Já vos falei da D. Rosa? Ela existiu, embora agora tenha algumas dúvidas.
- Trabalhar e poupar manda o Salazar!
E grande gargalhada, lembram-se disto? Mas, eu já vos contei.
Era aquela senhora que me garantia ter chegado ao Porto, vinda do Brasil numa barca, ela, o marido na cadeira de rodas, a cadela e o homem do leme.
- Mas uma barca era uma coisa muito avançada menino, a maioria chegava de carro de bois.
No dia 15 de Agosto de 1950, não se lembram?
Como é que vocês podem ter esquecido a D. Rosa?!
Quando o Ministério Publico ordenou à Cuz vermelha que a levasse ao Hospital, e ela regressou pelo seu próprio pé, galgou o muro de 12 metros, e quando deram o alerta do seu desaparecimento, argumenta:
- Mas menino, eu estive lá horas e não fui atendida. Vim embora, vou medir a tensão amanha, a que horas ia fazer o jantar? Gosto de comer cedo.
- D. Rosa, a senhora ainda me vai estragar a vida.
- Ah isso não menino, a minha maquina de fazer malha estragou-se, nunca mais encontrei peças para a arranjar.
Como é possível, não se lembram mesmo?
- Vá menino, entre, venha tomar um chá com a velha.
- D. Rosa, a senhora não tem água para fazer chá, já não tem sequer electricidade, e isto D. Rosa vai ruir, a senhora tem que sair.
- Oh menino, parece impossível, é chá de garrafa!
- D. Rosa então, atira com pedras aos homens, não vê que caem do andaime?
- Oh menino, não vê que eu não acerto.
- D. Rosa amanha, vem aqui umas pessoas e vão leva-la, para sua segurança, o vão de escada já caiu.
- Não se preocupe menino. Quinta-feira é que, se tiver força, devo ir ao Pingo Doce, amanha, pode vir, que eu estou por aqui.
Não se lembram da D. Rosa?
É pena, queria saber se a tinham visto, soube que saiu numa maca, só 2 pessoas se atreveram a entrar, foi hospedada num lar. A casa está quase pronta. E desta vez, queria assistir à sua chegada.
- Entraram por aí dentro menino, com aqueles fatos à Armstrong, veja só, disfarçados de americanos, como se eu não soubesse que eram todos comunistas, peguei naquele estadulho, e comecei a gritar:
Parai de roubar, trabalhar e poupar manda o Salazar. E olhe, não houve 25 de Abril.
- Oh D. Rosa vinham ajudar, são os senhores da emergência.
- Emergência, emergência, é viver a vida sem aparência. Venha menino, tome um chá com a velha.
2 comentários:
Mas quem é que não se lembraria da D. Roda? E o chá estava bom?
Mas que artigo fantástico, privada!
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