Cruzavamo-nos nos corredores da escola duas vezes por semana: à terça e à quinta-feira, sempre à mesma hora.
Ele, recém chegado de Leiria, vinha buscar a Matilde, que tinha actividadas pós-escolares ao mesmo tempo que a minha filha. Eu nem sabia quem era, mas atraiu-me de imediato o charme, na forma de andar, nos traços finos do rosto, naquele sobretudo cinzento. Note-se que nem sequer pecava em pensamento, pois ele não era "a mulher do próximo" e defendo a interpretação literal dos Mandamentos.
Um dia, vi o mesmo rosto na televisão e fiquei colada ao ecrã. Ali estava ele, à frente do FCP. O patrão já me tinha dado um autógrafo, com um ar jocoso, uns tempos antes, na cerimónia de fim de curso da filha. Autografou-me o livro de "Direito das Obrigações", de Antunes Varela, Vol I, na falta de outro papel.
Naquela terça-feira ganhei coragem, quando nos cruzamos. Pedi-lhe, com a inocência mais sonsa do mundo:
- não se importa de autografar o livro dos trabalhos de casa da minha filha?
Ele, com aquele semi-sorriso lindo de morrer e chorar por mais, perguntou o nome dela e fez-lhe uma pequena dedicatória. Olhou-me pela primeira vez e devolveu-me o caderninho vermelho.
Nunca tinha ganho nenhum título, nem era o "Special One", era apenas um homem muito atraente.
Depois de Pinto da Costa, fui a primeira a reconhecer o valor de José Mourinho!
Já famoso pelas vitórias do Porto, deu-me outros autógrafos em eventos da escola, assinou a camisola do meu filho e dos amigos, bolas de ténis, tudo o que estava à mão. Todos os miúdos, sem coragem, me pediam para interceder por eles. Ele anuia simpaticamente, com aquele semi-sorriso.
Sempre guardo na lembrança, no entanto, a época em que eramos anónimos que iam buscar as respectivas filhas à escola duas vezes por semana. A minha atracção, nada platónica, data dessa época longínqua.
P.S.: Permitam que me gabe. Nem a Odette-de-Saint-Maurice teria escrito um texto tão piroso.
6 comentários:
Saphouuuuu, sua chique! Além de ter doenças com sotaque francês ainda se atreve a confessar que frequentou os mesmos corredores pós-escolares que o "Special One"?!!! Não posso!!! Agarrem-me que não me tenho! Esta mulher é uma açambarcadora de êxitos! E agora como é que faço para roer as unhas que não tenho?
Deixe-as crescer Blimunda, ou roa as de uma amiga! hehehe!
Por sua culpa já fiz dois golpes em dois dedos. Um em cada um para ser mais precisa....ainda sangram. Não se admite! Onde é que já se viu uma coisa assim? Ter tido direito a meio-sorriso do "The best" e não se lhe ter atirado aos colarinhos...Jasus!!!
E depois Blimunda? ainda era processada por assédio e as crianças expulsas da escola. E se o tipo, tão fiel à mulher, a rejeitava? Um trauma inultrapassável
Pois cada um recorda o passado à sua maneira, que me lembre e lembro-me porque ainda o tenho o sobretudo era castanho, mas pronto ok mulheres
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