho, nem dos filhos. As heroínas são para ser descritas e não amadas, idolatradas e não beijadas.

Mas, Ana tinha um filho, Rita tinha um sobrinho, pensavam e discutiam muitas vezes a sua educação, sempre com base nesse exemplo, acrescentando beijos e carícias, lançando o boomerang, mas sem conseguirem também elas evitar o epíteto de heroínas, e caminhar a passos largos para uma razão sem sentimentos assumidos, para uma solidão conscienciosa, como o elefante memorioso que se afasta dos seus para partir.
Se bem, que todas as partidas são afastamentos, e as mulheres deste e do outro tempo queriam fazer as contas no fim, como se figura-se a ideia que as heroínas são eternas e que haveria tempo para decidir o que acrescentar à luta e passar o testemunho aos seguintes, sem sentir o egoísmo das condutas filosóficas, que nos colocam nas guerras evolutivas que lutam contra as armas, que usamos nelas.
Eram demasiado jovens para ter certezas. A vida tinha que ser construída e, agora depois dos 30, nenhum passo mais poderia ser dado ao acaso, e esse seria o assunto para mais aquela noite de ébria reunião.

9 comentários:

Blimunda disse...

Desculpa amigo, mas ainda não tive tempo de ler o teu conto de hoje. O cxomentário que se segue não lhe diz respeito. É a resposta ao teu comentário do outro lado.

Para início de conversa, essa dos senhores defensores de Marx não me encaixa nem um bocadinho. Não que tenha alguma coisa contra a sua filosofia, mas única e simplesmente porque não se aplica no que eu acabei tenho vindo a escrever sobre este assunto. Quando digo que quem manda é quem tem o poder do dinheiro, refiro-me neste caso às entidades empregadoras, porque têm à sua disposição os meios para ditar a vida dos seus empregados. Se aceitas manténs o emprego se não, faço-te a folha e vais para o desemprego. Estou-me nas tintas para o “boom americano”, porque o que me preocupa aqui é a malvadez do tratamento desumano que se verifica nos nossos “bacocos”, como lhes chamas, empregados com poucas habilitações literárias e que por essa razão não sabem dos seus direitos e se submetem aos desmandos das pessoas que tendo dinheiro e não tendo dignidade não se coíbe de os coagir, chantagear e usar dos mais repugnantes subterfúgios para levar a bom porto os seus propósitos.

Dizes que nunca ganhaste o teu pão aceitando corrupções. Qual é a novidade? Não esperas que te felicite por isso, pois não? É que não fizeste mais do que a tua obrigação. Eu também nunca o fiz e não vejo nisso motivo para levantar bandeiras. Deve ser assinalado quem o faz e não quem o não faz. Agora é muito fácil falar em ideais e em gente que se deixa levar quando disso não depende colocar em risco a alimentação dos próprios filhos. Diz-me tu, que tanto defendes uns em detrimentos dos outros, como é que alguém com 2 filhos a seu único cargo, poucas habilitações literárias, sem qualquer outra ajuda e com um salário de 500 euros pode enfrentar uma entidade patronal ameaçadora, colocando em risco a sua fraca estabilidade económica, simplesmente por usar do direito que a lei lhe garante de usufruir de 2 horas diárias para amamentar a sua filha de 1 ano. Como pode alguém nestas condições não abdicar de ideais, caso tenha uma noção de ideal?

Blimunda disse...

Já li. Pergunto-me porque razão serão as reuniões daquelas jovens heroínas sempre ébrias?

Por estranho que pareça, a marca da geração auto-didacta de sentimentos, era precisamente a dúvida, a duvida entre a ânsia de desculpar o sentir com a razão, e a razão, que não desculpa a falta de sentir.

Aqui está o erro fatal. Os sentimentos não se aprendem nem se razoabilizam, amigo.

Tem um bom fim de semana e trata de curar essas enxaquecas. Não te esqueças que os amigos trocam ideias, não discutem, ok?! :-)

privada disse...

Mas não discuto, apenas acho ke há boas e más empresas, bons e maus empregados.
Tu conheces gente ke foi abusada, mas tbm conheces gente ke vive de indmenizaçoes e fundos de desemprego. Portanto generalizações é mau inicio de conversa.
Olha amiga agora tenho ke vazar, bejs

saphou disse...

Acordo da siesta tardia e deparo-me com isto?' Estou fora.que passa?

saphou disse...

Inteirei-me. Eu até já disse cá em casa, ao almoço, um fim de semana qualquer, que a TPM não me deixa mentir, que isto se resolvia tudo era com uma bombas, granadas e rajadas de G3. Uma limpeza. Ficou tudo de boca aberta a olhar para mãezinha, supostamente da geração de 80, com resquícios de 70.

saphou disse...

E uma bela entrada nos 90.

saphou disse...

Sim, porque é que as gajas estão sempre bebadas? Manda-as para os alcoolicos anónimos no próximo conto. É uma sugestão.

Privada, o bacoco disse...

Oh pa Saphou, tava inspirado, mas depois ouvi aquilo dos rendimentos da Ana da aventura, perdi a motivaçao.
Tamos a discutir economia, como kem discute futebol, vais ver como ainda vamos motivar claques

cousas que hão sido ditas disse...

"Desconfiem sempre de quem vos promete o amor eterno, na cama”


A D. João III que ameaçava casar com uma mulher, sua amante, por que lho jurara, lembrou um aúlico:
- Olhai Senhor, que juras de foder non son pra creer.