terça-feira, 31 de março de 2009

Era vê-los em fila

ordenada, velhos, novos e assim assim, homens, mulheres e assim assim, numa impaciência de quem queria estar em casa, mas que tinha que estar ali. Eles engravatados e com ar de quem sabe e elas de fato e saltos altos, também com aquele ar de quem sabe. Basta estar circunspecto e calado para dar o ar de quem sabe. Afinal, eram dez horas da noite e provavelmente queriam ir ver "O dia seguinte" ou o "Prolongamento", as novelas das 10h, das 11h e das 12h ou, os mais masoquistas, a Fátima Campos Ferreira, irmã da Amélia.
A fila era interminável, porque o auditório não chegava para tanto advogado, advogado estagiário, solicitador, solicitador de execução (que hoje acordou agente de execução) e afins.
As novas regras da Acção Executiva entraram hoje em vigor. Em jeito de desatino tragicómico, todos se foram informar à última da hora. O que é muito português. Mas a questão essencial (JPP) é que nem o realizador, o encenador, ou o coreógrafo, nem qualquer dos actores entendeu ainda as novas regras. Por isso, é difícil explicá-las, e no limite do tempo.
O sistema entra em vigor, ninguém sabe como, só sabe que é hoje. À última da hora os afectados tentaram esclarecer-se, para dar ao cliente o ar de quem sabe na hora de abrir a boca. O próprio orador expressou as dúvidas existenciais de como é que o sistema informático estaria hoje preparado para aquilo. Parece que só se fizessem horas extra pela madrugada.
Uma coisa é certa, o exequente passa a ter plenos poderes. Venham os bancos, venham as seguradoras, venham as empresas de leasing, venham os grandes não tão grandes assim, arrasem com o devedores de vez, sem qualquer princípio da imparcialidade a atrapalhar a coisa. Ou ainda não entenderam que estamos a transitar pacificamente para a ditadura de Sócgates, que aprendeu tudo na Venezuela... O vendedor de "Magalhães" ainda se arrisca a ganhar as eleições por falta de oposição convincente. Depois, é só tornar os mandatos renováveis ad eternum.
Nada mudou desde a "Campanha Alegre" de Eça. Continuamos um país governado por imbecis. Provavelmente, porque somos um povo de imbecis, a começar por mim que me dou ao trabaho de escrever esta treta. Quem quiser que corrija as gralhas.

5 comentários:

redonda disse...

Um bocadinho pessimista, não?
Com um pouco de sorte pode ser que funcione tudo.

100anos disse...

Olhe, Saphou, estou de acordo com o tom geral das suas considerações, excepto a última sobre V. poder ou não ser imbecil.
V. não pode, por definição, ser imbecil, sabe porquê ?
Porque um imbecil será sempre incapaz de se questionar a si próprio.

mac disse...

Ora Saphou, tenha dó, que o mal nunca na vida foi do sistema informático. Se calhar é mais dos informáticos do sistema... Que por sua vez dependem de outrém(ns)...
Cruz, credo!

hashre disse...

A saphouzinha disse que o mal é da merda do governo e do legislador, não dos coitados dos informáticos que ainda têm que fazer horas extraordinárias para satisfazer a socrática autoridade da treta.

saphou disse...

Mac, creio que não me expliquei bem. Os informáticos não têm qualquer responsabilidade. As leis é que são cadavez piores, a ponto de ninguém as entender, nem os que têm que trabalhar diariamente com elas. Nunca se legislou tão mal e tão à pressa, para mostrar serviço ao chefe...