quarta-feira, 21 de maio de 2014

Entre o empreendedorismo e a burla, ou emprestem-me duas crianças determinadas e encantadoras, de preferência, ente os 5 e os 7 anos

Entre o empreendedorismo e a burla, ou emprestem-me duas crianças determinadas e encantadoras, de preferência, ente os 5 e os 7 anos

Naquele Domingo solarengo de Maio, em que os encarnados festejavam a Taça e a triplete (seja lá o que isso for), e Nadal perdia em Roma, ela sentia-se esgotada, como se lhe tivessem sugado a energia. A razão, não sabia, talvez vampiros invisíveis a tivessem atacado, ou estivesse rodeada de uma família sugadora, talvez o cansaço acumulado da semana, talvez o facto de ter cozinhado em demasia para todos (desde cogumelos a bifes-pimenta, passando por esparregado, batatas cozidas em rodelas e depois assadas no forno com alho, à sopa e ao crumble de maçã), talvez o facto de ter estado a ler aquela tese de letras minúsculas quando tem vista cansada, talvez televisão a mais....talvez....
O que é certo é que sentiu que tinha que caminhar, respirar o ar da praia, sentir o cheiro a maresia, sair dali, libertar-se....
Primeiro, custou-lhe caminhar. O coração, acelerado, obrigava-a a ir mais lenta, mas "caminando se hace el camino" e quanto mais caminhava mais energia sentia....
Passou junto ao bar da praia onde sempre gosta de ir nas horas livres, mas o objectivo não era ficar ali, era sentar-se nos rochedos que conhece de cor, naquele que parece um sofá aquecido pelo sol, para meditar e respirar o pranayama junto do mar, mesmo onde leva com os salpicos salgados, até ao pôr-do-sol.
Ao passar pelo bar, na zona onde o cimento já não permite cadeiras, foi interpelada por duas crianças, ela de térérés, mais dinâmica, ele menos concentrado e mais pequeno.
- Quer comprar as nossas pedras espirituais?
E reparou em conjuntos de godos, alinhados por cores e com etiquetas: os brancos eram o "clarear da lua", os amarelos, a "estrela luminosa", os alaranjados, "o fogo ardente", os castanhos "terra mãe", os cinzentos "melhora o astral", os pretos "magia africana", e por aí fora....
-Temos vários preços, continuou, desde 25 cêntimos a 50 cêntimos, até 1 euro!
Cada côr tem uma propriedade.
-Agora não tenho dinheiro, porque só trouxe o telemóvel comigo, mas até que horas estão abertos?
-Não sei, respondeu. Ele voltou em círculos e ela perguntou ao sócio.
- Estamos aqui enquanto os nossos pais estiverem na esplanada, talvez mais duas horas.
-Então fazemos assim, alinhei, se eu passar por aqui mais tarde, vou a casa buscar dinheiro e compro uma pedra espiritual das vossas, talvez o "fogo ardente", estou indecisa....
E continuou, divertida, para o seu sofá rochedo aquecido, rodeada de pedras espirituais por todos os lados, que tem o hábito de apanhar e trazer para casa, há muitos anos. Em jarras de vidro ficam belas....
Cerca de uma hora depois, a energia retornara toda e começou a apanhar godos, como sempre faz, procurando as cores e formas mais perfeitas. E trouxe pedras espirituais na mão, para juntar à fortuna que ja tem em casa.
Os vendedores continuavam lá, ao longe.....
-Que ideia mais gira, pensou num sorriso, vou pedir duas crianças emprestadas,determinadas e com uma beleza que convença os compradores potenciais. Alguém lhe empresta duas crianças encantadoras numa tarde de sol?
É que nem o professor Caramba descobriu este nicho de mercado. Há que ir para uma zona longe das praias e baixar os preços. A estrégia da startup já está delineada. A mercadoria existe. Só faltam mesmo as crianças encantadoras, de preferência, loirinhas de caracóis, ou de cabelo preto e olhos azuis....

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