segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O tempo em que festejamos os anos do Privada

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...Nem o acho...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas,
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que, meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for. Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

"Aniversário" , Fernando Pessoa

13 comentários:

Mofina disse...

Happy New Year!!!!!!

Não, não há engano.

Feliz Navidad...

Bjussssss

privada disse...

Ei, na moche.
Foi forte, obrigado Saphou, não tenho palavras, parece exactamente o que eu sinto, incrível. Vocês vão embebedar-me logo de manha.
Muito obrigado, sou mais feliz depois disto.
Thank you all!

Espero que este ano, compreenda finalmente o que faço aos 30, tem sido uma era estranha, uma das fases mais bucólicas da mente. Ainda bem que vos encontrei sinto-me menos disforme, e por consequência mas feliz, mas é uma felicidade estúpida, completamente aparvalhada.
Obrigado beijos

saphou disse...

Privada, foi a Blimunda. Eu ainda não me refiz.
Parabéns meu querido amigo virtual desejo-te tudo de bom. E desejo que se festejem sempre os teus anos, sempre...
Então Blimunda dos meus encantos, vamos lá a subir. Ajuda-me. Subimos as duas...

Blimunda disse...

Eh pá, espera até chegares aos 40 que então é que vais ver o que é que é viver uma era estranha. Tenho pena de não ter conseguido ser suficientemente visionária na década crucial dos 30. Para mim é a década que determina a forma como viverás o resto da tua vida. Comigo foi assim. Amigo, faz o que tens a fazer nesta década porque na seguinte pode ser tarde demais e podes sentir tantas dores que não terás força senão para continuar a desculpares-te pelas borradas feitas.

E já agora, obrigadinha :P e beijos para ti também.

Privada, o bacoco disse...

Obrigado Bli, notavel a escolha, já imprimi, estou aqui a colar na minha parede, desculpa ter confundido, nao tou bebado de alcool, ainda, mas ja começou o delirio, a poesia, embriaga mais.
Beijos, Beijos, Beijos

Blimunda disse...

Bora lá amiga! É que quando é para cima é sempre a abrir. PQP as tristezas e desencantos! Estamos aqui e vivas e belas e fortes. Tentem derrubar-nos, vá lá, tentem. Privada, trouxe ovos moles e pão de ló de Ovar para a sobremesa. Ah e já mandei fazer um bolo com a linda foto daquel "Contrutor" e never more "trolha".

saphou disse...

Ó privada e eu não levo beijos? Olha a ciumeira. Isto ainda dá molho!

saphou disse...

E a Mofina, que ainda se amofina, e foi primeiros?

Blimunda disse...

Vou chamá-la. Mofiiiiinnnnaaa

privada disse...

Esta idade é uma moca, que raio de moca mais desafiante. No fundo estou a adorar, tenho é o palpite, que me vou esborrachar todinho, mas isso é o peso da relegião, não podes ser feliz aos 30, e nao sou, mas é muito divertido não ser e não saber.

Dantes via tudo, claramente, não perguntem o que via, mas via, agora é mais difícil, não se vê assim fácil, não vejo nadinha, tenho que estar ali concentrado, penso, repenso e não faço nada.

Não há conjunturas sociais, não há preconceitos, não há nada a ditar regras e para a minha geração assim é difícil, era mais fácil quando os outros impunham as condutas e escolhas, que se podiam quebrar ou não . Agora as quebras e escolhas são só connosco, tá foleiro isto para a minha gera, nao tamos a ver o k inventar.

Mas é fixe, é extraordinário, a minha mente completamente cega, e vira que vira e nada. :-))))

Se chegar aos 40, vou-me matar de rir, é uma fase suprema , espero ke a dos 40 ainda me desafie mais, essa é onde me vou apaixonar por miudas jovens, certo?

Amil Neila disse...

Belas fotos.
O meu Porto.
Já me orgulhei tanto do meu Porto. Já tive tantas saudades dele, e acabei por sair numa fase de desilusão e descrença. E agora que cá estou e vejo essas imagens aqui ou na têbê (interncional), sinto tanto aquela beleza do Douro, da ribeira, das pontes...
Parabéns, também estou na idade de Cristo. Não há-de ser nada

saphou disse...

Duas de 20 Privada.

privada disse...

O Porto está melhor Amil não é seguro que continue nesta rota, mas é uma diferença notavel.

2 de vinte tbm serve, conto com a tua ajuda e experiencia Saphou. Bjs