Foto de JVT do blog O blog que ninguém lê
Quando peguei na maçaneta amaciada, vivida por tantas mãos antes de mim o fascínio foi o mesmo que outrora tinha sentido. Rodei e a porta partida abriu-se chiando nos gonzos, qual moribundo. Andava sempre bem oleada, a madeira tratada agora ressequida, como eu.
Entrei num mundo de penumbra, vidros sujos e rachados, uma réstia de luz ao fundo que não encontrei quando saí. O calor lá fora quase frio cá dentro, o mesmo frio que senti quando a última vez a fechei. Vasculhei o passado sem me deter em pormenores, mas recordei a luz em que vivi durante alguns anos. Saí feliz. O tempo tinha curado.
Aos anos que lá não ia por não querer reviver a fuga dela. Abri a porta partida que chiou nos gonzos deixando-me espantado, sempre a tinha oleada, a madeira bem pintada agora apodrecida, como eu quando ela me deixou sem uma explicação. Entrei na casa suja, escurecida, uma réstia de luz ao fundo que não vi quando saí. O calor lá fora fresco cá dentro, vidros sujos e partidos que outrora jorravam luz. Não quis lembrar, já muita água tinha corrido. Saí sabendo que voltaria para a restaurar. O tempo quase tudo cura.
7 comentários:
Um texto muito lindo. Parabéns. Posso levar lá para onde ninguém lê?
Abraço e obrigado
JvT
Claro JvT! a fotgrafia é tua e obrigado
Já está!
Muito obrigado :-)
De repente, arrepiei-me. Adoro o que vem de ti. Tb tenho dessas maçanetas...ainda não as consegui rodar.
Belíssimo texto.
100anos
Deixando-me espantado...?
Marta, Saphou, eu sei que há 3 semanas que não dou uma para a caixa, mas esta morfologia espanta-me. De quem é o texto, afinal?
É meu Mac
Os homens ficam sempre espantados, mesmo depois de várias conversas, digo eu
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