segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Desperadamente à procura do ano que passou

Visitar os amigos de Liceu

a) O abraço dissipou 10 anos de afastamento, tudo igual, aquele à vontade que só se obtêm nas amizades do liceu. Ela tinha agora 3 filhos, que pareciam bonecos de desenhos animados, um marido com um copo de whisky na mão em frente ao LCD, um trabalho além fronteira. Abraçou os meninos como se fossem dele, deixou-lhe uma nota de 50 euros, quase uma retribuição pelos 5 contos que ela lhe deixou antes de partir com aquele mesmo marido, para lua-de-mel em Amesterdão. Ela aceitou, ele prometeu que voltava. Riram, riram sempre.

b) A Titá era agora agrónoma, de camisola pegajosa e ainda com picos do mato, abraçou-o quase a ponto de o deixar sem respiração, o mesmo à vontade. Chorou compulsivamente e disse que o pai morreu. Também o dele, mas ele não chorava assim. Ela tinha tratado do pai até ao fim. A mãe estava finalmente tratada daquela melancólica depressão, que tanto trabalho lhes dava na adolescência. As irmãs gémeas estavam em Lisboa e ela ali, o marido gostava da quinta e ela gostava também. O filho, inquieto com o visitante de óculos de sol enormes, que lhe ofereceu um Ferrari amarelo em miniatura. Despediu-se e prometeu que voltava.

A nova casa, um novo local, uma nova vida

c) Decidiu finalmente a casa que ia adquirir, onde iria viver, mudar mas continuar no Porto, no meu Porto, repetia. O jardim à Poe, o azulejo de Stº António, a cave. Comprou. Foi roubado 6 vezes. As obras ainda decorrem, mas ele não voltou para as conferir.

Compromissos familiares

d) Encomendou um arranjo para o pai, com flores amarelas. Foi ao cemitério e ainda que estranhasse a falta do livro e das letras, pensou que algum daqueles familiares cismáticos o tivessem mandado retirar e pôs as flores ali, flores que envergonhadamente recolheu, depois de no caminho de volta ter encontrado a verdadeira sepultura eterna.
e) Participou em encontros promovidos pela família, como há muito não fazia. Pareciam agora respeitá-lo tanto que pouco se importaram com a estranheza da sua presença e, pior do que isso, a sua pontualidade.

Novas descobertas
f) Fez uma nova amizade, com uma rapariga que parece também estar a viajar à procura do seu lugar no universo.
g) Espatifou o carro contra o da vizinha, que parecia transfigurada num anjo exclusivamente preocupada com a cor da tez dele.
h) Leu mais do que nunca, leu, leu e continua sem encontrar resposta. Vai mais uma vez de férias, desta vez para sítios habituais, vai à procura de algo que perdeu. Como aqueles 200 euros que meteu num livro qualquer, que agora não aparece.

6 comentários:

Mofina disse...

Fico deprimida com tudo, as amizades do liceu e essas cenas de crianças com jardins e livros com letras. Se pudesse, ia-me embora.

saphou disse...

Bora pra Finlândia?

Minnie disse...

Nós somos o que somos porque o nosso passado assim nos fez. Gosto de lembrar o passado, o bom passado, pois ajuda-me a viver o meu menos bom presente.

Minnie disse...

Hum! O Privada, afinal, além de espanhol tb percebe português!...

Minnie disse...

Saphou, não acha que era melhor um país mais quentinho? Bem, dizem que a Finlândia só tem coisas boas, como o sistema de ensino, por exemplo. Os nossos governantes é que podiam ir para lá! Podia ser que aprendessem alguma coisa ou que congelassem os neurónios de vez e deixassem de fazer asneiras.

saphou disse...

Mas tem spas tropicais e sem gente Minnie.