A vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida
Os corpos se entendem mas as almas não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Vou-me embora pra Pasárgada!
Aqui eu não sou feliz.
Quero esquecer tudo:
– A dor de ser homem...
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possuí.
Quero descansar
Humildemente pensando na vida e nas mulheres
que amei...
Na vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Quero descansar.
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.
(Todas as manhãs o aeroporto em frente me
dá lições de partir.)
Quando a Indesejada das gentes chegar
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Cada coisa em seu lugar.
Manuel Bandeira (1886 - 1968)
8 comentários:
Em que ano entre 86 e 68 terá o homem escrito isto? Longa vida teve a morte que esperar!
Era um ganda mentiroso, este. Já me cansa, ver tanta gente a chorar pela morte - caraças, chorem menos e deitem-se ao rio.
Se ao menos o gajo viesse ter comigo eu pregava-lhe uma piela das boas - passava-lhe logo a choradeira.
Será que na integração das lacunas da poesia também pode recorrer-se à analogia? Estava a pensar que, se assim fosse, a palavra estação (ao contrário da de aeroporto) daria para todo o tempo em que o Bandeira viveu.
A propósito da palavra "estação", cá vai uma história verídica: naquela localidade da zona Sul, entre o Alentejo e o Algarve, havia um sujeito que todos conheciam por "Comboio", por razões que sempre me escaparam.
Pois um dia o Comboio resolveu abrir um restaurante e sabem que nome escolheu para o dito ?
Exacto: "A Estação".
Ainda hoje existe e comem-se lá belos petiscos.
Tem alguém em casa?
Ná.
Acho que sairam todos.
Devem estar a regressar de Santiago, onde terão ido ver o Papa e comer umas tortilhas entremeadas com o velho pulpo em salada.
Que tanga Privada! As mulheres que amaste?!
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