terça-feira, 28 de julho de 2009

O melhor retrato da Hipocrisia

Compor a candura com os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, pôr açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter olhar próprio, nada é mais difícil, nada é mais doloroso.

O odioso da hipocrisia começa no hipócrita. Causa náuseas beber perpetuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna o próprio hipócrita, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjoo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é horrível. Juntai a isto o profundo orgulho.

Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor.
O verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se. O traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel.
É a mesquinhez capaz da enormidade. O hipócrita é um titã-anão.
Vitor Hugo
Se a Blimunda se antecipa com o Shakespeare, só nos resta o inferno do Vitor Hugo

1 comentário:

Blimunda disse...

Vitor Hugo ganha desmesuradamente. Pelo menos aqui!